quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Homossexualidade infanto-juvenil

Leonardo Sampaio
02/09/2012

Falar sobre diferenças no contexto escolar, consolidação de práticas, respeito, valorização da diversidade na perspectiva da educação em direitos humanos, é fundamentalmente necessário beber água na fonte onde as pessoas moram e vivem, ou seja, buscar conhecimentos sobre a realidade desse povo, que é o público alvo na sala de aula e na vida da comunidade escolar.
Partindo desse contexto, vou relatar fatos que me chamam atenção e me faz acreditar ser um fenômeno relacionado à homossexualidade infanto-juvenil e prostituição em uma mesma comunidade favelada de Fortaleza, envolvendo algumas famílias e um caso ligando a escola, uma professora e uma mãe.
As situações de diferenças que acontecem nessa comunidade são tão fortes e crescentes, que nesse espaço cabe apenas relatos. Acho mesmo que deveria ser tema de estudos mais científicos, na busca de entender as relações humanas que influenciam, as questões afetivas intrafamiliares, a questão patriarcal, matriarcal, desajustes nas famílias, o comportamento das crianças na escola e o contato extra família com a sociedade.
Desde que conheci essa comunidade nos anos 80, presenciei homossexuais adultos aparentemente bem relacionados com as famílias locais e também com as prostitutas profissionais que trabalhavam no centro da cidade. Já nos anos 90, vários deles/as passaram a ser portadores/as de HIV/AIDS e faleceram. Na década de 2000 surge o homossexual infanto-juvenil surpreendendo as famílias e chocando toda a comunidade pelo numero crescente e aí vem a questão moral, espiritual, discriminatória, afetiva e a influência na relação paternal, maternal com conflitos de culpabilidade, poder, frustração e a interrogação: Onde foi que eu errei?
Ao acompanhar essas famílias num trabalho voluntário como educador popular, um fato curioso, que me chamou atenção e passei a citar em vários momentos e lugares ao abordar o assunto, foi quando na distribuição de camisinha nessa comunidade em véspera de carnaval, várias crianças também queriam e fiz uma pergunta a elas: Pra que vocês querem? E a resposta foi em coro. “Pra comer o ..., aí citaram o nome do homossexual adulto assumido na comunidade. Após algum tempo desse fato, começo a perceber que aquelas crianças assumiram o homossexualidade.
Na escola dessa comunidade, uma professora começou a perceber os gestos homossexuais de um aluno de sete anos e convidou a mãe para conversar sobre o assunto, à mãe reagiu e fez escândalo com a professora, voltou pra comunidade e disse que o filho estava sendo discriminado na escola e ela desabafou em cima dessa professora. A criança foi crescendo e a mãe foi percebendo, mas nunca acreditando que era verdade, achava que depois dos 18 anos, ele mudaria o jeito afeminado, ela em vez de aceitar e acolher recriminava e confrontava rejeitando que o menino assumisse a homossexualidade e partia para a ameaça e violência, até que um dia flagrou o filho fazendo sexo oral com um homem adulto, deu-lhe uma surra e disse que não queria filho viado, daí quando caiu à ficha o outro filho mais velho também havia feito à opção homossexual. Foi aí que a situação piorou, como ela não aceitava, findou saindo de casa e o drama se agravou em relação a ela, enquanto que os filhos encontraram namorados e convivem naturalmente.
Hoje a mãe reflete sobre o que a professora quis dizer, mas naquele momento na sua imaginação, jamais uma criança naquela idade teria qualquer extinto sexual.
Podemos tirar desse fato, o quanto seria importante à escola tratar sobre a questão da sexualidade, já no ensino fundamental infantil, haja visto que, se essa mãe tivesse passado por essa formação, não teria tratado o professora da forma como fez e sim se preparar para aceitar a opção sexual do filho.
Esse fato relatado, hoje, é corriqueiro na comunidade e as pessoas já não acham absurdo como antes, apesar dos cristãos pentecostais discriminar e tratar como coisa do fim dos tempos, como se as diferenças e opção sexual fosse de agora. O que de fato mudou foi à liberdade das pessoas se exporem e expressar sua vontade.
Imagino como ficou essa professora no dia do desabafo escandaloso da mãe.
Será que ela sabe o destino dessa criança hoje? Como reagiria com essa mãe, ao vê-la agora? A mãe mostra arrependimento, pelo que disse com a professora.
Um novo encontro poderia ser um momento da desculpa e do perdão, quem sabe não acontecerá.

