segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

MÁRTIRES INOCENTES

Leonardo Sampaio
Hoje domingo, 29 de dezembro de 2013, é dia da memoria dos Mártires Inocentes, data em que se homenageia todas as crianças que foram assassinadas a mando de Herodes. Tudo isso se deu por causa do filho do casal José e Maria que foi dado o nome de Jesus, e que seria considerado o messias. Quando o Rei Herodes tomou conhecimento, reuniu os sacerdotes para saber onde ele havia nascido e todos afirmaram que foi na cidade de Belém na Judéia, como havia afirmado a profecia na terra de Judá.(mts 2.3-6). A matança das crianças se deu quando alguns magos do Oriente chegaram em Jerusalém e perguntaram: Onde esta o recém-nascido rei dos Judeus? Nós vimos a sua estrela no oriente e viemos para prestar-lhe homenagem.(mts 2.1-2). Essa conversa deixou o Herodes enfurecido, aí tentou subornar os magos mandando eles irem até Jerusalém investigar o lugar exato onde estava o menino, mas os magos encontraram outro caminho seguindo a estrela guia e assim ludibriaram o rei e esse quando se viu enganado determinou que todas as crianças de Belém e arredores com idade até dois anos seriam mortas.(mts 2.16). A intenção era que nesse meio Jesus fosse atingido, porque jamais iria admitir que alguém viesse para tomar seu poder. Não deu certo porque o casal José e Maria estava bem informados e voltaram para Israel, em seguida migraram para a Galiléia e tiveram de fugir para o Egito, país do continente africano onde nasceu Moises que lutou durante quarenta anos junto com um grupo de pessoas escravizadas em busca da terra prometida e foi ali no Egito que a família de Jesus Cristo foi acolhida pela comunidade e viveram lá naturalmente como cidadãos até a morte do rei Herodes e sua turma. Depois retornaram para a região da Galiléia e foram morar na cidade de Nazaré e assim Jesus escapou de ser morto quando criança.
Essa história me veio à mente hoje cedo, porque me lembrei de ontem 28/12/2013 quando estava no ensaio do Pastoril que conta a história do menino Jesus e do Reisado que conta a história da visita dos reis magos ao menino Jesus. O ensaio era no ESCUTA – Espaço Cultural Frei Tito de Alencar, nome que homenageia um jovem mártir da Ditadura Militar do Brasil. Mais o que me chamou atenção, foi quando ao final do ensaio chegou uma menina anunciando que viera só justificar porque não estava no ensaio, é que dois adolescentes foram assassinados próximo a sua casa e que os assassinos vieram para matar seu irmão, como não o encontraram atiraram em outros adolescentes, por isso, ela e toda a família se sentiam ameaçadas. Nessa ocasião ouvi um relato de outra criança, dizendo que as meninas da Fumaça estão proibidas de namorar com meninos da Entrada da Lua e vice versa, segundo ela quem entrar em qualquer um dos territórios será assassinado. Aí lembrei que essa situação de rivalidade entre essas duas comunidades já existiu na década de 1980 e só acabou quando dois jovens Antônio e Gilmar criaram a Quadrilha Junina TOMGIL (dos nomes Antônio e Gilmar é que gerou TONGIL) e a parir daí os jovens das duas comunidades passaram a dançar juntos, namorar e casar. Por coincidência ou destino, parei de escrever esse texto no primeiro parágrafo e fui à Entrada da Lua para o velório de uma amiga e assim que cheguei, encontrei um dos dançarinos da época, ai falei: cara, está voltando aquela rivalidade de violência, então ele começou a me contar como era a situação dele naquela período, disse que ia pra casa da namorada com um revolver na cintura e escondia no telhado da casa da namorada que a casa era baixa e isso só teve fim quando os dois começaram a dançar na Quadrilha lá na Fumaça, aí os outros jovens os acompanharam. Ele findou a história contada em poucas palavras, preocupado, porque esta percebendo a volta de um ambiente de rivalidade e que o Planalto do Pici está muito violento, só nesse sábado 28/12/13, no período da tarde, houve três crimes de morte com adolescentes da comunidade.
Ao escrever essas duas histórias, lembrei também dos relatos das crianças na escola onde trabalho como professor, bem próximo a praça da juventude no Henrique Jorge. São raras ouvi das crianças história sobre coisas boas de acontecimentos nessa comunidade, sempre seus relatos estão ligados a violência com assassinatos, tráfego de drogas e o pior, os personagens e vítimas são familiares delas. Uma chega e diz: meu primo na semana passada foi assassinado e nesse final de semana foi meu tio, outras lembram: meu irmão foi assassinado, minha tia foi morta a bala, meu pai está no presídio, meu irmão foi preso por assalto, meu primo foi flagrado com uma arma e está preso, minha família esta escondida e saiu do bairro porque vieram pra matar meu irmão, não encontraram, agora qualquer um de nós pode ser alvo das balas, ontem mataram um jovem na minha rua, meu pai sofreu um atentado de vários tiros felizmente não acertaram, hoje estou triste porque minha mãe está foragida, no final da tarde mataram um bem ali, dois amigos foram assassinados na minha rua porque estavam assaltando, uma mulher foi assaltada na calçada da escola.
Diante de tudo isso, fico refletindo, nos cobram qualidade de ensino, mas não oferecem qualidade de vida a nossas crianças e seus familiares, aí me pergunto: Como essas crianças conseguem aprender tantas disciplinas escolares, chegando à escola de um ambiente desse? Na verdade fazemos o milagre acontecer. Até as crianças que não vivem na família esse clima, sentem o sofrimento das amigas e amigos da escola, sala, em trabalhos coletivos e tornam-se solidárias. Convivemos com crianças meigas, carentes de afeto, mas também rebeldes, quase sempre indisciplinadas, que às vezes tem como referência na vida, alguém que vive fora da lei, mas possivelmente um dia lhe fez carinho. Jesus Cristo buscou essas pessoas, para ajudá-los a se libertar de todas as formas de opressão, eram esses os seus preferidos. Quem se achar seguidor, que faça o mesmo, porque do contrário serás fariseus.
Todas essas histórias têm também algumas coincidências bastante visíveis. a) Jesus com sua família foi se refugiar na África; b) Os jovens e crianças vítimas da violência nessas duas outras histórias de Fortaleza – Ceará – Brasil, são em sua maioria afrodescendente; c) Em todas as três histórias, são pessoas pobres, humildes que sofrem perseguições dos poderosos, dos governantes que lhes negam terra pra trabalhar, morar e viver dignamente; d) Portanto são histórias de um mesmo povo.
Ser seguidor de Jesus Cristo é ter a coragem de enfrentar todos os poderes que oprimem, é combater os opressores e continuar a luta do Cristo Libertado por direitos iguais, com justiça, amor e fraternidade.
Muitos rezam em nome de Jesus e nada fazem pela libertação da humanidade, isso não é cristianismo e sim interesse próprio.

