quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

ARTE E CULTURA NO ESCUTA

Leonardo Sampaio

O Espaço Cultural Frei Tito de Alencar – ESCUTA realizou de 05 a 13 de agosto de 2006 a XVI Semana Cultural, foi uma verdadeira manifestação da cultura popular produzida por diversos grupos da cidade. Na verdade era a periferia em cena de forma organizada e solidária fazendo trocas de saberes, de vivencias comunitárias e práticas da arte e da cultura manifestada no seio do povo, principalmente o resgate dessa cultura pela juventude.
Essas amostras da arte e da cultura na Semana Cultural do ESCUTA revelam caminhos de como combater o trabalho infantil, o trafego de seres humanos, a prostituição e a violência. São amostras de coisas possíveis, porém, exige dos poderes públicos constituídos, políticas públicas em parceria com a sociedade civil organizada. Porque é ela que sabe o que quer e sabe fazer o que quer, portanto é com ela que precisa ser feito e não para ela.
Esse é um trabalho que precisa ser permanente e para dar certo, exige transparência com honestidade, ética, princípios e compromissos transformadores a partir de uma visão de gestão participativa, de co-gestão, que abra caminhos efetivos e concretos para a inclusão social no campo da geração de trabalho e renda nos próprios espaços comunitários e públicos valorizando e potencializando a produção do que já fazem em seu ambiente de moradia.
Digo isso porque, o Estado quase sempre atrai pessoas formadas pelas organizações comunitárias ou ONGs – Organizações Não Governamentais, que foram capacitadas para exercerem funções de arte educadores ou outras profissões dentro das próprias organizações e são afastadas desse espaço para dentro da máquina pública, enfraquecendo o potencial pedagógico, artístico, cultural do individuo e do coletivo comunitário solidário, já que na máquina pública ela vai exercer funções que não tem a ver com os saberes adquiridos na comunidade, além de serem reduzidos seus potenciais são afastadas das relações comunitárias construídas no dia-a-dia, onde elas se vêem úteis, servindo uns aos outros.
São dezenas de organizações da sociedade civil inseridas na periferia fazendo trabalhos preventivos com seriedade e é lá, onde se encontram as pessoas mais vulneráveis a essas categorias empobrecidas que se conflitam com a lei, por falta de oportunidades.
O ESCUTA como uma dessas organizações há 16 anos realiza a Semana Cultural promovendo exposições de coisas palpáveis à inclusão social. Mostrando pra sociedade, que outra economia é possível, trazendo para a passarela o desfile de produtos dos/as produtoras/es da socioeconomia solidária do Pici e mostra também, que uma outra cultura sem deploração da vida e do Ser é viável, como é o caso do Banquete Literário que motiva a leitura e a textualização incentivando os jovens a retomarem os estudos. Essa experiência já facilitou a entrada de mais de 10 jovens de baixa renda às universidades e outros tantos, estão trabalhando na área em que foram capacitados com arte educadores. Outro processo em andamento é a inclusão digital, que tem como finalidade formar adolescentes e jovens com metodologias da educação popular a partir da troca de saberes, da produção textual, da pesquisa e a capacitação para o trabalho no campo da comunicação informatizada, construindo site, design, jornais, matérias jornalísticas, folderes, programas, redes e outras modalidades que abram perspectivas de trabalho e renda.
A Cultural no ESCUTA se especializa na arte educação, na formação de educadores popular e tem seus momentos fortes abertos ao público, apresentando a arte através da musica, da dança, da poesia, do teatro, do mural com artes plásticas, do artesanato, da cadeia produtiva que vai desde a confecção, ao artesanato, a pintura, a comida típica, a produção de CD, na versão da socioeconomia solidária. Toda essa produção se fixa na cultura popular como meio da inserção de políticas públicas, mantendo a autonomia, para tornar todas estas manifestações cada vez mais prazerosas, geradoras de saúde e vida com dignidade.


Leonardo Sampaio - educador popular, pesquisador e pedagogo.

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