Leonardo Sampaio
Uma
casa abandonada
No
centro de Fortaleza
Na
Rua Rodrigues Junior
Onde
Frei Tito nasceu
Bem
próximo a Aldeota
Foi
lá que Tito cresceu
Jogando
bola na rua
Tocando
seu violão
Pois
eram onze irmãos
Mais
uma tia o pai e a mãe
Eram
quatorze pessoas
Viviam
harmonicamente
Numa
pequena casinha
Socializavam
tarefas
E
todos participavam
Era
família de fé
Num
regime democrático
De
prática socialista
Com
partilha e bem comum.
Dona
Laura era a mãe
Ildefonso
era o pai
Eram
pessoas bem humildes
Os
filhos iam crescendo
Cada
um seguiu seu rumo
O
João virou comunista
A
Nildes educadora
Outras
eram domésticas
Alguns
funcionários públicos
E
o Tito religioso
Seguiu
a causa dos pobres
Com
Jesus de Nazaré
Por
isso foi perseguido
No
Regime Militar
Foi
um grande alvoroço
Na
família Alencar.
Tito
preso e torturado
Na
Ditadura Militar
Queria
democracia
Defendia
o evangelho
E
a partilha de bens
Numa
sociedade justa
Chamavam-no
comunista
Contra
o capitalismo
Por
isso foi condenado
Foi
preso e exilado.
Lá
nas terras estrangeiras
Já
sentia muita saudade
Queria
estar com seu povo
Defendendo
a liberdade
E
um mundo de igualdade
Com
muita fraternidade
Muito
amor no coração
Paixão
e misericórdia
Pra
todos serem irmãos.
Era
meigo e amoroso
Só
queria, o bem do povo
Assim
se manifestou
Escreveu
carta e poesia
Sobre
o amor que tinha
Pelo
povo e sua terra.
Por
não sentir mais retorno
Ficou
um tanto alucinado
Em
tudo via fantasma
Percebia
torturadores
Lhe
seguindo a todo tempo
Tiraram-lhe
o âmago
Com
tanta alucinação
Resolveu
tirar a vida
Enforcado
numa árvore.
Virou
mártir dos torturados
E
dos direitos humanos
Assim
é reconhecido
Por
todos que o admiram
E
por isso não é esquecido.
Até
a casa onde nasceu
Queremos
preservação
Para
guardar a memória
E
assim manter sua história.
Mas
a casa foi encontrada
Destruída
e abandonada
E
uma cristã aguerrida
Ao
ver uma placa vende-se
Conhecia
a vida de Tito
E
que ali ele nascera
Correu
atrás de amigos
Pra
preservação da casa
E
o patrimônio histórico
Para
que fosse tombada
E
assim aconteceu,
Mas
ficou descuidada
Até
no dia dez de agosto
Do
ano dois mil e dezoito
Quando
a Escola Bíblica
Frei
Tito de Alencar
Se
juntou com o Escuta
Que
é o Espaço Cultural
Que
homenageia o Frei
Prepararam
celebração
E
após entraram na casa
Arrancando
uma grade
Viu-se
o estrago que tava
Decidiu-se
ficar dentro
Pois
a casa era tombada
E
ficou ali desprezada
Não
houve o menor cuidado
Nem
do dono nem prefeitura
Com
vários vãos destruídos
Outras
paredes quebradas
Todas
as portas arrancadas
Pisos
e tetos alterados
Gatos
de água e energia
E
com tudo desprezado.
Um
documento foi lido
Levantando
a bandeira
Pela
desapropriação
Para
criar o memorial
Do
Frei Tito de Alencar
E
dos demais torturados
Nas
terras do Ceará.
Mas
no dia onze de agosto
Aparece
um dito dono
Era
pai filho e capanga
Com
murros e ponta pé
Expulsando
os ocupantes
Fazendo
muita arruaça
Houve
gritos e ameaças
Despejo
dos objetos
Todos
jogados na rua
Mas
os jovens lá presentes
Resistem
sem abrir mão
Acusam
o proprietário
Do
abandono da casa
Mesmo
ela sendo tombada
Por
isso sua obrigação
É
cuidar do patrimônio
Assim
os jovens diziam
Articularam
reforço
Foi
chegando mais apoio
De
repente muita gente
Advogados
e padres
E
mais outras lideranças
Foram
pressionando o dono
Até
que ele se afastou
Sem
permitir ficar dentro
A
calçada foi ocupada
Na
frente do patrimônio
Até
que a prefeitura
Faça
a desapropriação.
O
CEBI logo apoiou
E
as Pastorais Sociais
As
CEBs e organismos
Jovens
da PJMP e PJ
Mais
o Centro de Pastoral
Padres,
Freiras e Leigos
E
mais outras lideranças
Chegaram
juntos no apoio
Fortalecendo
a luta
E
também a resistência
A
juventude aguerrida.
No
dia doze de agosto
Numa
audiência pública
Feita
na Secutfor
Entregou-se
documento
Em
que foi Protocolado
Com
as reivindicações
Da
Ocupa casa Frei Tito.
Os
dias foram passando
Sem
ter resposta concreta
O
movimento resolve
Entrar
na casa de novo
E
em dezessete de agosto
Em
outra celebração
O
movimento retorna
E
ocupa outra vez.
