terça-feira, 25 de dezembro de 2007

PÓLO CULTURAL RACHEL DE QUEIROZ



MEMÓRIA

Conheci a casa da escritora Rachel de Queiroz, na Cidade de Fortaleza, em 1966, era o Sítio Pici do Dr. Daniel de Queiroz pai da escritora, era lá que como adolescente continuava minha vida rural caçando, pescando e comendo frutas.
No final dos anos 70, foi feito o loteamento do Sítio Pici e a Imobiliária sensível ao patrimônio cultural da Cidade, deixou intacta aquela casa, porque foi lá onde a escritora Rachel de Queiroz iniciou os inscritos do Livro O Quinze.
Em 1983, as Comunidades Eclesiais de Base – CBEs, do Pici, na Paróquia do Henrique Jorge, levaram ao conhecimento do prefeito César Cal`s Neto através de documento, solicitando o tombamento da Casa e a construção de equipamentos culturais e esportivos nas áreas públicas e espaços vazios disponíveis ao redor da casa, que incluía a área institucional do loteamento.
Os anos passaram sem resposta e em 1986, novamente retomamos a discussão com a Administração Popular, da então Prefeita Maria Luiza Fontinele e essa em 1987, fez um decreto de desapropriação da Casa. No entanto lembro quando chegou às minhas mãos um ofício do Loiola, Superintendente da SUMOV, falando sobre o valor da desapropriação e solicitando que fizéssemos pleito junto à Prefeita sobre aqueles valores para a prefeitura pudesse efetivar o projeto de intervenção na área. As dificuldade eram tantas naquela gestão que o mandato terminou e o pagamento da indenização não foi efetivado, nem a gestão seguinte de Ciro Gomes prosperou na realização do projeto.
Em 1994, através da Associação de Organizadores Sociais e Serviços – AMORA levou o projeto para a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará – SECUT no mandato do Paulo Linhares e do Gov. Tasso Jereissate solicitando o tombamento da Casa Rachel de Queiroz, para ser usada como Biblioteca Pública, formação cultural e no entorno a construção do Pólo Cultural Rachel de Queiroz. A SECUT na época encaminhou uma equipe técnica do Patrimônio Histórico do Ceará, para analisar a possibilidade de tombamento e os técnicos avaliaram que devido algumas alterações na arquitetura original do prédio, não caberia mais tombamento e sim desapropriação por parte da Prefeitura.
Diante dessa orientação dada apenas oralmente pelos técnicos do Patrimônio Histórico do Ceará, em 1995 a AMORA continuou a luta e reformulou nova idéia para o projeto, que seria a construção do PÓLO CULTURAL RACHEL DE QUEIROZ em toda a extensão do Riacho Cachoeirinha, desde o João XXIII, Jóquei Clube, Henrique Jorge, Pici, Autran Nunes e Antônio Bezerra até o Rio Maranguapinho.
Desta vez, o pleito foi entregue à Prefeitura de Fortaleza, no mandato do Dr. Juraci Magalhães, que através do Secretário da Regional III, Dr. Petrônio, convocou a AMORA para ir in loco conhecer a área solicitada para intervenção desse projeto. Marcou-se a data e uma comissão formada pelo Presidente da AMORA Antônio Carlos Nascimento, Leonardo Sampaio, o arquiteto José Sales e Dr. Petrônio circulou toda a área, desde a Av. Parcifal Barroso, Campus do Pici-UFC, o Riacho Alagadiço, a Casa da Rachel de Queiroz, o Riacho Cachoeirinha e o encontro dos dois Riachos entre Antônio Bezerra e Autran Nunes. Na ocasião o arquiteto José Sales afirmava que estava elaborando o projeto Parque Ecológico no Riacho Alagadiço que vinha desde o Açude João Lopes até a Av. Perimetral entre a UFC - Campus do Pici e a Fábrica Cione no Antônio Bezerra. Aí o Secretário solicitou que o projeto fosse estendido para todo o percurso visitado. Após essa visita o Arquiteto José Sales ampliou o projeto e deu o nome de Parque Ecológico Rachel de Queiroz, absorvendo as idéias da AMORA de incluir espaços verdes, esporte, lazer e cultura. Mais o projeto gorou.
Em 2005, com o chamado da administração da Prefeita Luiziane Lins, para levarmos nossas propostas ao Orçamento Participativo e o Plano Diretor fomos lá, reanimar a idéia do projeto do POLO CULTURAL RACHEL DE QUEIROZ. A proposta do Pólo Cultural ficou entre as mais votadas no Orçamento Participativo (OP) de Fortaleza.
Em 2006, na assembléia do OP retomamos a proposta e posteriormente a AMORA e o Espaço Cultural Frei Tito de Alencar - ESCUTA formularam através de protocolo na SER III, documento delimitando os espaços e especificando os equipamentos que deveriam constar se caso fosse elaborado um novo projeto, que implica em: uma Biblioteca Pública na Casa Rachel de Queiroz e no entorno a construção de Anfiteatro, Quadras de Esporte, Cinema, Box para artesanato, Salão para exposições de artes, Auditório e um Quadrilhódomo (para realização de festivais de quadrilhas juninas da Cidade), podendo ser adaptado para outros eventos culturais em períodos além do junino.
Para tristeza nossa, na área do terreno público que fica no entorno da Casa, foram construídos por particulares nove lojas com duplex para alugar e ainda aterrando as margens do Riacho onde era o Açude do Sítio Pici, pertencente ao Daniel de Queiroz, lugar onde ela se inspirava para escrever a obra sobre a seca.
Essa história aqui relatada é pra justificar o quanto estas administrações tratam com desprezo, esse patrimônio histórico da Cidade que poderia ser de atração turística e de embelezamento, proporcionando qualidade de vida a seus habitantes. Uma intervenção urbanística desse porte seria o maior benefício feito nesta cidade, principalmente quando se trata de uma periferia onde tem a maior densidade populacional, sufocada sem espaço para manifestar suas potencialidades esportivas, culturais e de lazer.
Porém, nessa “administração bela” tem sido chocante o tratamento dado diante da agressividade de obras irregulares dentro desse patrimônio. As denúncias escritas levadas a SER III e ao próprio Gabinete da Prefeita, não impedem das obras irregulares avançarem como é o caso das lojas construídas em terreno do município que já estão até alugadas. Consideramos isso um fato grave, até porque precisamos saber como estas lojas são inauguradas se a Prefeitura tem que dar alvará e esse alvará exige o IPTU, além disso, como o terreno fica as margens do Riacho Cachoeirinha, precisaria de licença da Semam, Semace e até do CREA. Mas estas obras foram feitas sem nenhuma placa de licenciamento, mesmo ficando em uma Rua bem movimentada, a Mons. Hipólito Brasil, 980.
Chamamos atenção agora do Ministério Público para tomar alguma medida, inclusive fiscalizar os fiscais, porque o Secretário disse que isso acontece porque eles são corruptos.
Essa é uma história de antes e de agora um pouco de sistematização da memória da beleza dessa luta, pelo embelezamento dos nossos bairros da "Fortaleza Bela". É uma luta que nunca será abandonada por seus moradores, mesmo desprezada por seus administradores.
A nossa bandeira de hoje, em 2007, deverá ser de exigir que a Prefeita, os Senadores, Deputados e Vereadores negociem com o governo Lula colocando como prioridade de recursos para esta obra. Que ela seja inclusa no PAC para 2008.

Leonardo Sampaio
Educado Popular – Cel: 9111-8731
E-mail: leonardosampaio5@yahoo.com.br
Publicado no Site: www.inventarioambientalfortaleza.blogspot.com

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