Projeto Político Pedagógicoa na escola


A construção do Projeto Político Pedagógico - PPP, passa por muitos saberes de pessoas que integram o corpo escolar para que o pensamento individual e coletivo seja o elemento principal de interação com as ações práticas e o fazer no funcionamento da escola em todas suas dimensões pedagógicas e administrativas.
Os caminhos traçados no PPP da escola em que trabalho começou discutindo os problemas que afligem a humanidade e chegou às seguintes conclusões: “a força do mercado nas relações econômico - sociais, a inversão de valores que toma conta das sociedades ditas modernas, o problema da globalização e a rapidez da evolução tecnológica, tem como ponto negativo a distância cada vez maior entre pobres e ricos e como positivo a formação de uma consciência à nível mundial para a humanização de todo este processo. As sociedades capitalistas são as que mais produziram este quadro ao endeusarem o individualismo e consumismo. É preciso retomar valores como: solidariedade, fraternidade, justiça social, cidadania, coletividade, participação”.
Portanto o PPP é resultado de estudos, pesquisas envolvendo conjuntos de elementos que tem como base princípios de liberdade, pluralismo de ideias, valorização profissional da educação e da experiência extra-escola com práticas sociais capaz de assegurar a qualidade da ação educativa e a participação de forma democrática como preparo para o exercício da cidadania e o pleno desenvolvimento do educando. Isso permite organizar os serviços pedagógicos da instituição assegurando qualidade e eficiência do processo de ensino aprendizagem e promove a integração escola, comunidade e família.
Nessa construção permanente e continuada o PPP permite inovar e adaptar-se a novas realidades que vão se complementando nos processos de formação e capacitação dos professores/as envolvendo o debate na formulação do regimento escolar que cria regras, normas disciplinares e distribui funções para facilitar a aplicabilidade pedagógica. Nessa mesma linha segue a implementação dos projetos de estimulo a leitura e trabalhando com valores, a semana pedagógica - uma viagem pelos caminhos da aprendizagem, e encontros pedagógicos “voltados para estudos com os professores visando reorientar o seu trabalho para encontrar novos caminhos que seguem a prática pedagógica de maneira a superar os problemas que venham se apresentar”. Todos, são instrumentos que tem como finalidades avaliar, fomentar a participação, proporcionar novos saberes, de uma “filosofia de formação na perspectiva do aluno crítico, autônomo e participativo” que “busca garantir os direitos e deveres preconizados pela constituição da República Federativa do Brasil nos artigos 5º 6º e 14º, bem como os estabelecidos no estatuto da criança e do adolescente, cap IV, art 53 a 59 (anexo I), visando assim diminuir as diferenças sociais e construir uma sociedade mais humana” (PPP 2004) com princípios éticos, moral e valores onde o papel da escola cumpra com a formação de alunos e alunas e envolva-os no diálogo com o cotidiano escolar, para que esse possa tornar-se “cidadãos com capacidade de pensar e agir mediante a elaboração de conhecimento científico erudito e universal”.
O objetivo desse trabalho posto no PPP é “garantir o acesso e a permanência dos alunos na Escola a partir de uma concepção de educação voltada à prática social – humanística, científica, crítica e libertadora, que tenha como suporte a perspectiva de formação da sociedade, oferecendo conteúdos que incorporem as experiências, necessidades e expectativas dos alunos ao processo Educativo, eliminando a evasão e a repetência”.