Leonardo Sampaio
Educador e gestor público
A história da humanidade no Brasil, desde a invasão europeia, trás um cunho teológico definido com o ideológico que traduz a divisão de raças. Se não, vejamos: No império índio não tem alma, na escravidão, negro também não tem alma, portanto podem ser tratados como animais pelos aristocratas, nobres e senhores. Já no feudalismo índios e negros passam a ter alma, por decreto papal, no entanto, as igrejas cristãs falam para estas etnias que Deus os criou pobres por sua vontade, ou seja, como pessoas inferiores, que precisam se conformar com a vontade do pai. E ainda argumentam: “Assim como o rico precisa do pobre, o pobre também precisa do rico, um não pode viver sem o outro”. Dessa forma, o cristianismo prega que a criação divina já deixou determinada que a sociedade tem que ser dividida em classe por vontade do criador. Veja aí a intencionalidade ideológica e teológica patriarcal que cria um deus, um tanto perverso na distribuição de suas riquezas, ele admite a riqueza e a pobreza como uma coisa natural da criação divina. Esse discurso, vem do cristianismo pentecostal que afirma para os povos das etnias que a propriedade e o acumulo de bens fazem parte da sabedoria do homem e dos dons que Deus os deu e quem violar a lei divina será condenado ao purgatório ou ao inferno. Isso, pra dizer, que o acumulo de riquezas é intocável. No entanto, o filho de Deus, Jesus Cristo diz o contrario disso aí, quando fala: ”Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância (João 10-10)”.
Essa teologia discriminatória e excludente, é a que encontra o deus capitalista, onde os valores são a partir do Ter, do individualismo e do consumismo em que o indivíduo tem sua função na sociedade, relacionados com a contradição entre trabalho, capital e mais valia e que tudo vira mercadoria, até a mão de obra. Essa sociedade sempre assegurou aos ricos as tecnologias modernas e aos pobres trabalhos braçais e a reprodução para mão de obra. Dessa forma podemos dizer que a raiz da pobreza e miséria vem desses modelos teológicos, sócios, político, econômico excludentes. São modelos que agravam a desigualdade com as tecnologias modernas reduzindo mão de obra e produzindo Seres descartáveis, jogados ao relento ou recantos inabitáveis, como: beiras de mangues, morros, serras, pé de serras, com porteiras e cercados, parecendo depósitos de pessoas inúteis para o mercado consumista e de trabalho.
As principais vítimas destes modelos políticos e econômicos, desde o império à república, são os índios e negros onde as necessidades básicas são negadas pelo Estado, como: saúde, educação, tralho e renda, terra para plantar e morar com dignidade. Estes só passaram a ter direito do Estado na constituição de 1988, para assegurar as necessidades básicas da pessoa humana, até porque o Estado sempre foi governado pela elite detentora do capital e os impostos arrecadados utilizados conforme os interesses desta classe, em detrimento aos direitos da grande maioria da população.
Portanto, para erradicar a pobreza, necessita inverter essa lógica de concentração de capital a partir do município que é o lugar onde as pessoas vivem. É no município que está às contradições de classes em todos os níveis e é dele que deve partir as soluções para as desigualdades e exclusões sociais. “O autêntico cristão deve consolar os aflitos e afligir os consolados e acomodados”. Dom Tonino Bello, bispo da diocese do sul da Itália.
22/05/2011
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