TEXTOS e POESIAS

sábado, 27 de dezembro de 2008

BOAS FESTAS

Paz
União
Alegrias
Esperanças
Amor....Sucesso
Realizações......Luz
Respeito........Harmonia
Saúde ..............Pureza
Felicidade ........Solidariedade
Confraternização ...Humildade
Amizade ... Sabedoria... ...Perdão
Igualdade... Liberdade... Boa-sorte
Sinceridade... Estima ......Fraternidade
Equilíbrio... Dignidade ........Benevolência
Fé............Bondade..........Paciência.......Gratidão.....Força
Tenacidade................Prosperidade..................Reconhecimento

domingo, 2 de novembro de 2008

VENDE-SE UM AÇUDE




Lendo a memória da escritora Rachel de Queiroz sobre o Sítio Pici, identifiquei em uma foto, ela caminhando sobre a parede do Açude do Sítio, quando ali morou e escreveu o Livro O Quinze.
Aquela foto me surpreendeu e fortaleceu um afeto muito forte em defesa daquela área verde, última da memória histórica do Sítio Pici. Até me emocionei quando lembrei que em 1966 quando cheguei a Fortaleza também caminhei naquela parede do Açude, apesar de estar quebrada um trecho, mas ainda acumulava água e juntava animais naquela paisagem, muito verde, cheia de arvores, fruteiras e mata virgem.
As famílias que moram nessa região desde os anos 40, contam histórias belíssimas sobre a beleza da natureza com águas limpas e cristalinas, onde as mulheres lavavam roupas e as crianças em volta tomavam banho e pescavam como um lazer no convívio de vida entre o ser humano e o meio ambiente.
O Movimento Pró Construção do Parque Rachel de Queiroz, juntamente com o Espaço Cultural Frei Tito de Alencar – ESCUTA realizaram dia 15 de agosto 2008, a Trilha Cultural com o tema: Os caminhos da escritora Rachel de Queiroz no Sítio Pici.
A intenção é despertar a sociedade para a defesa da urbanização dessa última área verde restante no bairro Henrique Jorge, que é exatamente o leito do açude. Os movimentos articuladores da Trilha Cultural defendem que esse verde, seja entregue a comunidade como área de lazer, oferecendo melhor qualidade de vida à população. Na pauta cultural tem também o tombamento da Casa onde a escritora morou, pra que seja transformada em biblioteca pública, como forma de estimulo a leitura.
Bem! Para minha surpresa dia 13/09/08 passava ao lado da Praça da Igreja do Henrique Jorge e avistei uma placa num poste da avenida com os dizeres VENDE-SE e a seta apontando para o “açude”. A indignação de repente se manifesta e falo pra o Jucelino que estava do meu lado. Só falta dizerem “vende-se um açude”. E comentava é mais um desprezo pela preservação da cultura de um povo, de uma cidade. É a ausência da sensibilidade humana e a ganância manifesta de forma predadora da vida. É a indiferença do poder público com a preservação dos mananciais urbanos. Talvez não demore, em um curto espaço de tempo o “açude” será aterrado.
Nesse olhar sobre o desprezo do poder público, na passagem da Trilha, foi observado que nessa mesma área, do outro lado pela Rua Edgar de Arruda com Antônio Ivo tem uma construção obstruindo o canal de concreto feito pela prefeitura. É uma obra de drenagem feita no que já foi um Riacho afluente do açude.
Mas não é só isso, pela Rua Mons. Hipólito Brasil na mesma área verde, já foi aterrada uma parte e construído prédios e apartamentos que estão alugados no único terreno público dessa área.
A história não pára aqui, esse terreno no Henrique Jorge, é parte da área em que a própria Prefeitura de Fortaleza, elaborou o Projeto Parque Rachel de Queiroz, que custou 400 mil reais, pago pela Prefeitura a UECE/IEPRO. É também o Projeto que foi aprovado no Orçamento Participativo de 2005 na SER III. É o projeto que em 2008 foi defendido em Audiência Pública na Câmara de Vereadores e na Assembléia Legislativa. É o projeto que deputados e vereadores se comprometeram em liberar recursos de bancada para dar inicio as obras. É o projeto parte da carta do Grito dos Excluídos de 2008.
Pelo visto, não basta só se indignar, é necessário gritar, ou até acampar exigindo atitudes dos gestores públicos na preservação do verde, a serviço do bem estar e da qualidade de vida dos seus munícipes.