Já
no outro dia seguinte
O
suposto dono aparece
Com
filhos e um policial
Usando
arma em punho
Apontando
para os jovens
Virou
clima de terror
Bate
boca e resistência
E
muita pancadaria
Os
jovens foram empurrados
Botaram
todos pra fora
Foram
chegando os apoios
Lideranças
e advogados
Religiosos
e os leigos
Entraram
de casa a dentro
E
a polícia se fez presente
Tentando
apaziguar
E
os donos intransigentes
Era
muita discussão
De
um lado e do outro
Até
ir pra delegacia
Onde
foi feito acordo
Com
a casa ocupada
Em
até sessenta dias.
Foi
só mais um passo dado
Pra
amenizar o conflito
Até
o Prefeito desapropriar
Foi
essa a meta fincada
Sem
ter nenhum retrocesso
Da
Ocupa casa Frei Tito.
As
cobranças continuaram
Pra
se chegar ao Prefeito
Adesões
por todo lado
Até
a família do Tito
Chegou
a manifestar-se
Compreendendo
que era a vez
De
se chegar ao Prefeito
E
a solução encontrar
Pois
a muitos anos tentam
Sem
nunca terem resposta.
Nas
noites enluaradas
Ou
no brilho das estrelas
E
no sol abrasador
Os
jovens vão resistindo
Ficam
na casa dia e noite
Estudando
e trabalhando
São
meninas e meninos
Revelando
a esperança
Que
esse mundo tem jeito
Quando
junta fé e vida
Em
busca de um ideal
E
Tito é inspiração.
São
as noites mal dormidas
E
os dias muito cansativos
Aguardando
que o Prefeito
Um
tal de Roberto Claudio
Dê
resposta positiva
De
desapropriar a casa
E
implantar o memorial
Como
bem patrimonial
Da
Cidade e do mundo
Pelo
fim das ditaduras
E
pelos direitos humanos.
Cada
dia tem coisa nova
São
oficinas de croché
Cortes
de cabelo e bordado
Filmes,
jogos, teatro e músicas
Ofícios,
rezas e cânticos
Como
expressão de fé
No
Cristo libertador
O
Jesus de Nazaré
Homem
forte e destemido
Que
mesmo temendo a morte
Deu
seu exemplo de vida
Sem
temer aos poderosos
Mesmo
sendo torturado
Preso
e crucificado,
“Eles
não sabem o que fazem”
Falou
pregado na cruz.
Esse
é o Deus desses jovens
Da
Ocupa casa Frei Tito
Dando
exemplo de vida
Com
responsabilidade
Em
defesa da justiça
Do
direito e o bem viver.
Por
isso não abrem mão
Querem
a restauração
Dessa
casa do Frei Tito
Para
que a memória
Seja
sempre preservada.
Já
no dia dez de setembro
Nova
notícia chegou
Da
família de Frei Tito
Que
o prefeito recebeu
Reuniu
em seu Gabinete
E
lá se comprometeu
De
desapropriar a casa
Seguindo
um calendário
De
setembro a dezembro
Do
ano dois mil e dezoito
Fazer
a restauração
E
em janeiro do ano novo
De
dois mil e dezenove
Fazer
inauguração.
Os
passos a serem dados
Foi
assinar três decretos
E
o primeiro já foi feito
Em
quatorze de setembro
No
aniversário de Tito
E
o Movimento ocupa
Fez
a semana de festa
A
família foi recordar
A
casinha onde ele nasceu
Foi
um momento de emoção
Entraram
de casa a dentro
Contando
cada detalhe
De
como ali viviam
E
o cantinho onde ele nasceu
Com
a ajuda da parteira
Sendo
o último da família.
E
por lá permaneceram
Assistiram
os palhaços
E
muito se divertiram
São
pessoas bastante idosas
E
muito acolhedoras
Eram
dois irmãos e a irmã
Nildes,
Ildefonso e João.
Vieram
pra comemorar
A
promessa do prefeito
E
também congratular
Com
a Ocupa casa Frei Tito
Por
ter feito aquele ato
De
ocupação da casa
Correndo
todos os riscos
Como
foram as agressões.
Agora
falta o concreto
Que
o prefeito assumiu
Que
é a desapropriação
Porque
o Decreto não saiu
Pra
efetivar a promessa
Com
a criação do Conselho
Que
ficará responsável
Pra
instalar o memorial
Que
é o terceiro decreto.
A
Ocupa casa Frei Tito
Continua
dentro da casa
Mantendo-se
vigilante
Acompanhando
os passos
Do
Prefeito Roberto Cláudio
Das
promessas assumidas
No
encontro com a família.
O
Movimento agradece
A
todos que visitaram
E
aos que colaboraram
Os
homens e as mulheres
Todas
famílias vizinhas
E
as crianças do entorno
Da
Rua Rodrigues Junior
Sempre
presentes em tudo
Que
ali foi promovido.
Pedimos
também desculpas
Por
transtorno ocorridos
Tirando
o sossego da Rua.
Com
a benção do divino
E
todos deuses sagrados
Sou
grato a todos/as vocês
Por
cumprir essa missão
Que
a mim foi delegada
De
coordenar essa ação
Junto
à tanta gente boa
Em
nome da liberdade
Do
direito e da justiça
E
muita fraternidade.
A
vitória é de todos e todas.
Frei
Tito Vive.
23
de setembro de 2018