domingo, 20 de julho de 2014

Voto consciente: como entender o que é

Leonardo Sampaio

O momento eleitoral é decisivo pra definir os projetos políticos e econômicos em disputa no país, a questão é se o eleitor tem conhecimento quais são os projetos, o que eles representam para a sociedade e quem os representa. Entender isso é o desafio quando se fala em voto consciente, o voto do conhecimento ideológico acerca do modelo econômico e sociopolítico do qual o votante acredita ser o melhor para humanidade e para o planeta. Essa é uma definição para o voto consciente e a partir daí se busca o candidato que se afina com o acreditar do eleitor. Portanto, o voto não deve ser pessoal, mas em um projeto, projeto este que deve se seguir desde a presidência da republica, governadores, senadores e deputados federais e estaduais, bem como prefeitos e vereadores.
Nessa lógica de definição do voto consciente, nas coligações partidárias pode não estar inclusa o seu projeto, porque cada partido tem suas plataformas e definições ideológicas embutidas no seu estatuto. Então, votar no partido ou em pessoa porque está na coligação poderá ser contraditória com seu pensar o mundo, já que na coligação podem estar juntos interesses diversificados e antagônicos, como interesses de classe, modelos de sociedades e econômicos, se capitalista ou socialista etc.
Para facilitar entendimento, quem é quem na disputa eleitoral no Brasil, é necessário perceber que o sistema econômico apresentado pelos dois partidos hegemônicos na competição, no caso PSDB e PT, é o sistema capitalista, sendo que, o PSDB integra o neoliberalismo, que defende a diminuição do Estado, passando para o capital os serviços essenciais à população, com intuito de gerar lucro para a classe empresarial, utilizando o Estado para facilitar os Planos de Saúde, a Educação Privada etc., alinhando tudo ao Mercado, proporcionando acumulo de riquezas para uma minoria da sociedade. Para os neoliberais, saúde pública, educação pública, bolsa família, são gastos públicos para beneficiar pobres, o que significa tirar recursos que deveram ser do capital. Eles seguem o modelo americano e europeu que está em total decadência. Além de disso, o sistema capitalista neoliberal para alcançar seus objetivos, não tem escrúpulos em relação à sustentabilidade do planeta, nem à vida humana. Já o PT, mesmo gestando o sistema capitalista por dentro do Estado, governa o país aplicando um programa desenvolvimentista voltado para a distribuição das riquezas, tendo como finalidade o fim da fome, da miséria e um planeta ecosustentável, que permita melhor qualidade de vida.
Aí é onde entra o papel do eleitor na definição do projeto de Nação, se ele tem identidade com o neoliberalismo representado por Aécio Neves para dar continuidade às privatizações, ao mercado e ao FMI como fez FHC ou se sua identidade é com o programa desenvolvimentista em execução desde o governo Lula, tendo continuidade com a Dilma Rousseff, com um programa que dá sustentabilidade ao mercado, mas ao mesmo tempo favorece aos pobres, elevando uma grande maioria à classe média, com geração de emprego e oportunidades para os pequenos agricultores e microempresas,  além de dar condições para que entre nas Universidades e cursos técnicos, o que antes do PT no governo, era só a classe alta e média alta que tinham acesso. Essa é a questão que o eleitor precisa compreender pra não entrar na polinização de quem é mais corrupto se o PSDB ou o PT, porque isso diminui o debate em torno das ideias e propostas dos projetos em ascensão no percurso da eleição. Entre os projetos eleitorais tem ainda o PSOL, PSTU, PCO, PSC e PSB que apresentam ideias socialistas e capitalistas para o exercício do poder. São projetos que passam pela política internacional como o recém formado BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que são países em desenvolvimento e se articulam com os países pobres, rompendo com o neoliberalismo e por outro lado o projeto neoliberal com o FMI e Mercosul de interesse americano e europeu para continuar a exploração hegemônica no mundo. São esses elementos que as pessoas precisam encarar com responsabilidade na hora de votar, porque é o voto que define o destino do país.
Outra questão pertinente que está em jogo na eleição, é a formação dos cartéis lobistas que se formam no congresso para fazer negócios, eles são formados no período eleitoral com financiamento de setores empresariais (indústrias farmacêuticas, industria do turismo, o agronegócio, metalurgias, Friboi, Coca-cola, Bancos, e outros), é com verba dessas empresas que os candidatos lobistas chegam nas cidades do interior, nas capitais e bancam cabos eleitorais fortes de voto e assim se elegem, e ao chegarem no congresso vão para as comissões que lhes interessam, com objetivo de gerar demandas para as empresas que representam e muitas vezes penetram até no executivo, pelos Ministérios, por meio dos acordos  nas coligações partidárias. Esses são os “políticos vigaristas e lacaios” (Bertold Brecht), eles se espalham nos partidos de aluguel e partidos grandes e a prática é comprar voto do eleitor corrupto por meio do cabo eleitoral corrupto e assim em vez do país ter os representantes do povo, chega ao Senado, à Câmara Federal, às Assembleias Legislativas e aos Governos Estaduais os lobistas que vão exigir da Presidência da Republica cargos, Ministérios para fazer valer os interesses dos seus financiadores de campanha. Por isso o eleitor precisa estar atento e conhecer os candidatos a Senador, Deputado Federal, Estadual e a Governador para não encher o congresso, os governos estaduais e assembleias legislativas desses indivíduos.
O eleitor distante deste contexto é aquele “analfabeto político” (Bertold Brecht) que independentemente de ser letrado ou não, “detesta política” (Bertold Brecht), prefere não se aprofundar nela e deixa para outros/as fazerem como quer. Já o eleitor politizado parte do princípio que o exercício no poder executivo ou do mandato legislativo é a arte de fazer o bem comum, como define Aristóteles sobre o que é política.
O exposto está na base do processo eleitoral, mas política é um campo bem mais vasto que se discute na teoria e nas práticas vivenciadas desde a origem da humanidade, as organizações comunitárias coletivas e as sociedades imperiais, feudais, comunistas, socialistas, capitalistas e anarquistas.
Essa discussão é “capenga” hoje, por vários motivos, entre eles, a ausência de formação política na base da sociedade, como já foi feito pelas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, Pastorais Sociais, os Núcleos do PT, o Movimento Sindical, os Movimentos Populares, restando agora, com muita limitação o MST, CPT e algumas ONGs que atuam apenas no campo, mesmo contando com enorme redução de sua população por ter migrado para as áreas urbanas. Essas instituições e movimentos são organizações da sociedade civil que sobrevive diante de perseguições, ameaças e ainda são criminalizadas por enfrentarem o agronegócio e a industrialização capitalista no uso da terra com a produção agrícola e o agrotóxico.

Prefiro sonhar na utopia de uma sociedade livre, soberana, sem amarras do capital e totalmente emancipada.