Leonardo Sampaio
Entre flores e espinhos
Nascem filhos da caatinga
Como a flor do mandacaru
A cabaça ou moringa
Que guarda água pra beber
Na cuia ou na seringa.
Mas quando a chuva não vem
O liquido só é achado
No talo do xiquexique
E até água pro Batizado
É na coroa de frade
Que o líquido é encontrado.
A caatinga tem beleza
Em tempo de floração
O xiquexique e o mandacaru
Servem para ornamentação
E a folha da macambira
Faz-se a decoração.
A planta macaubeira
Tem fruto e tem espinho
Com o espinho marca o bordado
Com um traçado bem fininho
O fruto é mascado e quebrado
Pra se comer o coco pequenininho.
Assim é a geografia
Com toda essa vegetação
Chamada de caatinga
Que é no nordeste a região
Onde tem planta que seca
E com chuva vem floração.
Toda essa vegetação
Com plantas espinhosas
Sem sombra nem encosto
Mas tem belas flores e rosas
Que soltam o seu perfume
E a caatinga fica cheirosa.
25/05/2014
Este é um instrumento que tem por finalidade divulgar produções literárias, poéticas, culturais e ambientais. Sou educador popular, Pedagogo, Prof. da Rede de Ensino de Fortaleza, escritor, poeta e pesquisador popular. A foto tirei no amanhecer do Sítio Gangorra em Abaiara - Região do Cariri Cearense. Minha terra natal.
domingo, 25 de maio de 2014
sábado, 17 de maio de 2014
O menino e o Lageiro
Leonardo
Sampaio
Um
menino muito travesso nasceu
e viveu sua infância em um lugar chamado Gangorra, ele gostava de
apreciar a natureza, os animais e o canto dos pássaros. A
casa onde morava
tinha uma vista
muito ampla com
coqueiros, serras, canaviais, engenhos
e um Lageiro,
lugar muito bonito e
deslumbrante de
se vê
a natureza com um olhar infinito por trás
das matas, raios coloridos entre nuvens que formam montanhas
suspensas no ar, parecendo um paraíso coberto de véu, onde só há
coisas boas pra se amar e viver em harmonia com a natureza e os
deuses criadores do universo.
Outra
beleza vista do Lajeiro que o menino
apreciava
era o raiar do
dia quando
sol nasce como uma esfera iluminada alumiando as gotas de orvalho que
brilham nas folhas, dando vida à paisagem florida cheia de frutas e
sementes que reproduzem às espécies vegetais e oferece um olhar
verde que desaparece por trás das serras montanhosas por onde os
raios solares começam a aparecer logo ao dia amanhecer.
No
decorrer do dia, com
o sol abrasador, as pedras esquentam e ao
final da
tarde
quando o clima esfria, o Lageiro
fica mais atraente ao olhar do
menino que vê o
sol se pôr
com raios
avermelhados, alaranjados e
de tantas cores
por entre nuvens e a paisagem da caatinga, serras e serrados que
abrilhantam o ambiente até ao escurecer.
Às
noites as
estrelas aparecem,
a Lua vai
surgindo e as
pedras arenosas do
Lageiro
vista
de longe parece uma mancha branca no reflexo da noite que vai
tornando o ambiente romântico e faz
com que o menino
olhe
para o céu e veja
o Cruzeiro do Sul, as Três Marias e
a Estrela Dalva que aparece em meio a grandes
constelações
de planetas e meteoros
que giram em torno
da terra.
O
Lageiro
que o menino
avista ao olhar pro universo é
assim, romântico,
mas ele não
é só isso, ao vê-lo
de perto, nas suas entranhas, ele trás as particularidades da
paisagem de serrado com muitos
espinhos,
flores e
frutos produzidos
pela macambira,
xiquexique, macambira, mandacaru, jurema e
espinheiro que
se entrelaçam entre o pau-ferro, jucá,
timbaúba, angico, aroeira
e o marmeleiro onde os
pássaros gorjeiam e o
soim
pula de galho em galho e grita
anunciando
a presença do bicho homem, pedrador
da flora e da
fauna, que
muitas vezes chega
com baladeira,
funda, badoque, arapuca, arataca ou espingarda
para
depredá-los.
Esse
Lageiro
que o menino passeou por dentro, é também
um lugar sagrado que
até entre os espinhos nasce a coroa de frade e segundo a
crença Jesus,
José e Maria andaram naquele solo, montado em seu Jumento pelos
caminhos
de pedras e espinhos como
pode ser visto
nas
marcas de
pegadas do
rastro do animal
e os pés descalço do menino Jesus,
seu pai e sua
mãe santíssima como
é mostrado na lenda local.
É
desse lugar dito
sagrado que o
menino escutava à meia noite a voz dos Penitentes cantando seus
hinos ao pé de uma cruz fincada no topo do Lajeiro e dali saíam
pelas estradas
e chegavam no alpendre da casa do menino e
o assustava,
além de
deixá-lo com
medo ao perceber
os homens se penitenciando com açoites
no próprio corpo até sangrar para pagar os pecados e encontrar o
caminho da salvação.
O menino ouvia
os benditos, até
o dia 03
de maio, quando
encerrava com a
Festa da Santa Cruz.
Nos
mistérios sagrados do
Lajeiro passou
ainda o dilúvio anunciado por Deus, quando o universo foi coberto
por águas e naquela localidade, pode ser constatado através das
pedras com
fósseis de peixes,
madeira e
outros animais aquáticos que viveram por
lá onde
a barca de Noé fez
sua travessia em toda a região do Cariri.
Ao
falar em sagrado, um açude foi construído nos Lageiros pelo Padre
Ibiapina que era um andante dos sertões cearenses em busca de
amenizar os efeitos das secas e o sofrimento do povo e ao passar
naquele lugar construiu um reservatório de água que tempos depois
quebrou a parede e nunca foi recuperado, ficando o riacho formando
Grotas nas pedras e acumulando água por algum tempo.
O
simbolismo religioso do Lageiro é tão significativo que o Padre
Duza construiu uma cruz de cimento e estabeleceu a missas da Santa
Cruz, que se tornou uma atração turística religiosa e cultural nos
dias 02 e 03 de maio.
As
Grotas do Lageiro era um lugar onde o menino gostava de tomar banho
em tempos de inverno logo depois das chuvas, quando as águas do
riacho estava correndo e acumulando nas grotas ou cacimbinhas
formadas nas pedras.
As
Grotas tinham outra utilidade era quando o sol aparecia e as mulheres
lavadeiras chegavam aproveitando a água pra lavar roupas e nas
pedras estendiam pra secar, formando um senária de relação do
humano com a paisagem da caatinga e o voo rasante do pássaro
lavandeira embelezando mais o ambiente.
O menino andou ainda no pé do Lageiro, onde fica a Furna de Maria Viado, era uma loca na pedra, dentro do mato que serviu de esconderijo para uma família se esconder com medo da guerra e ali viveram por um período. Ao abandonarem o local, o ambiente passou a ser habitado por animais de diversas espécies, como morcego e outros bichos.
O
menino foi embora daquele lugar e ao retornar depois de adulto
encontrou o
lugar desprezado, com erosões, lixo, queimadas, a cruz original com
mais de 200 anos de
existência estava
sem braço e a vegetação natural de serrado desaparecendo por
destruição de ações desumana do bicho homem.
Espera-se
que Jesus Cristo retorne lá, puna os agressores do meio ambiente e
faça um novo milagre, para que os meninos das novas gerações
possam ter a satisfação de conhecer aquele lugar tão lindo e tão
belo visto pelo menino da Gangorra.
17/05/2014
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