Leonardo Sampaio
Educador
20/09/08

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Apartheid sócio-territorial

Opinião – Jornal O POVO

26/08/2008
Leonardo Sampaio
Educador Popular

A gestão pública é como um instrumento identificador dos processos de desigualdade socioeconômico e socioambiental da Cidade como podemos ver a infra-estrutura urbana em Fortaleza, o desnível de equipamentos públicos e privados encontrados do lado Leste e Oeste da Cidade. Do lado Leste circulam os maiores investimentos de capital privado e público com estrutura urbanística voltada para servir a elite dominante, política, empresarial e turística. Elite essa, que ao longo dos anos governa a Cidade dentro de um apartheid sócio-ambiental, com políticas de desfavelamento da região, transferindo os pobres para o lado Oeste e Sul (Conjunto Marechal Rondon - Jurema em Caucaia e Conjunto Palmeiras) em péssimas condições de moradia, situação, que levou a uma resistência das comunidades faveladas do lado Leste, exigindo permanecerem onde estavam, mas, com melhorias de vida, construindo equipamentos públicos capazes de atender suas necessidades, como urbanização, construção de moradias, reforma de casas, escolas, postos de saúde, água, esgoto e outros. O que resultou na construção dos Conjuntos Santa Luzia, Santa Terezinha e Santa Joana D´Arc.
Já no lado Oeste residem as classes trabalhadoras pobre e média, a classe média tenta intermediar um padrão de vida, com as estruturas do Oeste e a pobre padece da discriminação e arrogância da Gestão do Estado burguês distanciando-a da felicidade humana, o Oeste da Cidade de Fortaleza, é o lado em que a gestão pública nega até os direitos constituídos em toda sua amplitude como qualidade de vida. Negação essa, que leva esse contingente populacional, ocupar espaços vazios, muitas vezes inadequados a moradia, como: mangues, margens de açudes, rios e riachos sufocando o verde tão necessário à vida.
É nesse pouco verde que resta, aonde nasce a resistência dos moradores da região Oeste pela preservação e construção de equipamentos urbanísticos que venham assegurar dignidade e vida a essa população penalizada pelas gestões públicas, diminuindo assim, o processo de apartação sócio-territorial da Cidade de Fortaleza.

Políticas para juventude, violência e drogas ilícitas.

