quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Políticas para juventude, violência e drogas ilícitas.

A sociedade ao longo dos tempos vem discutindo políticas para juventude. Talvez seja necessário problematizar o tema como forma de ajudar a refletir melhor, na busca de encontrar as situações limites que envolvem a juventude. A principio é importante identificar os seguimentos sociais, étnicos. É pertinente questionar: São políticas a serviço de qual juventude? A que classe ela pertence? É a juventude do campo ou do espaço urbano? E que espaço urbano é esse? É da praia, do bairro chique, do condomínio, da periferia, da favela, ou das mansões? Quais são os anseios e desejos de cada parcela desses seguimentos jovens? Quais os processos culturais, econômicos, educativos, éticos e princípios perpassam a vida destes contingentes jovens? Qual a formação cidadã está chegando até as mentes férteis destes jovens cheios de criatividade e sonhos? Quais origens étnicas e de raças pertencem esses seguimentos da juventude? A violência e o uso de drogas ilícitas que permeiam o mundo da juventude é uma questão de classe? É uma questão de ignorância? É o meio em que vivem? É uma fuga? O que leva o jovem a aniquilar-se?
São questionamentos com muitas respostas, que variam de acordo com o olhar do seguimento aonde eles chegam. Conforme o ideal da instituição, pode-se encontrar viés de respostas diferenciadas que vão desde as questões teóricas, teológicas, filosóficas ou do senso comum. As organizações sociais quase sempre têm respostas prontas ou quase prontas apontando soluções direcionadas a um mundo de coisas, como: o esporte, a arte, a cultura, a educação, a geração de trabalho e renda, a crença com oração e louvor, a espiritualidade, o engajamento sócio-político, a família equilibrada, os governos, o fim do capitalismo, a construção do socialismo, políticas públicas adequadas, etc.
Ao provocar esta discussão, aponto um espaço geográfico pequeno, mas significativo para se tentar buscar no pensamento teórico e o exercício da praticidade das instituições públicas e civis que convivem com um desses seguimentos da juventude na periferia de Fortaleza. Mais especificamente ao lado da cerca que separa o Campus da Universidade Federal do Ceará – UFC, no bairro Pici.
Ali no Pici existe um contingente habitacional de 45 mil moradores (SER III), entre crianças, jovens e adultos. São pessoas que sofrem permanentemente agressões do estado capitalista, que impõe sobre a vida de grande parte delas a fome, o desemprego e coloca-as numa situação de subvida humana.
São situações que revelam a ineficiência do estado diante do quadro e que traz indignação, incomoda, gera inquietações e desafia cidadãos/ãs conscientes a buscar encontrar respostas. Nessa busca vamos percebendo que as luzes aparecem no fundo do túnel, através das várias formas de intervenções sócio-assistenciais, educativas, esportivas, culturais, espirituais, existentes nesse espaço geográfico de Fortaleza.
São intervenções executadas por meio de variados segmentos públicos e da sociedade civil. No entanto, se deparam com o mundo das drogas e da violência envolvendo todas as faixas etárias. Estas intervenções não conseguem amenizar a onda de eliminação física entre a juventude, proporcionada pelo comércio e uso das drogas ditas ilícitas.
Para se ter uma idéia da dimensão dessa violência, só nos últimos dois anos (2007 – 2008) mais de quarenta jovens e adolescentes foram eliminados, ceifadas suas vidas. São jovens matando jovens, além dos que se encontram nas prisões. São todos envolvidos com as drogas ilícitas, principalmente a maconha e o crack.
Por que tanta violência? Será que esse nível de violência poderíamos dizer que é uma questão de classe social? Ou será o modelo de sociedade que está sendo gestado na globalização? Para a sociedade do mercado mundial, a dependência química não faz girar capital? Quem no mundo global se beneficia com a produção e o comércio das drogas?
Pelo que observamos, a produção dessas drogas dependem de largas extensões de terras e a circulação é por mar, terra e ar. Portanto não são os pobres que estão nessa produção e mercado, mas o grande capital. Os pobres são apenas as vítimas, para servir de amostragem midiática da repressão do Estado. As batidas policiais estão nas favelas e periferias. E os cassinos, ...? Li um artigo na década de 70, dizendo que 60% do parlamento americano já haviam feito uso de drogas. Não é a toa que banalizam a vida, produzindo guerras no mundo, em busca do mercado de capital.
O grande problema nesse mundo da droga é que os jovens passam a banalizar a vida e entrar no crime.
Aí é que me parece necessário trazer o debate, para buscar o campo gerador da banalidade da vida, no meio dos jovens dependentes químicos.
Será que essa banalidade da vida se apresenta como negação dos valores humanos, filosóficos, éticos, numa tentativa de impor a liberdade do indivíduo, não como direitos e deveres e sim como um mundo que está sendo construído em torno de si? E que mundo é esse? É o mundo que torna os jovens “heróis”, libertos das amarras institucionais do Estado e da família?
