Leonardo Sampaio
Ser negro, não basta à pele
É assumir a negritude
E combater o racismo
É ir buscar a virtude
As artes e a beleza
O ancestral e a nobreza
Resistência e atitude.
O ser negro está no corpo
Que dança com alegria
E espiritualidade
Que o orixá propicia
Com muita fé e amor
Como o Deus protetor
Que os abençoa e guia.
O ser negro é cultura
É ser afrodescendente
É abraçar sua África
É ser forte e inteligente
É arte com qualidade
É sentir prosperidade
É viver o excelente.
O ser negro é vivência
É ser poeta e escritor
É elevar os estádios
É ser artista e cantor
É fazer o carnaval
É o samba de quintal
É desfilar com primor.
O ser negro é assumir
A sua ancestralidade
De um povo escravizado
Tratado sem piedade
Com trabalho forçado
Vendido e açoitado
Mas lutou por liberdade.
Ser negro é ter as raízes
Do continente africano
E a miscigenação
Indígena ou angolano
Sem o embranquecimento
Da alma ou o pigmento
Negro, índio ou americano.
O ser negro na cultura
É axé e maracatu
Frevo e bumba-meu-boi
Samba, feijoada e angu,
É reggae e carimbó
Vatapá e o Deus Exu.
Ainda sobre a cultura
Tem umbanda e candomblé
E a expressão nordestina
Coco, ciranda e afoxé
Tem cura da benzedeira
E a crença na rezadeira
Tudo com arte e fé.
Ser negro é resistência
Saber criar comunidade
É construir os quilombos
É lutar por liberdade
É manter a sua cultura
E sustentar a estrutura
Com nova brasilidade.
Ser negro é mais que isso
Mas remete pra estupidez
Do ser racista no mundo
Com tanta insensatez
Querendo inferiorizar
E o pigmento usar
Mas só mostra a mesquinhez.
É muita ignorância
Uma pessoa ser racista
Por ver na outra a cor preta
E vai virando egoísta
Sem estudar a diáspora
Da escravidão até agora
Tornando-se oportunista.
Esse é Capitão da Mata
Que se junta ao Carrasco
São traidores de seu povo
E se tornam o fiasco
Tentando embranquecimento
Praticam açoitamento
Virando o próprio penhasco.
É imigração forçada
Que traz em si sua cultura
E não deixa desprezada
Ao chegar a um mundo novo
Reconstrói com o seu povo
Tornando abrasileirada.
Por isso não tem sentido
Nem mesmo uma razão
Pra existir o racismo
Nem carrasco ou capitão
Gente desumanizada
Que tem que ser desprezada
Por não possuir coração.
Coração humanizado
Nunca pode ser racista
E nem ter o preconceito
Que existe no fascista
Sendo ele escravocrata
Sempre fazendo bravata
Aliado com o nazista.
Toda colonização
Sempre é desumanizada
Traz em si a exploração
E com gente escravizada
Que seja no feudalismo
Ou mesmo capitalismo
Será a mesma pisada.
Pisada da negação
De vida com dignidade
Gerando fome e miséria
Sem direito e piedade
Da Senzala pra favela
Sem direito nem a vela
Sua força é a comunidade.
Comunidade da vida
E da solidariedade
Onde o pão se multiplica
É lá que reina a piedade
E um povo humanizado
Que tem pelo outro o cuidado
Vendo em tudo a igualdade.
Tratam-se como humano
Branco, negro ou indígena,
Vivem todos como mano
Oram, rezam e dão a mão,
Não importa a religião
Lá não tem mundo mundano.
Lá só tem o ser humano
Ninguém é endinheirado
A dor de um é de todos
Não se fica desprezado
Dividem o pouco que tem
E assim todos existem
Tudo é compartilhado.
Isso é ser negro na tribo,
Quilombo e comunidade
É o ser raça africana
É o ter ancestralidade
Vivência humanitária
Sem ser fragmentária
No Urbano ou na Cidade.
Na leitura e nos estudos
No mundo intelectual
Nas publicações de livros
Negritude e visual
Os negros têm mais destaque
E um novo almanaque
Para o mundo cultural.
Tem leis que os favorecem
O acesso à educação
Ao nível superior
Castiga com punição
O racista transgressor
Que trata como opressor
Do negro, negra e sua nação.
O povo negro reagiu
Por ser tratado inferior
Foi à luta e conquistou
Um patamar superior
Nos negócios e nas artes
Ou em quaisquer outras partes
Como editor ou escritor.
O racismo é profundo
Nem Jesus Cristo escapou
Em Nazaré era negro
E o europeu inventou
Uma cor que embranqueceu
Mesmo ele sendo judeu
A branquitude encantou.