A sociedade ao longo dos tempos vem discutindo políticas para juventude. Talvez seja necessário problematizar o tema como forma de ajudar a refletir melhor, na busca de encontrar as situações limites que envolvem a juventude. A principio é importante identificar os seguimentos sociais, étnicos. É pertinente questionar: São políticas a serviço de qual juventude? A que classe ela pertence? É a juventude do campo ou do espaço urbano? E que espaço urbano é esse? É da praia, do bairro chique, do condomínio, da periferia, da favela, ou das mansões? Quais são os anseios e desejos de cada parcela desses seguimentos jovens? Quais os processos culturais, econômicos, educativos, éticos e princípios perpassam a vida destes contingentes jovens? Qual a formação cidadã está chegando até as mentes férteis destes jovens cheios de criatividade e sonhos? Quais origens étnicas e de raças pertencem esses seguimentos da juventude? A violência e o uso de drogas ilícitas que permeiam o mundo da juventude é uma questão de classe? É uma questão de ignorância? É o meio em que vivem? É uma fuga? O que leva o jovem a aniquilar-se?
São questionamentos com muitas respostas, que variam de acordo com o olhar do seguimento aonde eles chegam. Conforme o ideal da instituição, pode-se encontrar viés de respostas diferenciadas que vão desde as questões teóricas, teológicas, filosóficas ou do senso comum. As organizações sociais quase sempre têm respostas prontas ou quase prontas apontando soluções direcionadas a um mundo de coisas, como: o esporte, a arte, a cultura, a educação, a geração de trabalho e renda, a crença com oração e louvor, a espiritualidade, o engajamento sócio-político, a família equilibrada, os governos, o fim do capitalismo, a construção do socialismo, políticas públicas adequadas, etc.
Ao provocar esta discussão, aponto um espaço geográfico pequeno, mas significativo para se tentar buscar no pensamento teórico e o exercício da praticidade das instituições públicas e civis que convivem com um desses seguimentos da juventude na periferia de Fortaleza. Mais especificamente ao lado da cerca que separa o Campus da Universidade Federal do Ceará – UFC, no bairro Pici.
Ali no Pici existe um contingente habitacional de 45 mil moradores (SER III), entre crianças, jovens e adultos. São pessoas que sofrem permanentemente agressões do estado capitalista, que impõe sobre a vida de grande parte delas a fome, o desemprego e coloca-as numa situação de subvida humana.
São situações que revelam a ineficiência do estado diante do quadro e que traz indignação, incomoda, gera inquietações e desafia cidadãos/ãs conscientes a buscar encontrar respostas. Nessa busca vamos percebendo que as luzes aparecem no fundo do túnel, através das várias formas de intervenções sócio-assistenciais, educativas, esportivas, culturais, espirituais, existentes nesse espaço geográfico de Fortaleza.
São intervenções executadas por meio de variados segmentos públicos e da sociedade civil. No entanto, se deparam com o mundo das drogas e da violência envolvendo todas as faixas etárias. Estas intervenções não conseguem amenizar a onda de eliminação física entre a juventude, proporcionada pelo comércio e uso das drogas ditas ilícitas.
Para se ter uma idéia da dimensão dessa violência, só nos últimos dois anos (2007 – 2008) mais de quarenta jovens e adolescentes foram eliminados, ceifadas suas vidas. São jovens matando jovens, além dos que se encontram nas prisões. São todos envolvidos com as drogas ilícitas, principalmente a maconha e o crack.
Por que tanta violência? Será que esse nível de violência poderíamos dizer que é uma questão de classe social? Ou será o modelo de sociedade que está sendo gestado na globalização? Para a sociedade do mercado mundial, a dependência química não faz girar capital? Quem no mundo global se beneficia com a produção e o comércio das drogas?
Pelo que observamos, a produção dessas drogas dependem de largas extensões de terras e a circulação é por mar, terra e ar. Portanto não são os pobres que estão nessa produção e mercado, mas o grande capital. Os pobres são apenas as vítimas, para servir de amostragem midiática da repressão do Estado. As batidas policiais estão nas favelas e periferias. E os cassinos, ...? Li um artigo na década de 70, dizendo que 60% do parlamento americano já haviam feito uso de drogas. Não é a toa que banalizam a vida, produzindo guerras no mundo, em busca do mercado de capital.
O grande problema nesse mundo da droga é que os jovens passam a banalizar a vida e entrar no crime.
Aí é que me parece necessário trazer o debate, para buscar o campo gerador da banalidade da vida, no meio dos jovens dependentes químicos.
Será que essa banalidade da vida se apresenta como negação dos valores humanos, filosóficos, éticos, numa tentativa de impor a liberdade do indivíduo, não como direitos e deveres e sim como um mundo que está sendo construído em torno de si? E que mundo é esse? É o mundo que torna os jovens “heróis”, libertos das amarras institucionais do Estado e da família?
Poderíamos até perguntar se estas questões envolvendo a juventude não estão relacionadas com a qualidade da educação. Mas não são os analfabetos que sustentam o tráfico de drogas nas favelas nem são os pobres, porque esses nem dinheiro têm para comprar, o pouco que consomem, roubam um celular, um tênis, fazem um bico ou comercializam os produtos da droga pra classe média e rica. Essa sim tem dinheiro, consome e sustenta tráfego em geral. A diferença é que eles não incomodam a “sociedade”, entram e saem, a segurança apenas mapeia, registra e ignora porque são “pessoas de bem”, quase sempre do meio cultural, artístico, acadêmico, empresarial. Já os pobres, ficam sobre a mira da repressão, do castigo, do crime, da extorsão, são acusados de transgredirem a lei.
Quanto à educação sabemos que no Brasil ela se molda pelo modelo do estado capitalista e é direcionado de acordo com os interesses que o mercado exige, no seu tempo. Portanto a educação não tem como objetivo formar cidadãos/ãs, mas sim, capacitar os indivíduos para o mercado de trabalho e o consumo no mundo capitalista.
Já a questão da violência, do tráfico e do consumo de drogas são temas que me parecem pertinentes que a sociedade e o Estado devem buscar encontrar respostas porque não se trata apenas da ilicitude, da criminalização ou de questão moral. O problema é que o jovem usuário muda radicalmente o comportamento: eles se tornam agressivos com a família e refletem a agressão na sociedade. Uma rebeldia sem causa.
As mães são quem mais sofrem estas agressões. Tenho conversado com algumas mães que falam que os filhos ou filhas assumem atitudes extremamente individualistas e ao serem cobrados, chegam a ameaçá-las de espancamento, tratá-las com palavrões e não mais as obedecem, querem viver na rua com os ditos amigos e o pior, ainda fazem da mãe escrava: ela tem que dar conta de tudo, lavar roupa, engomar, dar alimentação, logo geram filhos/as aí a avó vai ter mais uma tarefa, cuidar das netas ou netos. Os conflitos com irmãos ou irmãs se acirram. Enquanto que “no meio da galera” são pessoas livres, independentes. Tentam se justificar com atitudes de negação dos direitos coletivos, vive o individualismo e ainda relaxam sobre seus deveres e obrigações.
O debate deve ser mais profundo, porque sabemos das muitas ações que são exercidas pela sociedade organizada e pelo Estado, mas parece um grão de mostarda no deserto, diante dos poderes “extra-oficiais” que arrebanham jovens para a criminalidade. São jovens que estiveram na infância e adolescência em programas de políticas públicas, desde a creche, escola, os PETIS, Fome Zero, nos trabalhos sociais das ONGs e Igrejas.
Porém, todo esse trabalho é insuficiente ou mostra-se incapaz de direcionar os jovens para o bem. Fica patente que o tráfico tem poder de convencimento mais eficaz que todas as instituições, mesmo sem oferecer vida em abundância (Jesus), apenas lhes favorecem a fuga e o imediato que é o sonho de falsa liberdade. A liberdade da família e o vôo para o mundo livre, sem amarras, na busca da aventura, uma aventura sem perspectivas futuras, mas que os tornam “heróis” no mundo deles. O mundo em que estão, o mundo presente, o mundo egoísta, do eu, “eu sou o máximo”.
Os deserdados do mercado formal encontram nas forças extra-oficiais a sobrevivência, entrando no mercado de “trabalho” no campo da marginalidade onde há vasto espaço de geração de renda. São pessoas que tem sonhos, mas não vislumbram espaços de concretude e aí a vida vai se banalizando, dentro da concorrência do mercado das drogas ilícitas, até o fecho da violência.
E o desafio é: Como acolher o indivíduo que não vislumbra sonhar com outra alternativa no mercado formal tecnológico que o exclui?
Não são os delinqüentes, maioria, mas os poucos que tem, o estrago que causam é imensurável, desde a família, à sociedade e ao Estado. O poder público chega a deixar de investir em educação, para investir em segurança e saúde devido a tantos danos causados pelos efeitos das drogas.
Diante desse panorama: O doloroso é ver pais e mães destes jovens tentando de todas as formas salvá-los. Mas os caminhos cada vez mais vão estreitando, são raros os que conseguem sair do caminho das drogas, porque se sair é covarde, se ficar não tem retorno e ficando, o vício o consome e o vício o dominando, a sustentabilidade começa com furtos de objetos da família, posteriormente leva-os a agir fora da lei, ao crime.
A crise do capitalismo mundial se agrava, a social democracia foi engolida pelo neoliberalismo, os partidos de esquerda tentam a governabilidade do estado burguês e o socialismo é um processo lento em construção, principalmente depois da queda do muro de Berlim.
Mesmo assim, acredito na utopia e no sonho de que um outro mundo é possível. É bom nos perguntarmos: Que mundo precisa ser construído? Que modelo econômico precisa ser implantado? Que sociedade precisamos construir com a juventude?
Vamos juntos refletir, agir e refletir (Freire)?