Poderíamos até perguntar se estas questões envolvendo a juventude não estão relacionadas com a qualidade da educação. Mas não são os analfabetos que sustentam o tráfico de drogas nas favelas nem são os pobres, porque esses nem dinheiro têm para comprar, o pouco que consomem, roubam um celular, um tênis, fazem um bico ou comercializam os produtos da droga pra classe média e rica. Essa sim tem dinheiro, consome e sustenta tráfego em geral. A diferença é que eles não incomodam a “sociedade”, entram e saem, a segurança apenas mapeia, registra e ignora porque são “pessoas de bem”, quase sempre do meio cultural, artístico, acadêmico, empresarial. Já os pobres, ficam sobre a mira da repressão, do castigo, do crime, da extorsão, são acusados de transgredirem a lei.
Quanto à educação sabemos que no Brasil ela se molda pelo modelo do estado capitalista e é direcionado de acordo com os interesses que o mercado exige, no seu tempo. Portanto a educação não tem como objetivo formar cidadãos/ãs, mas sim, capacitar os indivíduos para o mercado de trabalho e o consumo no mundo capitalista.
Já a questão da violência, do tráfico e do consumo de drogas são temas que me parecem pertinentes que a sociedade e o Estado devem buscar encontrar respostas porque não se trata apenas da ilicitude, da criminalização ou de questão moral. O problema é que o jovem usuário muda radicalmente o comportamento: eles se tornam agressivos com a família e refletem a agressão na sociedade. Uma rebeldia sem causa.
As mães são quem mais sofrem estas agressões. Tenho conversado com algumas mães que falam que os filhos ou filhas assumem atitudes extremamente individualistas e ao serem cobrados, chegam a ameaçá-las de espancamento, tratá-las com palavrões e não mais as obedecem, querem viver na rua com os ditos amigos e o pior, ainda fazem da mãe escrava: ela tem que dar conta de tudo, lavar roupa, engomar, dar alimentação, logo geram filhos/as aí a avó vai ter mais uma tarefa, cuidar das netas ou netos. Os conflitos com irmãos ou irmãs se acirram. Enquanto que “no meio da galera” são pessoas livres, independentes. Tentam se justificar com atitudes de negação dos direitos coletivos, vive o individualismo e ainda relaxam sobre seus deveres e obrigações.
O debate deve ser mais profundo, porque sabemos das muitas ações que são exercidas pela sociedade organizada e pelo Estado, mas parece um grão de mostarda no deserto, diante dos poderes “extra-oficiais” que arrebanham jovens para a criminalidade. São jovens que estiveram na infância e adolescência em programas de políticas públicas, desde a creche, escola, os PETIS, Fome Zero, nos trabalhos sociais das ONGs e Igrejas.
Porém, todo esse trabalho é insuficiente ou mostra-se incapaz de direcionar os jovens para o bem. Fica patente que o tráfico tem poder de convencimento mais eficaz que todas as instituições, mesmo sem oferecer vida em abundância (Jesus), apenas lhes favorecem a fuga e o imediato que é o sonho de falsa liberdade. A liberdade da família e o vôo para o mundo livre, sem amarras, na busca da aventura, uma aventura sem perspectivas futuras, mas que os tornam “heróis” no mundo deles. O mundo em que estão, o mundo presente, o mundo egoísta, do eu, “eu sou o máximo”.
Os deserdados do mercado formal encontram nas forças extra-oficiais a sobrevivência, entrando no mercado de “trabalho” no campo da marginalidade onde há vasto espaço de geração de renda. São pessoas que tem sonhos, mas não vislumbram espaços de concretude e aí a vida vai se banalizando, dentro da concorrência do mercado das drogas ilícitas, até o fecho da violência.
E o desafio é: Como acolher o indivíduo que não vislumbra sonhar com outra alternativa no mercado formal tecnológico que o exclui?
Não são os delinqüentes, maioria, mas os poucos que tem, o estrago que causam é imensurável, desde a família, à sociedade e ao Estado. O poder público chega a deixar de investir em educação, para investir em segurança e saúde devido a tantos danos causados pelos efeitos das drogas.
Diante desse panorama: O doloroso é ver pais e mães destes jovens tentando de todas as formas salvá-los. Mas os caminhos cada vez mais vão estreitando, são raros os que conseguem sair do caminho das drogas, porque se sair é covarde, se ficar não tem retorno e ficando, o vício o consome e o vício o dominando, a sustentabilidade começa com furtos de objetos da família, posteriormente leva-os a agir fora da lei, ao crime.
A crise do capitalismo mundial se agrava, a social democracia foi engolida pelo neoliberalismo, os partidos de esquerda tentam a governabilidade do estado burguês e o socialismo é um processo lento em construção, principalmente depois da queda do muro de Berlim.
Mesmo assim, acredito na utopia e no sonho de que um outro mundo é possível. É bom nos perguntarmos: Que mundo precisa ser construído? Que modelo econômico precisa ser implantado? Que sociedade precisamos construir com a juventude?
Vamos juntos refletir, agir e refletir (Freire)?

Leonardo Sampaio
Pedagogo
08/10/2008

Um comentário:

Uma Escada para o Nada disse...

fico mt feliz de fazer pesquisas sobre juventude e encontrar blogs como o seu. sou de fortaleza e trabalho na coordenação do projovem, juntamente com uma equipe q tbm se preocupa com todas as juventudes que atende.
mt coerente e humano o seu blog em relação à juventude. indicarei aos educadores do programa.

abraços

ayla andrade
assistente social
ayla.andrade@gmail.com