sábado, 17 de maio de 2014

O menino e o Lageiro


Leonardo Sampaio

Um menino muito travesso nasceu e viveu sua infância em um lugar chamado Gangorra, ele gostava de apreciar a natureza, os animais e o canto dos pássaros. A casa onde morava tinha uma vista muito ampla com coqueiros, serras, canaviais, engenhos e um Lageiro, lugar muito bonito e deslumbrante de se vê a natureza com um olhar infinito por trás das matas, raios coloridos entre nuvens que formam montanhas suspensas no ar, parecendo um paraíso coberto de véu, onde só há coisas boas pra se amar e viver em harmonia com a natureza e os deuses criadores do universo.

Outra beleza vista do Lajeiro que o menino apreciava era o raiar do dia quando sol nasce como uma esfera iluminada alumiando as gotas de orvalho que brilham nas folhas, dando vida à paisagem florida cheia de frutas e sementes que reproduzem às espécies vegetais e oferece um olhar verde que desaparece por trás das serras montanhosas por onde os raios solares começam a aparecer logo ao dia amanhecer.

No decorrer do dia, com o sol abrasador, as pedras esquentam e ao final da tarde quando o clima esfria, o Lageiro fica mais atraente ao olhar do menino que vê o sol se pôr com raios avermelhados, alaranjados e de tantas cores por entre nuvens e a paisagem da caatinga, serras e serrados que abrilhantam o ambiente até ao escurecer.

Às noites as estrelas aparecem, a Lua vai surgindo e as pedras arenosas do Lageiro vista de longe parece uma mancha branca no reflexo da noite que vai tornando o ambiente romântico e faz com que o menino olhe para o céu e veja o Cruzeiro do Sul, as Três Marias e a Estrela Dalva que aparece em meio a grandes constelações de planetas e meteoros que giram em torno da terra.

O Lageiro que o menino avista ao olhar pro universo é assim, romântico, mas ele não é só isso, ao vê-lo de perto, nas suas entranhas, ele trás as particularidades da paisagem de serrado com muitos espinhos, flores e frutos produzidos pela macambira, xiquexique, macambira, mandacaru, jurema e espinheiro que se entrelaçam entre o pau-ferro, jucá, timbaúba, angico, aroeira e o marmeleiro onde os pássaros gorjeiam e o soim pula de galho em galho e grita anunciando a presença do bicho homem, pedrador da flora e da fauna, que muitas vezes chega com baladeira, funda, badoque, arapuca, arataca ou espingarda para depredá-los.

Esse Lageiro que o menino passeou por dentro, é também um lugar sagrado que até entre os espinhos nasce a coroa de frade e segundo a crença Jesus, José e Maria andaram naquele solo, montado em seu Jumento pelos caminhos de pedras e espinhos como pode ser visto nas marcas de pegadas do rastro do animal e os pés descalço do menino Jesus, seu pai e sua mãe santíssima como é mostrado na lenda local.

É desse lugar dito sagrado que o menino escutava à meia noite a voz dos Penitentes cantando seus hinos ao pé de uma cruz fincada no topo do Lajeiro e dali saíam pelas estradas e chegavam no alpendre da casa do menino e o assustava, além de deixá-lo com medo ao perceber os homens se penitenciando com açoites no próprio corpo até sangrar para pagar os pecados e encontrar o caminho da salvação. O menino ouvia os benditos, ao dia 03 de maio, quando encerrava com a Festa da Santa Cruz.

Nos mistérios sagrados do Lajeiro passou ainda o dilúvio anunciado por Deus, quando o universo foi coberto por águas e naquela localidade, pode ser constatado através das pedras com fósseis de peixes, madeira e outros animais aquáticos que viveram por lá onde a barca de Noé fez sua travessia em toda a região do Cariri.
 

Ao falar em sagrado, um açude foi construído nos Lageiros pelo Padre Ibiapina que era um andante dos sertões cearenses em busca de amenizar os efeitos das secas e o sofrimento do povo e ao passar naquele lugar construiu um reservatório de água que tempos depois quebrou a parede e nunca foi recuperado, ficando o riacho formando Grotas nas pedras e acumulando água por algum tempo.

O simbolismo religioso do Lageiro é tão significativo que o Padre Duza construiu uma cruz de cimento e estabeleceu a missas da Santa Cruz, que se tornou uma atração turística religiosa e cultural nos dias 02 e 03 de maio.

As Grotas do Lageiro era um lugar onde o menino gostava de tomar banho em tempos de inverno logo depois das chuvas, quando as águas do riacho estava correndo e acumulando nas grotas ou cacimbinhas formadas nas pedras.

As Grotas tinham outra utilidade era quando o sol aparecia e as mulheres lavadeiras chegavam aproveitando a água pra lavar roupas e nas pedras estendiam pra secar, formando um senária de relação do humano com a paisagem da caatinga e o voo rasante do pássaro lavandeira embelezando mais o ambiente.

O menino andou ainda no pé do Lageiro, onde fica a Furna de Maria Viado, era uma loca na pedra, dentro do mato que serviu de esconderijo para uma família se esconder com medo da guerra e ali viveram por um período. Ao abandonarem o local, o ambiente passou a ser habitado por animais de diversas espécies, como morcego e outros bichos.

O menino foi embora daquele lugar e ao retornar depois de adulto encontrou o lugar desprezado, com erosões, lixo, queimadas, a cruz original com mais de 200 anos de existência estava sem braço e a vegetação natural de serrado desaparecendo por destruição de ações desumana do bicho homem.

Espera-se que Jesus Cristo retorne lá, puna os agressores do meio ambiente e faça um novo milagre, para que os meninos das novas gerações possam ter a satisfação de conhecer aquele lugar tão lindo e tão belo visto pelo menino da Gangorra.

17/05/2014

Um comentário:

Unknown disse...

Você iniciou um comentário no youtube sobre o quinto império e o padre malagrida, porém a mensagem não tem mais de que 20 segundos. Me parece que foi impedida. Tem algum lugar que eu possa estar acessando este conteúdo.
Guilherme Gaioso
ggaioso@r7.com