terça-feira, 20 de novembro de 2012

Consciência negra e a educação


            Novembro é o mês em que as escolas trabalham a questão relacionada com o negro devido ao dia 20 da consciência negra. Trabalho como professor na rede municipal de ensino de Fortaleza e quero aqui provocar uma reflexão relacionada à questão negra e a educação que teve início com o artigo 68, da constituição de 1988 e a Lei 10.639/2003 Art. 26-A, que traz o seguinte texto: “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”. 
Hoje temos a Lei complementar 11.645/2008 que acrescenta além da história e cultura Afro-Brasileira, a indígena. No entanto é visível que o tema passa distante no Projeto Político Pedagógico nas Secretárias Municipais e Estaduais. Se alguma secretaria ou escola elaborou no PPP, mas na prática não funciona, porque há necessidade de uma formação específica para os professores, nessas áreas e que perpassa por todas as disciplinas desde a matemática à religião. É nesse campo da formação que esta a deficiência do sistema na implementação da Lei, até mesmo porque nem as academias estão preparadas para essa capacitação.
Fiz uma especialização de pós-graduação nessa área, pela Faculdade de Educação da UFC via o Núcleo de Africanidades Cearenses (NACE), para ser professor em educação para comunidades negras e quilombolas, foi aí que pude perceber que é uma coisa esporádica, porque não há ainda uma sistematização maior em termo de nível superior que assegure às redes de ensino no país a garantia da qualidade do ensino nesse campo da educação especializada sobre a questão afrobrasileira e indígena.
Hora, se até as academias estão com dificuldade em relação ao tema, imagine os/as professores/as diante de uma coisa bastante complexa como a cultura afro-brasileira e indígena, até porque envolve uma cultura considerada folclore, ou seja de baixa qualidade e que está fora da indústria e do mercado cultural capitalista, por tanto nem livros pedagógicos para escolas, interessam às editoras. “Esta é uma das questões mais complexas  de nossa educação porque  implica  na desconstrução da cultura burguesa dominante,  do processo de branqueamento  de nosso povo e do resgate de nossos referenciais identitários originais”. (Zu Noreira).
Na verdade a história e cultura das etnias negra e indígena chegam nas escolas como coisa de temas transversais, parecendo uma emenda e aí o professor/a, vai para sala de aula pra trabalhar os conhecimentos pessoais dele/a, se é que tem e ainda com medo do preconceito, principalmente quando se trata das religiões de matriz africana, porque há um movimento contra, que sempre apresenta na mídia  a parte destorcida, como nos programas policiais e no pentecostalismo cristão que continua combatendo as religiões afro-brasileira como na época da escravatura, tratando-as como coisa do satanás.
Quanto ao que vem em alguns livros didáticos, é apenas como informações da existência dessas etnias, mas sem nenhum aprofundamento histórico sobre suas religiosidades e o que simboliza seus rituais espirituais relacionados com a natureza e a vida. O Exu, Iemanjá, Tupã, a Mãe Terra que são os deuses que alimentam a espiritualidade, a fé e a sustentabilidade da vida, da natureza e a prosperidade da espécie a partir da preservação oral e comunicacional com sua ancestralidade, é com isso que estas etnias vivem a fraternidade, o amor e a justiça terrena e divina.
Toda essa cultura, foi negada e perseguida pelo eurocentrismo, na tentativa de eliminar as culturas ancestrais indígenas e africanas, mais elas resistem, se ampliam e tomam conta das políticas públicas enquanto leis, para assegurar a dignidade e a qualidade de vida destes povos étnicos, muito mais brasileiros. Por isso, é preciso entender que não basta apenas a presença do negro, ou de índio nas esferas de poder, mas que estas políticas ainda tímidas, sejam de fato implementadas pelo estado brasileiro em todas suas esferas de poder.

Leonardo Sampaio
Educador popular e pedagogo – Cel.8501-0330
11/11/2012

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