Leonardo Sampaio
Pedagogo
08/10/2008

Fortaleza esta livre: II turno é um mercado de negócios.

Leonardo Sampaio
Educador Popular

Não pude ver coisa pior na política do que um segundo turno, parece um mercado de negócio, uma feira de venda e troca.
Vivi a experiência de segundo turno na disputa eleitoral entre Inácio Arruda e Juracy Magalhães. Estava lá na coordenação da campanha e presenciei uma avalanche de candidatos a vereadores, partidos políticos, religiosos, cabos eleitorais todos perdedores das campanhas adversárias. Eles vão chegando à porta do candidato propondo negociata dos votos que se dizem proprietários e transformava-os em mercadoria pra negócio, sem o mínimo de pudor, princípio, nem ética na política.
É na cara de pau, muitos falam que já foram no adversário negociar, mas não chegaram a fechar o negócio, outros dizem: “eu vim aqui fazer uma oferta de negócio, se não der certo eu vou no outro candidato” e aí vão apresentando as vantagens do seu produto e chegam até dar garantia do volume de votos.
Os custos do produto variam de acordo com o perfil de quem oferta, do volume ou até da necessidade.
Quando o dono do produto é uma instituição religiosa ou “pilantrópica” normalmente a venda é a dinheiro vivo. Quando é instituição política, o custo são cargos na gestão e quando é pessoa física, o próprio candidato ou cabo eleitoral é o valor em moeda viva.
E o pobre eleitor não sabe de nada disso, mas também faz suas exigências que variam de acordo com seus padrões de vida, é uma escola, uma creche, infra-estrutura, é moradia, atendimento médico de qualidade, educação de qualidade, política de turismo, é geração de trabalho e renda, bolsa família, cursos de qualificação profissional, créditos financeiros e uma variedade de outras cobranças que assegurem qualidade de vida.
Fortaleza está livre do segundo turno, o eleitorado fez um grande bem a essa Cidade ao decidir a eleição no primeiro turno.
Sabemos o quanto sofremos na gestão ainda em curso, com os produtos políticos de pouca qualificação técnica para as funções e que transformaram os cargos em trocas eleitorais, principalmente nas regionais. São gestões inoperantes e o eleitorado tem outro perfil mais exigente sobre o gestor, ele quer política pública com qualidade de vida.
Mas parece que esse perfil técnico de gestão pública, não perpassou pelas regionais de Fortaleza, talvez tenha sido porque a prefeita foi eleita em um segundo turno, onde as negociatas políticas institucionais se deram e os gestores indicados para as regionais faziam parte das compensações de derrotas eleitorais dentro dos partidos e a gestão passou a ser uma coalizão com negociações de cargos.
Nas Regionais, cada uma era de um partido e os gestores indicados todos tinham perfis eleitorais pessoais, o que é fácil de ser identificado, basta denominar por Secretaria, na I - PC do B, Mariano de Freitas, na II – PSB, Rogério Pinheiro, na III – PV, Marcelo Silva, na IV – PT, José Maria e Deodato Ramalho, na V – PDT, Oriá, na VI – PSB, Mindelo.
O resultado desse modelo de gestão da prefeita foi muito precário do ponto de vista técnico, de estudos das ações executadas, os vícios internos da máquina permaneceram e ainda com péssima qualidade.
A prova disso: basta ver os resultados eleitorais de vereadores, todos estes secretários das seis regionais, foram candidatos a vereador e nenhum foi eleito, o mesmo aconteceu com o segundo escalão das Regionais, Luis Arruda, Prof. Elói, Manoel Carlos e até o Almir (talvez tenha outros que não identifiquei).
Há um outro alinhamento político de gestão pública local que é o vereador dito “do bairro”, que sempre se utiliza dos equipamentos públicos para fazer currais eleitorais. Nessa eleição, o eleitorado rejeitou essa tradição, vejamos: Maurício Assêncio, Didi Mangueira, Cacá, Hélder Couto, Narcilio Andrade, Nelba Fortaleza, Alri Nogueira, Carlinho Santana e outros ainda anônimos na mídia.
Espero que Fortaleza nessa gestão sem segundo turno, se defina pelo perfil técnico, de amadurecimento profissional e execução das políticas públicas.
Uma gestão capaz de contribuir com a desconstrução do estado burguês, que avance na construção de uma sociedade organizada, livre, soberana, igualitária, gestada pelo o poder popular.

