Muito se tem falado sobre o fracasso do Programa Fome Zero, em especial da Bolsa Família como assistencialista e que só acomoda as pessoas, produz uma geração de preguiçosos(as), ou seja, estão todos virando vagabundo, ninguém mais quer trabalhar e o Governo é o culpado disso. Por outro lado tem o discurso da classe empresarial nacional que também é contra a Bolsa Família com o argumento de que esse dinheiro da Bolsa deveria ser entregue a eles para empregarem na produção e gerar emprego.
Em minha ação como educador popular engajado na Rede de Educação Cidadã – Talher, curiosamente comecei a acompanhar três famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família com o objetivo de constatar se de fato é tudo aquilo que estão dizendo. Surpreendi-me com o resultado oposto a tudo que dizem. Vejamos o que constatei.
Uma das famílias é uma Senhora com um jovem adolescente, ela não tinha tempo para nada, a não ser fazer biscate e botar o adolescente para trabalhar e trazer renda para a família. Assim, pouco tempo sobrava para a escola e o lazer. A partir da Bolsa Família, o jovem ficou liberado e se engajou na comunidade fazendo artes, cantando, dançando, participando de teatro e se apresentando em vários eventos na Cidade. O estudo e a leitura passaram a fazer parte do seu dia-a-dia como motivação profissional na área das artes.
A segunda família é uma jovem mulher solteira e dois filhos com aspectos raquíticos, onde se percebia nitidamente a subnutrição, eram pessoas que viviam pedindo esmolas nas casas para comerem. Após serem beneficiadas com a Bolsa Família vemos agora é a mãe passar com as crianças para a escola com sorrisos de felicidades. Portanto, é possível percebermos nessa família, mudanças na qualidade de vida proporcionada pelo Governo.
Uma terceira família é também uma jovem mulher com um casal de filhos e o marido que ganha um salário mínimo como carregador de caminhão. Essa mulher concluiu o terceiro ano do ensino médio e morava em casebre num beco, sofrendo humilhações e um clima de depressão e machismo do marido. Ao ser beneficiada pela Bolsa Família, criou uma certa autonomia e começou a enxergar outras coisas que estavam ao seu redor, como uma Biblioteca Comunitária de uma ONG, ao lado de sua casa, e começou a freqüentar com os filhos, daí foi se dedicando a comunidade, sendo acompanhada e orientada pela ONG, de repente estava coordenando a Biblioteca, cadastrando os livros, recepcionando as pessoas e logo criou um programa de leitura com as crianças da comunidade, passou a fazer parte da organização comunitária, a se inscrever no Enem, no vestibular, no Prouni, a fazer cursos e a não aceitar mais opressão do marido. É uma pessoa altamente comprometida com os movimentos comunitários, uma artesã nata, se apaixonou pela educação popular ao estudar Paulo Freire e está coordenando de forma voluntária um projeto de agricultura urbana, após ter feito um curso de um ano na UFC. Faz hoje um trabalho no Horto de Plantas Medicinais e Agricultura Urbana junto com a entidade local, envolvendo as crianças da comunidade e as famílias. Faz parte da Rede Solidária de Organizações Sociais do Pici e do Fórum Popular de Saúde.
São três exemplos de resgate da cidadania, que precisam ser trabalhados no rumo do processo de inclusão, que permita uma libertação solidária, segura e permanente.
Essas três realidades me permitem compreender que a Bolsa Família cumpre uma função social, política e econômica muito importante para o desenvolvimento da sociedade brasileira excluída do modelo capitalista neoliberal em curso no País. Permite-me também a dizer, que estou convencido que essa libertação anunciada, só se dará pela via de uma economia solidária onde o ser humano seja o elemento principal de inclusão na construção da felicidade e não sob a dominação do capital que exclui.
Leonardo Sampaio
Educador Popular, Pesquisador e Pedagogo.
05/06/05
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