A educação infantil no Brasil
sempre foi permeada pelo racismo e a discriminação, tendo o livro didático,
como instrumento sutil, que às vezes aparece com a imagem da raça negra de
forma cômica e simpática, mas sempre inferiorizando os negros e negras nas
funções menos relevantes do ponto de vista dos saberes, da cultura, da arte, da
intelectualidade e o sócio econômico. É uma sutileza que termina expondo um
racismo, minimizando as pessoas pela cor, por ela ser negra e com isso tenta
apresentá-la como uma raça inferior. “O racismo ainda existe”, o que nos
lembra pesquisa sobre preconceito na escola onde o racismo no Ceará foi também
muito fortemente apontado (PETiT e SILVA, 2003), com numerosas alusões ao negro
como sujo e sujeito a todo tipo de agressões.
Há ainda nesse preconceito, a
questão com as religiões de matrizes africana e afro-brasileira que em vez de
apresentá-la dentro da sua espiritualidade, buscam sempre demonizá-las e
estigmatizar as pessoas que frequentam e quando são filhos ou filhas de pai ou
mãe de santo e estão na escola, são tratados/as pelos outros alunos/as, como
macumbeiros/as e essas crianças sofrem muito, por serem xingadas pela
estigmatização sobre a religião dos pais, o que caracteriza intolerância religiosa.
As
diferentes gradações de manifestação racista no que diz respeito ao ódio físico
ao negro, cometidas por pessoas quaisquer ou especificamente por evangélicos
refletem a virulência dos ataques que se confundem com a prática da
intolerância religiosa: desde o xingamento negro
fresco/carvão/tição, passando por agressões físicas (bate
negro daqui), ao preconceito
atropelo (causando a morte) e o preconceito
na paz (particularmente insidioso porque se
refere a apedrejamento do candomblecista em ambiente aparentemente sereno).(AFRICANIDADES CAUCAIENSES: SABERES, CONCEITOS E
SENTIMENTOS - ASPECTOS DAS
RELIGIOSIDADES AFRO-BRASILEIRAS EM CAUCAIA: UMBANDA E CANDOMBLÉ)
Os livros didáticos
e a própria escola, tentam ignorar essa realidade, que é grave, talvez, até
porque os dirigentes das escolas e professores/as não foram preparadas/os para
lhe dá com esse assunto. Por isso, a educação religiosa é muito complexa, por
não ser estudada, nem orientada sobre o sentido da palavra região na sua
dimensão maior que é o encontro com o supremo, em que todas as religiões
buscam. O livro AFRICANIDADES CAUCAIENSES: SABERES, CONCEITOS E
SENTIMENTOS,
no
texto UMA HISTÓRIA RELIGIOSA DA NAÇÃO AFRICANA:
SOCIOPOETIZANDO O PRECONCEITO RELIGIOSO COM CRIANÇAS CANDOMBLECISTAS DE
CAUCAIA-CE de autoria
de JOENE MENDONÇA DE FREITAS •
MARCELO MARQUES DA SILVA • SANDRA HAYDÉE PETIT, veja p que diz esse trecho: ...as
crianças apontam
o total desconhecimento das pessoas, a profunda ignorância e o tremendo
desrespeito quanto às dimensões sagradas e espirituais dos símbolos, rituais e
elementos da natureza que fazem parte dos cultos. Os cantos, toques e danças
são particularmente visados, em total desconsideração ao seu caráter de
comunicação com o divino, não sendo aceitos como expressões de uma profissão de
fé. Enfim, toda e qualquer cosmovisão africana é atingida e junto com ela, toda
a negritude, numa associação perversa e maléfica com o mal, o que vem
reforçando a necessidade desses aspectos serem confrontados juntos em todos os
espaços educacionais, uma vez que sem auto—afirmação negra não se entende a
importância da religiosidade africana e sem compreensão da religiosidade de
matriz africana não é possível uma apropriação e valorização efetiva da
cultura afrodescendente, como tão bem o demonstram nossos/a co—pesquisadores/a,
sem papa na língua e com a sabedoria e força de intuição próprias às crianças. Enquanto não acontece esse
aprofundamento para orientação na educação religiosa, cada um que tem a sua,
quer se fechar dentro dela, como a única.
Os livros de história apresentam
o Brasil com apartheid racial, de forma cruel e desumana, como se o negro fosse
escravo pela incapacidade intelecto de se desenvolver como Ser e não por ter
sido escravizado de forma forçada e sem direito a escola, saúde, lazer e até de
desenvolver sua cultura e religiosidade. Dessa forma percebe-se
que os livros didáticos e até os de historinhas infantis mascaram a realidade,
em não dizerem que lhes faltou oportunidades, como: o direito a terra, a escolaridade
e uma situação econômica digna pra se viver, durante e após a escravidão. Os estudiosos consultados não acreditam
no Brasil como o país da boa convivência religiosa, essa seria apenas mais uma
falácia que se aproxima à da democracia racial, pois ambas são negações da
realidade cruel que demoniza, ainda no século XXI, negros e religiões afro.
(Africanidades
Caucaienses: Saberes, Conceitos e Sentimentos – Joene, Marcelo e Petit).
Como consequência dessa
discriminação, é que o próprio negro mesmo expondo sua pele, prefere dizer que é
moreno, pardo, chocolate, mulato, mulata como uma forma de sobreviver nesse
mundo racista, e, em particular no Brasil. O Ceará mesmo sendo o primeiro
Estado a abolir a escravatura, já teve um período governamental que através de
decreto, dizia que essa terra não tem negro, assim também, como não tem índio. Essa
é uma história que não chega no livro didático, porque ele sempre apresenta a
classe branca europeia e americana como perfeita, a única capaz de governar e
decidir o destino do país e do povo.
Ainda em relação às minorias, podemos
trazer a questão do índio relacionado à cultura, espiritualidade, costumes onde
quase não aparece nos livros didáticos, por preferirem falar que os índios não
aceitaram a escravidão devido serem preguiçosos, em vez de dizerem que são povos
livres, que convivem com a natureza e vivem dela numa relação de harmonia e
crenças tendo a terra como mãe a que pare a vida e alimenta a todos e o pai
tupã que lhes traz energias supremas para resistir às guerras e promover a paz.
Portanto, em se tratando de livro
didático, é necessário que haja produções literárias comprometidas com o
resgate histórico da essência nua e crua do povo brasileiro, com sua cultura,
religiosidade, costumes sem impor a europeização e americanização, como tem
sido até então, com o intuito de inculturar, pra dominar com outra cultura. Cabe
aí à escola se apropriar dessa discussão para elevar o conhecimento.
Amém, aleluia, axé, oxalá.
Leonardo Sampaio
22/07/2012
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