Leonardo Sampaio
O momento eleitoral é decisivo pra definir os projetos
políticos e econômicos em disputa no país, a questão é se o eleitor tem
conhecimento quais são os projetos, o que eles representam para a sociedade e
quem os representa. Entender isso é o desafio quando se fala em voto
consciente, o voto do conhecimento ideológico acerca do modelo econômico e
sociopolítico do qual o votante acredita ser o melhor para humanidade e para o
planeta. Essa é uma definição para o voto consciente e a partir daí se busca o
candidato que se afina com o acreditar do eleitor. Portanto, o voto não deve
ser pessoal, mas em um projeto, projeto este que deve se seguir desde a
presidência da republica, governadores, senadores e deputados federais e
estaduais, bem como prefeitos e vereadores.
Nessa lógica de definição do voto consciente, nas coligações
partidárias pode não estar inclusa o seu projeto, porque cada partido tem suas
plataformas e definições ideológicas embutidas no seu estatuto. Então, votar no
partido ou em pessoa porque está na coligação poderá ser contraditória com seu
pensar o mundo, já que na coligação podem estar juntos interesses
diversificados e antagônicos, como interesses de classe, modelos de sociedades
e econômicos, se capitalista ou socialista etc.
Para facilitar entendimento, quem é quem na disputa eleitoral
no Brasil, é necessário perceber que o sistema econômico apresentado pelos dois
partidos hegemônicos na competição, no caso PSDB e PT, é o sistema capitalista,
sendo que, o PSDB integra o neoliberalismo,
que defende a diminuição do Estado, passando para o capital os serviços
essenciais à população, com intuito de gerar lucro para a classe empresarial,
utilizando o Estado para facilitar os Planos de Saúde, a Educação Privada etc.,
alinhando tudo ao Mercado, proporcionando acumulo de riquezas para uma minoria
da sociedade. Para os neoliberais, saúde pública, educação pública, bolsa
família, são gastos públicos para beneficiar pobres, o que significa tirar
recursos que deveram ser do capital. Eles seguem o modelo americano e europeu
que está em total decadência. Além de disso, o sistema capitalista neoliberal
para alcançar seus objetivos, não tem escrúpulos em relação à sustentabilidade
do planeta, nem à vida humana. Já o PT, mesmo gestando o sistema capitalista
por dentro do Estado, governa o país aplicando um programa desenvolvimentista voltado para a distribuição das
riquezas, tendo como finalidade o fim da fome, da miséria e um planeta
ecosustentável, que permita melhor qualidade de vida.
Aí é onde entra o papel do eleitor na definição do projeto de
Nação, se ele tem identidade com o neoliberalismo representado por Aécio Neves
para dar continuidade às privatizações, ao mercado e ao FMI como fez FHC ou se
sua identidade é com o programa desenvolvimentista em execução desde o governo
Lula, tendo continuidade com a Dilma Rousseff, com um programa que dá
sustentabilidade ao mercado, mas ao mesmo tempo favorece aos pobres, elevando uma
grande maioria à classe média, com geração de emprego e oportunidades para os
pequenos agricultores e microempresas, além de dar condições para que entre nas Universidades
e cursos técnicos, o que antes do PT no governo, era só a classe alta e média
alta que tinham acesso. Essa é a questão que o eleitor precisa compreender pra
não entrar na polinização de quem é mais corrupto se o PSDB ou o PT, porque
isso diminui o debate em torno das ideias e propostas dos projetos em ascensão
no percurso da eleição. Entre os projetos eleitorais tem ainda o PSOL, PSTU,
PCO, PSC e PSB que apresentam ideias socialistas e capitalistas para o
exercício do poder. São projetos que passam pela política internacional como o
recém formado BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que são
países em desenvolvimento e se articulam com os países pobres, rompendo com o
neoliberalismo e por outro lado o projeto neoliberal com o FMI e Mercosul de
interesse americano e europeu para continuar a exploração hegemônica no mundo. São
esses elementos que as pessoas precisam encarar com responsabilidade na hora de
votar, porque é o voto que define o destino do país.
Outra questão pertinente que está em jogo na eleição, é a
formação dos cartéis lobistas que se formam no congresso para fazer negócios,
eles são formados no período eleitoral com financiamento de setores
empresariais (indústrias farmacêuticas, industria do turismo, o agronegócio,
metalurgias, Friboi, Coca-cola, Bancos, e outros), é com verba dessas empresas
que os candidatos lobistas chegam nas cidades do interior, nas capitais e
bancam cabos eleitorais fortes de voto e assim se elegem, e ao chegarem no
congresso vão para as comissões que lhes interessam, com objetivo de gerar
demandas para as empresas que representam e muitas vezes penetram até no
executivo, pelos Ministérios, por meio dos acordos nas coligações partidárias. Esses são os
“políticos vigaristas e lacaios” (Bertold Brecht), eles se espalham nos
partidos de aluguel e partidos grandes e a prática é comprar voto do eleitor
corrupto por meio do cabo eleitoral corrupto e assim em vez do país ter os
representantes do povo, chega ao Senado, à Câmara Federal, às Assembleias
Legislativas e aos Governos Estaduais os lobistas que vão exigir da Presidência
da Republica cargos, Ministérios para fazer valer os interesses dos seus
financiadores de campanha. Por isso o eleitor precisa estar atento e conhecer
os candidatos a Senador, Deputado Federal, Estadual e a Governador para não
encher o congresso, os governos estaduais e assembleias legislativas desses
indivíduos.
O eleitor distante deste contexto é aquele “analfabeto
político” (Bertold Brecht) que independentemente de ser letrado ou não,
“detesta política” (Bertold Brecht), prefere não se aprofundar nela e deixa
para outros/as fazerem como quer. Já o eleitor politizado parte do princípio
que o exercício no poder executivo ou do mandato legislativo é a arte de fazer
o bem comum, como define Aristóteles sobre o que é política.
O exposto está na base do processo eleitoral, mas política é
um campo bem mais vasto que se discute na teoria e nas práticas vivenciadas
desde a origem da humanidade, as organizações comunitárias coletivas e as
sociedades imperiais, feudais, comunistas, socialistas, capitalistas e
anarquistas.
Essa discussão é “capenga” hoje, por vários motivos, entre
eles, a ausência de formação política na base da sociedade, como já foi feito
pelas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, Pastorais Sociais, os Núcleos do
PT, o Movimento Sindical, os Movimentos Populares, restando agora, com muita
limitação o MST, CPT e algumas ONGs que atuam apenas no campo, mesmo contando
com enorme redução de sua população por ter migrado para as áreas urbanas.
Essas instituições e movimentos são organizações da sociedade civil que sobrevive
diante de perseguições, ameaças e ainda são criminalizadas por enfrentarem o
agronegócio e a industrialização capitalista no uso da terra com a produção
agrícola e o agrotóxico.
Prefiro sonhar na utopia de uma sociedade livre, soberana,
sem amarras do capital e totalmente emancipada.
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