O sistema de injustiça institucionalizada pela globalização é o Herodes de hoje.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Fundamentos da economia solidária

Leonardo Sampaio

A economia solidária é baseada em fundamentos que você pode conhecer nesse texto feito especificamente para aprofundar o conhecimento de uma outra forma de economia que trás um sentido com a vida das pessoas e o planeta do ponto de vista da sustentabilidade. Vejamos a seguir em que essa economia é fundamentada.

1. A Economia Solidária se caracteriza por práticas fundadas em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da atividade econômica, em vez da acumulação privada de riqueza. Esta nova prática de produção, comercialização, finanças e consumo privilegiam a autogestão, o desenvolvimento comunitário, a justiça social, o cuidado com o meio ambiente e a responsabilidade com as gerações futuras.

2. A Economia Solidária é, pois, um modo de organizar a produção, distribuição e consumo, que tem por base a igualdade de direitos de todos os sócios dos empreendimentos. Os meios de produção de cada empreendimento e os bens e/ou serviços neles produzidos são de propriedade coletiva dos sócios e todos eles trabalham no empreendimento.
Igualmente, há associações de pequenos produtores ou prestadoras de serviços, individuais ou familiares, que trabalham em separado (cada um em seu estabelecimento), mas que realizam em comum a compra de seus insumos, a venda de seus produtos ou o processamento dos mesmos.

3. O que as iniciativas de Economia Solidária têm em comum é a igualdade de direitos de todos os sócios sobre a associação ou cooperativa, o que implica em autogestão, ou seja, a participação democrática (cada cabeça dispõe dum voto) de cada sócio nas tomadas de decisão. O que implica a inexistência de classes sociais no seio do conjunto da economia solidária. À medida que se organiza e se integra, a Economia Solidária dá lugar a uma sociedade sem classes, cujo desenvolvimento é necessariamente includente, pois os empreendimentos solidários se beneficiam com a inclusão de novos sócios ou a criação de novos empreendimentos, respeitando-se suas margens de sustentabilidade.