Fortaleza, 07/10/2008

sábado, 30 de agosto de 2008

O QUE É POLÍTICA, SER POLÍTICO E FAZER POLÍTICA

Leonardo Sampaio
Educador Popular

Quando nos deparamos com o mundo político, o concreto da política, nos dar a entender que existem diferenças entre política, ser político e fazer política. Se não vejamos.
Política é uma ciência, é arte, é o meio de se fazer o bem comum, de cuidar, de promover a felicidade humana, de preservar o planeta.
No entanto a política é entendida pelo senso comum, apenas como um processo eleitoral para eleger pessoas com os seus devidos cargos, de: Presidente, Governador, Prefeito, Senador, Deputado, Vereador e o eleitor vota apenas para cumprir com sua obrigação com o Estado, que o obriga a ir votar. Mas tem outra categoria de eleitor que busca negociar o voto de forma individual, ou mesmo coletivo conforme o tamanho do seu curral eleitoral.
Ser político, na essência da palavra, é fazer valer os direitos dos cidadãos/ãs e o dever do Estado, conforme prever a legislação, a constituição. É ter a capacidade de envolver a sociedade e envolver-se na defesa intransigente da justiça, da equidade, da fraternidade, ou seja, é viver a construção de um mundo justo.
No senso comum, a política e o político são visto através da chamada politicagem, que corresponde às práticas exercidas como forma de alguém “se dar bem”, de se aproveitar do poder para tirar proveito próprio, de desviar o papel do Estado, de promover políticas assistencialistas, tornando as pessoas dependentes do político.
Esse tipo de político vê na política, o outro, como objeto que se transforma em voto, em mercadoria, é algo que pode dar lucro. Basta servir para elevá-lo ao poder, não importando os meios, o compromisso e muito menos a ideologia.
Fazer política exige de quem vai exercer um cargo ou mandato ter ética, compromisso, dignidade, honestidade e conhecimento do seu papel enquanto gestor.
Por tanto fazer política, no modelo econômico capitalista, no estado burguês, a palavra honestidade é sinônimo de abestado. Nessa política, o ser político, faz política com pê minúsculo, e utiliza a gestão pública para fazer corrupção, criar status, ter prestigio, ter poder, acumular riquezas, oprimir, ter influencias.
A política é feita como meio de gerar dependência, de alienar e alimentar currais eleitorais, de exercer o assistencialismo, a opressão e a exploração. A maneira de dar sustentação a essa política é manter o analfabetismo, o desemprego, falta de moradia, saúde, transporte, educação, reforma agraria.
Nesse contexto, o grande questionamento que se faz, é que ambas as formas de se ver ou fazer política e exercer cargos, exige a presença do eleitor. É ele que leva o político ao poder. E quem é esse eleitor? É um eleitorado que apenas um pequeno índice tem convicção ideológica, é consciente, sabedor do seu dever, do dever do estado, do político, da função do político, da formação cidadã.
Assim sendo, o processo eleitoral é utilizado através dos diversos meios para se chegar ao poder, ele vai variando conforme cada indivíduo, uns compram votos com moeda, os que estão no poder usam a máquina pública para fazer currais eleitorais, outros usam o poder do convencimento pessoal, coletivo e/ou ideológico.
O certo é que, através do voto, sem dinheiro, dificilmente o político honesto chega ao poder. O eleitorado é viciado, tanto no campo, quanto nas Cidades. E isso é o que facilita a classe dominante fazer seus lobes e perpetuar no poder, seja no executivo, ou legislativo.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

SEMANA CULTURAL, É HORA DE AVALIAR.

É hora de avaliar,
É hora de reflexão,
É hora de interiorização espiritual,
É hora de extrapolar as emoções,
É hora de chorar,
É hora de ser solidário,
É hora de sorrir,
É hora de amar,
É hora de ser feliz.
É hora..., é hora...

