terça-feira, 29 de outubro de 2013

O GUARÁ E O GUAXINIM


Autor: Leonardo Sampaio

Um Guará de tanto chupar cana ficou gordo e baixinho. Ele vivia no campo em um lugar chamado queimada, que ficava bem distante das áreas urbanas e bem próxima da comunidade negra do Urubu. Era um animal que tinha muito medo de andar à noite, por isso gostava de aproveitar os dias para visitar familiares, passear ou fazer negócios. Seu transporte preferido era andar montado em uma mula branca, mansa, paciente e bastante robusta para agüentar o peso do Guará. Nessas suas andanças nem sempre dava tempo resolver tudo que queria antes de escurecer. E os motivos eram variados, podia ser devido a histórias longas que teve de ouvir, ou um bate-papo, um almoço e uma soneca depois da refeição e até um jantar. Assim o dia ia passando, o sol vai se pondo, os pássaros param de cantar e se recolhem aos seus galhos ou ninhos, os animais deitam e repousam remoendo o alimento, que comeu durante o dia. A noite escura chega, as estrelas vão brilhando, o sereno começa a cair, o clima vai esfriando e quando tem lua cheia a paisagem da caatinga e do serrado no sertão nordestino fica mais encantador.
Porém, durante as noites muitas coisas estranhas acontecem nas matas que ficam ao lado das estradas empoeiradas ou úmidas das chuvas. São coisas que aparecem e fazem arrepiar, como: o barulho da rasga mortalha, o canto da coruja, o assobio da caipora e o açoite nos cachorros, as almas do purgatório, tochas de fogo, lobisomem, morcego vampiro, raposa pegando galinhas, furão, comendo ovo nos ninhos e o pior de tudo é que no caminho mais próximo pra sua casa ao passar pelo Sítio Gruta tem o Bode da Braúna que é um bicho valente e destemido que sai de dentro da mata e pula no meio da estrada na hora em que o bicho homem aparece em seu território, durante a noite. Já na outra estrada mais longa pra chegar a sua casa, indo pelo Sítio Roncadeira, aparece às almas do purgatório pedindo reza pra se salvar ou as tochas de fogo em lugares onde o bicho homem foi assassinado e condenado ao inferno.
Tudo isso assusta até a mula que chega mesmo a se acôar pra não passar. Por isso, não tem quem faça o Guará passar nesse caminho depois que escurece, nem mesmo com a companhia da mula. Quando acontece de chegar à noite e o Guará ainda estiver distante de casa, ele dá um grito chamando atenção dos amigos, vai até a casa do parente Guaxinim e um dos filhotes muito corajoso, que não tem medo de nada, vai deixá-lo em casa, montado em um cavalo. Depois o filhote de Guaxinim volta sozinho sem temer nenhuma assombração, porque aprendeu na escola que o animal mais perigoso é o bicho homem que destrói até o próprio ambiente que ele mesmo mora. Mas o filhote de Guaxinim é destemido assim, porque aprendeu também, que todas essas histórias, são lendas e que nada acontece de verdade, a não ser criada pelo medo, ou pela criação da mente humana, como o sonho.

27/10/2013