4. As manifestações da Economia Solidária são diversas, dentre as quais se destacam: coletivos informais, cooperativas de produção, de consumo solidário ou de serviços; organizações e grupos de crédito solidário e fundos rotativos; grupos e clubes de trocas solidárias com uso de moeda social (ou comunitária); recuperação de empresas pela autogestão; estabelecimento de cadeias solidárias de produção, comercialização e consumo, organização econômica de comunidades tradicionais, entre outras iniciativas.

5. A Economia Solidária é geradora de trabalho emancipado, operando como uma força de transformação estrutural das relações econômicas, democratizando-as, superando a subalternidade do trabalho em relação ao capital.
6. Além de geradora de trabalho emancipado, a Economia Solidária promove a difusão do consumo consciente, ético e solidário. Levar a sociedade a perceber o ato de consumir não apenas como uma questão de “gosto”, mas também como um ato ético e político: ao consumirmos um produto originado de um processo em que se explora o trabalho alheio, degrada-se o meio ambiente e as relações comunitárias, estamos mantendo esta forma de produção.

7. A Economia Solidária é, pois, uma alternativa ao mundo de desemprego crescente, em que a grande maioria dos trabalhadores não controla nem participa da gestão dos meios e recursos para produzir riquezas, e em que um número sempre maior de trabalhadores e famílias perdem o acesso à remuneração e fica excluído das possibilidades de um consumo que atenda dignamente as suas necessidades como ser humano.

8. A Economia Solidária busca reverter a lógica da espiral capitalista que promove crescente desigualdade social, econômica e territorial. Ela afirma a emergência de um novo ator social composto de trabalhadores associados e consumidores conscientes e solidários, portadores de possibilidades de superação das contradições próprias do capitalismo.

9. A Economia Solidária compartilha valores, princípios e práticas de um conjunto de lutas históricas das classes populares e de setores excluídos da sociedade. Dentre elas podemos destacar:
I) A luta dos trabalhadores contra a subordinação do trabalho pelo capital e valorização da propriedade/ gestão coletiva dos meios de produção, da solidariedade e cooperação mútua;
II) A luta da agricultura familiar e da Reforma Agrária pela democratização do acesso e uso da terra, da água e dos recursos genéticos;
III) A luta das comunidades tradicionais (quilombolas, indígenas, extrativistas, pescadores/ artesanais, etc.) pelo reconhecimento e valorização de conhecimentos e práticas tradicionais, valorização da diversidade étnica, promoção dos direitos territoriais e de sua autodeterminação;
IV) A luta pela reforma urbana, pela gestão coletiva dos espaços urbanos e da moradia, e reciclagem dos resíduos sólidos por meio da autogestão dos catadores e da participação popular no controle dos orçamentos e na definição das políticas públicas;
V) A luta das mulheres contra a discriminação e pelo reconhecimento do lugar fundamental da mulher e do feminino numa economia fundada na solidariedade;

VI) A luta ambiental pelo desenvolvimento sustentável, pela preservação dos recursos naturais e ecossistemas.

Dessa forma entendo que o mundo precisa caminhar nesse sentido, numa determinação de provar que outro mundo é possível.

A vida ficou mais linda quando te conheci

Leonardo Sampaio

Minha vida ficou mais linda quando te conheci,
quando olho no teu olhar,
vejo um brilho de sentimento recíproco.

Percebo que quanto mais nos aproximamos,
passamos a nos admirar
e sentir uma presença carente de aconchego,
um aconchego de idéias
e uma presença com um requinte de beleza,
essa beleza advinda da sabedoria,
essa sabedoria adquirida no mundo,
o mundo que me rodeia,
que às vezes não quer que enxergue além dele,
que não perceba outros mundos,
outros horizontes, que não tenha utopia.

O lindo dessa paixão é o seu crescimento,
é nos percebermos diferentes
e nos sentirmos iguais.
Dessa forma a paixão vai se apagando
e o amor vai se tornando verdadeiro,
livre,
não possessivo,
nem de dominação,
ele nos torna mais sensíveis às coisas do mundo.

O mundo é o espaço pra se voar ou ciscar,
pra se amar, libertar-se ou alienar-se.

E a beleza desse nosso amor
é ganhar os ares da utopia,
do mundo, dos sonhos, das realizações.
Foi nesse contexto que nos conhecemos,
nos envolvemos e constituímos seres coletivos,
nos institucionalizamos,
até como família.