A Semana Cultural do ESCUTA é um evento que reuni produções culturais e faz acontecer as trocas culturais dos saberes populares e promove a solidariedade.
Os oito dias de programação de cultura e arte fez-se trilhas culturais no Pici, lembrou para não repetir mais, celebrou a vida e morte de Tito, contaram-se histórias com direito a banquete literário, fizera-se performance poéticas, os tambores tocaram, as câmaras escuras mostraram a tortura, as fotografias encantaram as crianças em oficinas, as artes plásticas foram expostas, os murais, os cânticos, batuques, roda de capoeira, mística afrodecendente e afoxé africanizaram brasileiramente com rítimos e danças, as estrelas brilharam nos céus e no palco, a lua romanticamente iluminou com direito até a eclipse, o orvalho molhou as folhas do jardim, as nuvens abrilhantaram a festa com uma bela chuva refrescante onde as águas corriam nas biqueiras, produzindo contrastes entre as luzes do palco, as flores das mangueiras sob a luz do luar e o sorriso nos rostos das meninas do Raízes Nordestina, prontas para embelezarem nossos olhos com danças folclóricas, impedidas pela chuva advinda entre os raios do relâmpago e o som ritmado do trovão, que fez as gotas d’águas que caiam dançarem na quadra, a ciranda do Escuta.
E assim as noites chegavam poéticas e surpreendentes com Miraíra encantando com cores, musicas, xaxado no cangaço de Lampião e Maria Bonita e imagens dos revolucionários socialista da América Latina.
As crianças da comunidade, isentas na programação, chegaram e bradaram, hei! Aqui é nosso lugar e aí subiram no palco dançaram e o público aplaudiu.
A amostra atos de ontem e de hoje em documentários do santo oficio libertária cristão revolucionário, politizava a educação popular com metodologias libertadoras.
A roda de capoeira do Pici com o Mestre Pequeno, as bandas mandacas do BomJart, soltando a voz e água de quartinha sonorizavam com pífano, cordas e alfaias ritmando as corridas das crianças, que com alegria sorriam e brincavam no circo de fantasia.
A festa tava animada e empolgou as meninas adolescentes da comunidade que logo se organizaram ensaiaram e disseram, também queremos ter vez, subiram no palco e extrapolaram energias com muita dança e beleza.
A arte de ler pintou a melodia poética, na casa das mulheres da lua, com cavaleiros da dama pobreza e os jogueiros, fazia história viva, teatralogada no silêncio curioso da platéia.
As energias da juventude encheram de alegria a noite das bandas cabeças de giraçois com a musicalidade popular brasileira, Beltsons misturava o rock, e as jovens mulheres di dóris fizeram a galera vibrar, gritar e dançar, a flor de cactus traz a mistura poética nordestina, cantada e declamada.
E assim a fulô de aurora, cangaia de cueca e animação cultural do escuta fecharam com roda de ciranda, a décima oitava Semana Cultural do ESCUTA – Espaço Cultural Frei Tito de Alencar.

Leonardo Sampaio
Educador popular
17/08/08

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O ESCUTA há 28 anos e a Semana Cultural há 18 anos, se constituem como um foco de guerrilha cultural encravado na Cidade de Fortaleza.

O Espaço Cultural Frei Tito de Alencar - ESCUTA, com seu jeito próprio de amorosidade à cultura popular e dialogicidade com os que fazem a produção artística na periferia de Fortaleza, faz acontecer a XVIII SEMANA CULTURAL de 9 a 18 de agosto de 2008.
A Semana Cultural do ESCUTA é, existência e resistência com resultados das sementes lançadas em terrenos férteis, nos caminhos construídos na educação popular, que perpassam pela esperança, sonhos, utopia e teimosia em nadar contra a maré da sociedade mercadológica, consumista. Isso se dá, porque há uma intencionalidade ideológica dos educadores populares que acreditam na capacidade do ser humano de superar o individualismo e enxergar o mundo do ponto de vista da emancipação humana e planetária.
É com essa intencionalidade que o ESCUTA, a partir da educação popular, ensinando, aprendendo, torna-se a escola de formação de animadores culturais que dialoga com as diversas linguagens artísticas produzidas no nordeste brasileiro e traz para Semana Cultural, onde as expressões se manifestam desde o teatro, a musica, a capoeira, a cultura afro-descendente, indígena e acorda a cidade adormecida que sonha com a originalidade da cultura popular, do bumba-meu-boi, o reisado, o pastoril, o maracatu, o côco, a ciranda, o xaxado, o xote e o baião.
A Semana Cultural do ESCUTA é também o espaço aonde a pessoa de boa índole cultural, vem curar sua enfermidade da doença adquirida no lixo do comércio midiático áudio-visual que invade o país descaracterizando a cultura popular e banalizando a mulher.
Por isso o ESCUTA há 28 anos e a Semana Cultural há 18 anos, se constituem como um foco de guerrilha cultural encravado na Cidade de Fortaleza, no bairro Pici, na Rua Noel Rosa, 150, espalhando arte, cultura e educação popular acreditando que com amor, fraternidade e solidariedade outro mundo é possível, assim como acreditou Frei Tito, que deu a vida por essa causa em 10 de agosto de 1973, data em que o Escuta, celebra a cada ano, na Semana Cultural, como forma de não deixar apagar na memória da crueldade dos anos de ditadura militar e tortura no Brasil.
Esse mundo utópico é o elemento principal gerador dessa força existencial, resistente e revolucionária no ESCUTA, que coletivamente produz e aglutina frutos pensantes com muitas mentes, corpos e mãos que com o pé no chão, o coração e a força espiritual cósmica, planetária, eleva a auto-estima de homens, mulheres, adultos/as, jovens, adolescentes e crianças excluídos do modelo econômico capitalista, que com um outro olhar para o mundo gera novas vidas.
Realizar uma Semana Cultural para o Escuta, dentro deste contexto histórico, é uma oportunidade de discutir e reler um período da nossa história que não desejamos que retorne nunca mais. Mas é acima de tudo uma celebração pela vida que pulsa dentro de cada um de nós, artistas, educadores/as militantes sociais, políticos, moradores da Cidade de Fortaleza.
A Semana Cultural do ESCUTA é, portanto, um momento de celebração, de convergência e de diálogo entre as diversas expressões que compõe o universo e o mundo da vida dos moradores da periferia. E, sendo assim, convidamos a todos/as a fazer parte dessa grande festa, onde todos são artistas e espectadores.
O convite está feito e visitando os blogs: www.banqueteliterario.blogger.com.br, www.grupoescuta.blogspot.com, www.leonardofsampaio.blogspot.com, você pode ver a programação e outras produções.

