Quilombo Bom Sucesso - Novo Oriente, 09 de outubro de 2010
Leonardo Sampaio
Eu vi na minha terra natal
A garota mais bela do lugar
De corpo lindo e perfeito
Faceira até no andar
Com belos olhos castanhos
Estatura de bom tamanho
Pra todos admirar.
Mas havia grande defeito
Para o povo daquele lugar
Porque tinha pele negra
Não podia se misturar
Com as meninas de cor branca
Nem ao menos coroar a santa
Padroeira do lugar.
Porém, um dia resolveram
A negra, anjo virar
E de branco lhe pintaram
Colocaram-na no altar
Toda bonita e bela
Sem mais cor de canela
Pronta pra coroar
Mas surgiu uma grande duvida
Quem era aquela donzela
E todos queriam saber
De onde ela viera
Com tanta simpatia
Parecendo a virgem Maria
Que atraiu até paquera.
Porém teve um problema
Na hora de coroar
A pele negra aparece
Ao a manga escorregar
E virou um grande alvoroço
Já não tinha mais colosso
A festa continuar.
A revolta foi enorme
Dos homens e da mulherada
Queriam saber quem era a nega
Que foi falsificada
Pra coroar Nossa Senhora
E mandaram-lhe embora
E a anja, desceu desespera.
A confusão foi grande
Pra pegar a nega safada
E saber quem falsificou
Porque isso é molecada
O fuxico correu o mundo
Pra pegar o imundo
Que fez a anja falsificada.
Naquele momento então
O racismo prevaleceu
A menina foi escondida
Porque o povo correu
Para o lado do altar
Querendo a anja crucificar
Do jeito que Jesus morreu.
O preconceito foi tão forte
Que até naquele momento
A fé desapareceu
E até mesmo o intento
Do amor fraterno
Tomou rumo pro inferno
Na garupa do jumento
Essa história é verdadeira
Eu estava lá e presenciei
Foi no município de Abaiara
Que na hora apreciei,
Aquela discriminação,
Na hora da coroação
Da mãe do nosso rei
O racismo tem história
E no cariri tem um canto
No Juazeiro do Norte
Onde uma negra com seu manto
Fez o milagre sagrado
Do sangue na hóstia derramado,
Mas o padre é quem virou Santo.
É mais um exemplo racista
Que acontece com mulher negra
Mas é parte das contradições
Do que a Igreja prega
Que é amor justiça e paz
Mas na prática ela não faz
E até direitos nega.
Mas também uma evangélica
A mim veio dizer
Que negro não pode ser anjo
Perguntei-lhe o que tem a ver
E respondeu-me idôneo
Anjo negro é o demônio.
Um comentário:
Recebi da poetisa Nina Gonçalves este seu poema e imediatamente o publiquei no Lenitivo. Se quiser conferir é só seguir o voo da esperança.
Ternura sempre!
Postar um comentário