Constituímos família?
Que família?
Família pra que?
Quem germinou?
Quem pariu?
Terá sido o bico do beija flor?
Ao tocar o semi da rosa?

É, talvez tenha sido coisa da natureza.
Natureza!
Mas são tantas naturezas!
Temos as naturezas do universo
e dos comportamentos humanos.

A natureza é essa beleza cósmica,
é a vida simbolizada por terra, água e luz
é o universo das coisas.

Naturezas humanas são os comportamentos!
Que são constantes ou mutáveis?
Pode também ser os dois?
E o que os faz constantes ou mutáveis?

Talvez seja a construção da vida,
as relações com o mundo.

Portanto é nessa construção
e relação com o mundo,
que esse amor se perpetue.
Beijos.



sábado, 14 de dezembro de 2013

Motel Calango em uma cidade invisível

Leonardo Sampaio

Aqui é apresentada a história do cotidiano de um povo que ocupa um espaço conhecido como Gargalo da Garganta e o Motel Calango. O relato é uma amostra do retrato de uma cidade “invisível” com suas mazelas de degradações humana, mesmo o fato acontecendo ao lado do Centro de Cidadania e Direitos Humanos Cesar Cals, instituição pública municipal de Fortaleza. 
O Gargalo da Garganta surgiu no final da década de 2000 como ponto de prostituição homossexual infanto-juvenil, quando as crianças eram aliciadas por adultos para a prática sexual no espaço de uma vacaria desativada, ali, havia exibições dos corpos em busca de afetividade. Já na década de 2010 há uma reforma com a chegada de mulheres trabalhadoras do sexo, atraindo novos clientes, o que leva naturalmente a se constituir uma nova relação de convivência com o espaço e com as pessoas. Pois é nessa construção de relações, que surge o Motel Calango, como alternativa para baratear as despesas dos clientes, já que não precisa pagar, porque o “Motel” fica localizado dentro do mato em um terreno murado onde foi furado um buraco no muro e cada um ou uma reserva seu espaço dentro do mato pra transar com seus clientes, com direito ao ar livre, ao verde das plantas, o perfume das flores e a sombra durante o dia ou às noites apreciando a lua e as estrelas em pleno prazer da vida, com orgasmo, alegria e felicidade. Único direito que não há como tirar.
O Gargalo e o Motel Calango são lugares de encontro 24 horas, envolvendo prostituição, drogas, crimes, roubos, assaltos, tráfego, aliciamento e boas relações de amizade. O público frequentador desse ambiente é jovem, homens e mulheres que moram nas favelas vizinhas e foram condenados pelo capital a viverem na extrema pobreza, elevada ao estagio de miséria. Uma miséria, produzida pela miséria do Estado e do capitalismo consumista e acumulador de riquezas. São famílias que visivelmente tem suas ancestralidades indígenas e afrobrasileira que sofrem a negação da cidadania como Ser humano. São pessoas que vivem exclusão histórica desde a invasão européia a estas terras do Brasil e impuseram políticas, religiões e costumes eurocentrista, chegando a escravizar índios, tomar suas terras e comercializar pessoas africanas como animais, para serem escravizados em fazendas e trabalharem na produção agrícola e em trabalhos domésticos no campo e na cidade, servindo aos senhores de engenhos e aos donos do capital e do poder político, sem nenhum direito de cidadania. Então o Gargalo da Garganta e o Motel Calango é apenas um recorte do resultado dessa exclusão após a escravidão e na atual sociedade de mercado e de consumo.
Esse lugar onde tudo isso acontece, fica às margens do Riacho Cachoeirinha onde havia as Cacimbinhas, musicada no Cd Jogueiros do ESCUTA, composição da Prof. Ângela Linhares/UFC que conta a história das famílias que lavavam roupas ali, enquanto as crianças brincavam nas águas cristalinas. O local hoje virou rampa de lixo, canal de esgoto e aterramento por parte da especulação imobiliária, sufocando a vida humana, a flora e fauna no oeste da cidade. Era um dos espaços que deveria ter sido construído o Projeto Parque Rachel de Queiroz, preservando todo o meio ambiente e criando espaços adequados para uso da comunidade com melhoria da qualidade de vida. O poder público e o privado são abusivos e irresponsáveis em reação ao meio ambiente na cidade.
Essa é uma história real, crua e nua que ainda acontece em pleno século XXI, ao lado das instituições religiosas, públicas e educacionais em que todos fecham os olhos tentando torná-la invisível, discursando ou pregando sobre: justiça, amor, fraternidade, igualdade e desenvolvimento, o que torna o discurso hipócrita, porque os fatos expostos revelam o cinismo de uma sociedade apodrecida pela ganância, o egoísmo e ainda expõe a contradição entre a escrita, a fala e a execução.
Não se pode falar de justiça e desenvolvimento enquanto essa realidade estiver presente.