Leonardo Sampaio
Educador Popular, poeta e Pedagogo.
05/08/08

domingo, 13 de abril de 2008

INSERIDO NA DINÂMICA DOS MOVIMENTOS

Tendo os meus pais envolvidos com os chamados movimentos populares desde muito tempo antes de eu nascer, acabei me inserindo desde cedo na dinâmica desses movimentos, participando sempre direta ou indiretamente das atividades, principalmente no ESCUTA. Desse modo, desde pequeno fui me familiarizando com a opção de vida escolhida pelos meus pais dentro da realidade da Educação Popular.
No decorrer dos anos fui me empoderando mais intensamente das atividades do ESCUTA, entrando na adolescência para o Grupo de Jovens Utopia, que estava inserido dentro do ESCUTA. A partir do rumo que o grupo foi tendo eu fui me envolvendo e assim comecei a fazer teatro juntamente com o Grupo. Aos poucos o grupo de pessoas que faziam teatro foi ganhando independência e passamos a nos identificar como um grupo de teatro, mas que estava diretamente ligado às atividades do ESCUTA.
No decorrer do tempo o grupo de teatro ia se desmanchando por conta de problemas pessoais, principalmente familiares, pela necessidade de sobrevivência. Tendo em vista isso, para não acabarmos com o grupo e não deixarmos de fazer o que gostávamos, resolvemos continuar fazendo teatro, mas buscando uma profissionalização ligada juntamente com a nossa formação humana. Assim, a necessidade nos impulsionou a transformar o ESCUTA em ONG para que ficasse mais fácil conseguirmos recursos e tornar a continuidade do grupo viável. Criamos então, juntamente com o nosso então diretor de teatro Wellington Pará o projeto Círculos de Cultura Brincantes e conseguimos através dele a assessoria da professora Ângela Linhares da Universidade Federal do Ceará.
Por volta de 2003 iniciamos o projeto, que buscava nos formar enquanto pessoas tendo em vista uma profissionalização e ao mesmo tempo interferirmos na realidade da nossa comunidade. Começamos então a nos capacitarmos como Animadores(as) Culturais num processo de teoria e prática. Com o conceito de Animação Cultural que foi sendo construído por nós, abrangemos as nossas habilidades artísticas e eu fui deixando de fazer teatro, mas não deixei de interagir com ele, pois fiquei na área de percussão justamente ligada ao teatro.
No ano de 2004 eu me afastei do grupo para estudar para o vestibular e depois de ingressar no curso de Filosofia na Universidade Federal do Ceará, retornei ao Projeto Círculo de Cultura Brincantes, onde continuo até os dias atuais, continuando o processo de formação em Animação Cultural e arte educador.

Leandson Sampaio.

Ciranda do mangue e da cidade

É na roda que te vejo
E encontro tua beleza
Olho dentro dos teus olhos
Sinto logo tua pureza

Na ciranda dou as mãos
Giro a roda e acerto o paço
Aprendo a letra e vou cantando
Dançando o ritimo no compasso

A ciranda da vida
É da solidariedade
É do vila velha
É do mangue e da cidade.

A ciranda é das crianças
Da serrinha e lagamar
Do escuta e bom jardim
Da granja e todo lugar

A ciranda é juventude
É arte e é cultura
Do palmeiras ao pici
Tem farinhada e rapadura

A ciranda é do adulto
Do idoso e da mulher
E luta pelos direitos
De mãos dadas com o talher

Cirandeiros e cirandeiras
Ta na hora de cirandar
Dar as mãos de guerreiros e guerreiras
Pra o sistema acabar

Esse mundo da ciranda
É da música popular
Nascida no seio do povo.
Pra dançar e rebolar

Leonardo Sampaio
Cirandeiro e educador popular
02/04/06

O mundo muda, o mundo será mudado


O mundo muda
Quando eu mudar,
Se eu mudar
O mundo mudará
Se eu e você mudarmos
O mundo será mudado.

Leonardo Sampaio

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O CSU César Cals e as Comunidades Eclesiais de Base - CEBs

Conceitos teológicos e filosóficos que influenciaram a gestão no CSU César Cals
Leonardo Sampaio

