Leonardo Sampaio
Para
falar sobre mulher, ressalto as condutoras de histórias das lutas populares que
transformam vidas e conduzem à humanização, como Maria, personagem bíblica
migrante, em busca de abrigo para parir o filho, devido a perseguição política
do Rei Herodes, a mulher que contesta o poder opressor e conclama todos a
transformar aquela realidade de injustiça social: “Derruba do trono os
poderosas e eleva os humildes” (Lc
1.52) a mesma, morou na África vivendo no Egito, e conheceu a história
de quarenta anos de luta de Moisés e sua irmã Mirian para libertar os escravos,
andando como nômade, em busca da “terra prometida”, uma espécie de quilombo.
Falar de Maria é entender uma mulher que viu o filho como preso político, sendo
torturado até a morte e não recuar, estando sempre ao seu lado afirmando o
projeto de um reino de justiça, amor e, sobre tudo, de liberdade, do corpo e do
espírito para que todos possam viver com plenitude. “ Eu vim para que todos
tenham vida” (João 10:10).
É a mulher que conheceu a história dos profetas de antes, denunciando as
injustiças e anunciando a vinda do Messias pra salvar a humanidade.
São
tantas as mulheres guerreiras, que não caberia neste espaço destacá-las, porque
elas se apresentam em diversas frentes de lutas transformadoras da realidade, a
exemplo de Anita Garibaldi, que participou de guerras no Brasil e na Itália ao
lado do marido, como Maria Bonita no cangaço ao lado de Lampião, como Olga
Benário, judia que foi entregue aos nazistas, como Bárbara de Alencar, que
lutou no movimento abolicionista, pelo fim da escravidão no Brasil, como
Dandara, que lutou no Quilombo dos Palmares ao lado de seu companheiro Zumbi, como
Chiquinha Gonzaga, que na vida de artista enfrentou o machismo, o preconceito e
defendeu o fim do escravismo, como Margarida Alves, que como camponesa e
sindicalista enfrentou o latifúndio, Irmã Doroti, que como religiosa defendeu o
meio ambiente contra o desmatamento da Amazônia, Irmã Filomena, que, como
freira, esteve ao lado dos agricultores no Maranhão, defendendo a reforma
agrária, Rosa Luxemburgo líder política, filósofa e uma das principais revolucionárias
marxistas do século XIX, dentre
outras.
Mulheres
camponesas, negras e indígenas, quebradeiras de coco, descascadoras de
macaxeira, catadeiras de algodão e feijão, que enfrentam o sol ardente ou a
chuva, formando coro com a oralidade de
cantigas populares em momentos de trabalho desvendando suas culturas ancestrais,
indígenas e africanas, fazendo a circularidade com as danças de coco, ciranda e
capoeira, ou a espiritualidade indígena com o Torem, pisando o chão como
símbolo de gratidão à Mãe Terra, por parir a vida e alimentar o corpo.
Falo
também sobre as mulheres de religiões de matrizes africana, as Mães de Santo,
que invocam os orixás, seus deuses, pra confortar a vida a partir da natureza,
do alimento e do sacrifício pra libertar-se.
As
mulheres poetas, escritoras que trazem em suas escritas a inspiração da mulher
mãe que se torna cuidadora, ocupando todas as dimensões de carinhos, conforto,
ternura e necessidades pessoais dos(as) filhos(as). Há também as mães que vendem
o corpo como profissão, como trabalhadoras, utilizando a sexualidade pra
sustentação da vida e as tornam felizes.
As
professoras, que transmitem o conhecimento e absorvem o saber de cada aluno ou
aluna trazidos do seio da família, ou das ruas, nos ambientes coletivos,
esportivos, culturais, religiosos ou até da marginalidade o que tornam essas mulheres
não mais só professoras, mas parte da família, como tias e educadoras.
Não posso deixar de fora
as feministas que lutam em defesa de direitos iguais; das mulheres negras que
lutam por dignidade, enfrentando o racismo e o preconceito, mesmo trazendo na
pele, no cabelo e no corpo a beleza do ser negra; as rezadeiras (curandeiras ou
benzedeiras) que trazem da ancestralidade africana, o poder da mediunidade e o
uso das plantas para afastar doenças nas pessoas; das que fazem parte da política
nas casas legisladoras; as executoras de gestões públicas que buscam
sensibilizar por um poder de Estado humanizado; as feministas lésbicas que lutam
contra o preconceito, a discriminação e o direito de amar e viverem sua sexualidade
livres.
É
assim meu olhar e compreensão pro papel da mulher na sociedade, em que todas as
Marias, Rosas, Lúcias, Luzias, Célias, Veras, Anas, Ângelas, Sandras, Fátimas,
Francinetes, Artemizas, Dranciscas, Marinas, Elianes e outras que cumprem
missões de ternura e construção de uma sociedade justa e fraterna em que o amor
constrói a paz.
Maria, Maria, é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta. ( Milton Nascimento e Fernando Brant).
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