14/12/2013

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

RIQUEZAS E BELEZAS DA ÁFRICA

Leonardo Sampaio
10/12/2013

África, África mãe da humanidade
Que pare pretos, brancos e amarelos
África de todas as qualidades
De rios, ilhas e Costa do Marfim.
Continente extenso com riquezas naturais
Vulcões que explodem fervendo a terra
Savanas imensas com seus animais
África que toca tambores
E trás os espíritos de ancestrais

África das religiões
Das vivencias espirituais
Do cristianismo e Candomblé
Com seus deuses primordiais
Que alimentam a fé.

África de muitos saberes
De contos e poesia
De encontros circulares
Com histórias e oralidade
Celeiro da sabedoria
Que se espalhou na humanidade.

Saberes que vieram pra cá
Pra esse grande Brasil
Chegando do lado de lá
Com o toque dos tambores
E os deuses de oxalá
Exu, Ogum e Oxossi
E sua mãe Iemanjá.

O sapiens do escravizado
Criou aqui a capoeira
Trazendo de lá o gingado
O tambor e o berimbau
A dança circular
E a luta do maneiro pau.

A criação da feijoada
Vem dos saberes africanos
E no Brasil foi criada
Nas cozinhas das senzalas
Com comida bem temperada
Das vísceras dos animais
Que no lixo era jogada.

A criatividade africana
Ta na louça e ta no barro
Com artesanato bacana
Fazendo panela e jarro,
Os costumes espirituais
Mesmo sendo proibido
Foi com sabedoria
Que aqui foi reerguido
Por meio da "Umbanda"
Onde santos e orixás
Se encontram no mesmo altar
Pra sua fé professar.

E assim é o africano
Com sua africanidade
Vinda do continente
Com toda criatividade
Vencendo o preconceito
Por causa da qualidade.

Essa África tem riqueza
Feita com amor e bondade
E tem muita beleza
De toda diversidade
Construída da natureza
Para toda a humanidade

E assim vou concluindo
Dando minha contribuição
Por meio da poesia
Pra fazer reflexão.

sábado, 7 de dezembro de 2013

África berço da humanidade

Leonardo Sampaio

A África é considerada o berço da humanidade, a mãe dos primeiros Seres, foi ela que trouxe a civilização e a evolução da espécie recheada de sabedoria e ainda pigmentada com a diversidade de cores na pele, identificadas regionalmente no Continente Africano. Portanto, é na África que se inicia o povoamento do mundo, a genética da humanidade e a partir dos povos nômades é que se espalharam pela Ásia e a Europa, dali foi se expandindo por todo a Terra, o que nos permite afirmar que a ancestralidade de todos os povos tem sua origem no continente africano, dessa forma, podemos dizer que esse continente contribuiu com o desenvolvimento civilizatório, cultural, social e espiritual com a revelação dos deuses como seres supremos que penetram na mente e no coração das pessoas para perpetuar a harmonia universal entre o humano e a natureza. Nessa construção a forma de relação harmoniosa é apresentada por meio das religiões com suas espiritualidades e daí vai se identificando que na humanidade já há uma relação entre o bem e o mal com espíritos que agem de um lado ou do outro a partir dos interesses individuais, a ambição, a concentração de poder, a dominação a partir dos bens acumulados.  Daí vem às religiões na África que tem o sentido de pertencimento harmônico dos valores entre espírito e natureza fazendo o contraponto entre a maldade humana para se relacionar com humildade e distribuir as riquezas tendo a vida como centro de tudo.
Nos escritos históricos do Antigo Testamento mostra os povos nômades ou migrantes percorrendo a região entre África e Ásia em busca de lugares mais férteis, capazes de oferecer melhor qualidade de vida. É daí que nasce no Egito o cristianismo sob a liderança de Jesus Cristo lutando pela libertação do povo que sofre e que é perseguido. Ele faz isso a partir de um olhar para um Deus como ser supremo criador do universo e capaz de salvar o mundo de todos os males. Enquanto isso no continente africano encontramos em Ioruba o Candomblé com os Orixás, que são deuses ligando o ser humano à natureza, onde a terra, a água, o fogo e o ar se fazem presente em seus cultos e as pedras têm significados sagrados de purificação do espírito e poderes para afastar o mal e abraçar o bem. A partir daí muitas outras formas de espiritualidades vão aparecendo na humanidade com seus próprios deuses. Um dado interessante entre as duas religiões é o sacrifício oferecido através do sangue, que no cristianismo Deus se revela feito homem e o fez derramar o sangue para salvar a humanidade, afastando-a da maldade feita pelo próprio humano seu filho e busca a comunhão entre as pessoas. Já os deuses Orixás nas suas espiritualidades alimentam-se na comunhão acreditando na força da natureza e derrama o sangue de animais como sacrifício para afastar os espíritos da maldade, levando-os ao castigo e ao sofrimento para pagar a maldade exercida sobre as outras pessoas. Outro elemento que aparece nas duas religiões de matriz africana (Cristianismo e Candomblé) é a poesia, a música, o canto e o toque dos tambores com uma musicalidade para invocar os espíritos e construir um diálogo de fé, esperança e alegria. Em ambas as religiões a água é o elemento que purifica a partir do batismo nos rios ou mares. A mulher se faz presente como mãe, por meio de Maria que concebeu o filho para salvar a humanidade e Iemanjá a mãe de todos os orixás e deusa das águas que gera a vida e purifica o mundo.
Então a força da África esta simbolicamente revestida da espiritualidade dos diversos deuses africanos do Candomblé com seus Orixás, como:
Exu
É o mensageiro entre os homens e os orixás e transportador das oferendas. Controla as forças que agem sobre a nossa realidade. Exu também é homenageado às sextas-feiras.

Ogum
Forte e corajoso, é conhecido como orixá da guerra e do fogo. Criou o ferro, a tecnologia e a metalurgia. Por isso, é padroeiro de todos os que manejam ferramentas. Seu símbolo é a espada.

Xangô
Senhor dos raios e dos trovões. Durante sua vida na Terra foi rei de Oyó, uma das principais cidades de língua iorubá. Por esse motivo, quando seus filhos o incorporam usam uma coroa.

Oxóssi
Orixá da mata e caçador, garante o alimento de todos os outros deuses. É considerado o guardião da agricultura e da natureza. É umas das divindades mais populares do candomblé.

 Oxalá
Separou o mundo material do espiritual. Muito respeitado, tanto pelos devotos humanos quanto pelos demais orixás, ajudou Olodumaré a criar o homem e o princípio da vida.

Oxum
É a senhora das águas doces, dos lagos e das cachoeiras. É tida como bela, vaidosa, rica e sensual. É a orixá que regula o amor e o poder de gestação das mulheres.

Obaluaiê
É o orixá das epidemias e também da cura. Traz em seu corpo as marcas das doenças que carrega, por isso precisa se esconder atrás de um chapéu de palha em forma de manto.

Oxumarê
Tem a forma de arco-íris e liga o céu e a terra. Controla a chuva, a fertilidade do solo e a prosperidade propiciada pelas colheitas. É masculino e feminino ao mesmo tempo.

Iansã
Dirige ventos, raios, tempestades e a sensualidade feminina. Representada sempre como uma guerreira, é senhora dos espíritos dos mortos, que encaminha para o outro mundo.

Ossaim
Deus das folhas e das ervas medicamentosas. Seus sacerdotes conhecem as palavras que ativam o poder de cura das plantas. Segunda e sábado também são dias desse orixá.

Iemanjá
Reconhecida como mãe de todos os outros orixás, é a deusa das águas. Rege o equilíbrio emocional e a loucura. Destaca-se pela feminilidade, generosidade e maternidade.

Ogum
É o temível guerreiro, implacável, deus do ferro, da metalurgia e da tecnologia; protetor dos ferreiros, dos agricultores, caçadores, carpinteiros, escultores, sapateiros, talhantes, metalúrgicos, marceneiros, maquinistas, mecânicos, motoristas e de todos os profissionais que de alguma forma lidam com ferro ou metais a fins.

Mas também a força do cristianismo tem seus primórdios na África quando surge no Egito, Etiópia e se espalha no Oriente, Ásia, Europa e o resto do mundo, o que nos faz afirmar que a África é a mãe da humanidade.

07/12/2013