Criado em família religiosa, com formação católica de um cristianismo conservador, fui crescendo até que, nos primórdios de 1973 comecei a conhecer o marxismo. Fui me apaixonando pelo tema e passei a seguir os rumos da construção da revolução brasileira a caminho do socialismo. Daí passei a entender as religiões como ópio do povo, uma forma de levar as pessoas a não pensar o mundo como ele é, e acomodá-los na busca da salvação eterna, ou seja, esperar a morte chegar para alcançar a felicidade num encontro com Deus lá nos céus. Um cristianismo punitivo, a quem se rebelar contra a ordem posta, com uma pregação do medo, será castigado e condenado ao purgatório ou ao inferno. Com esse olhar para a Igreja, fui renegando as religiões e seguindo os caminhos do ateísmo, até no início do ano 1979, comecei a conhecer e despertar para a Teologia da Libertação, a encontrar um Cristo Libertador e após longo tempo de afastamento da religiosidade aprendida nos sertões nordestinos do cariri do meu Ceará. Retomei o caminho do cristianismo, porém numa via revolucionária que visa construir a cidadania como forma de defender a vida do planeta e dos despossuídos do modelo capitalista. Deparei-me com dois modelos de Igrejas: um que busca a libertação dos pobres, e outro que servia apenas como aparelho da forma capitalista de governar e que tinha como serviço na sociedade amenizar os conflitos entre ricos e pobres, oferecendo um paraíso de igualdade no céu, que após a morte não haveria desigualdade e que todos os que se arrependerem dos seus pecados mereceram esse paraíso sem divisão de classes.
Mesmo diante desse modelo de Igreja conservadora, já fazia uma leitura crítica das revoluções socialistas no mundo diante da radicalidade do ateísmo em relação ao cristianismo, porque entendo que não é possível fazer a revolução sem a participação dos cristãos, principalmente na América Latina, tendo em vista a religiosidade popular, a grande fé do povo. Percebia que na preparação do processo revolucionário, era possível reverter essa situação da consciência ingênua, a partir da construção de uma cultura com visão libertadora no imaginário popular em relação à Igreja, levando até ele uma leitura crítica da Bíblia e a descoberta do Cristo Libertador. Faze-lo pensar e entender que essa Igreja conservadora é dissidente dos princípios de Jesus Cristo, que ela tornou-se um grande instrumento da burguesia marcada pela ideologia capitalista e pelo poder.
Com essa compreensão de mundo resolvi me engajar e as primeiras atividades comunitárias que me proporcionaram identificar campos teológicos, filosóficos e políticos divergentes em relação à Igreja e ao poder, foram as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs na Fumaça – bairro Pici. Lá se deu concretamente esse confronto entre o poder da Prefeitura de Fortaleza, representada pelas Doutoras do Serviço Social, do Centro Social Urbano Gov. Cesar Cals, fortalecendo a política da Ditadura Militar através dos Partidos políticos Arena e posteriormente o PDS, que naquela época mergulhava o Brasil em violência política e física, com torturas, assassinatos e exílio com o objetivo de entregar nossas riquezas e nossa Pátria às empresas multinacionais, fortalecendo o capital internacional e em particular os Americanos do Norte. Enquanto isso aumentava a pobreza e a migração das populações do interior para as Cidades, inchando os espaços urbanos e formando novas favelas.
Essa política se fortalecia com o assistencialismo. A Diretora do Centro Social Urbano aparecia como a mãe dos pobres, e com isso ela criava uma dependência nas pessoas e ia formando seus aliados e suas aliadas, suas crias, os cabos eleitorais, que se alimentavam da ideologia dominante capitalista que eram transformados em voto pelos cabos eleitorais que são pessoas simples do povo, analfabetos ou semi-analfabetos, despolitizados e que passam a ser massa de manobra dos políticos politiqueiros representantes dos mesmos partidos da Dra. Chiquita, ou seja, os partidos criados ainda no Império Português na época da invasão do Brasil com os exploradores das terras indígenas, o que eles chamam de descobrimento e civilização.

Caminhos para uma administração direta

Foi dentro deste contexto histórico que em 1986, Maria Luiza se elege Prefeita de Fortaleza e me convida como membro das CEBs, como educador popular e militante, para ser Diretor do Centro Social Urbano César Cals – CSU. Ao assumir o cargo, convido as organizações comunitárias para pensar um modelo de gestão participativa para administrar em conjunto com o corpo de funcionários. Assim, iniciamos a gestão e a experiência foi um sucesso, a população sentia gosto em participar, dar opiniões e executar, era um modelo de administração direta no âmbito da Prefeitura. As pessoas tinham a oportunidade de perceber qual a função da sociedade civil, qual a importância daquele órgão público pra ela e como fazer funcionar com a participação da sociedade civil organizada.
Era um processo de aprendizado havia reações com a presença de pessoas pensando e fazendo junto sem ser funcionário/a na verdade era uma tarefa difícil, porque tínhamos ali, parte do funcionalismo viciado e sem formação profissional para atender e conviver com a população, era um poder distanciado, enquanto isso, a população desorganizada estava acostumada com políticas assistencialistas e sempre a espera de políticos e cabos eleitorais. No decorrer da gestão os funcionários, iam revelando as relações políticas, às vezes até com arrogância, como se elas ainda tivessem poder de interferir na administração. Por outro lado a comunidade organizada pôde perceber de perto a desqualificação dos serviços prestados e sentiram que a culpa era da Prefeitura por não abrir concursos e colocar pessoas na folha de pagamento através de indicações de políticos.
As distorções sobre a gestão públicas era uma coisa tão absurda que só no CSU César Cals havia 230 funcionários, entre estes, 60 eram contratados como datilógrafos e só dois sabiam datilografar, ao mesmo tempo, só havia uma máquina de escrever, quanto aos técnicos havia 22, parte deles, eram contratados como professores(ras) com nível superior ganhando 200 horas aula e mais 40% de pó de giz, sem ter no CSU nenhuma sala de aula. Na verdade eles eram técnicos nas áreas de: fisioterapia, médico, psicologia, agronomia, piscicultura, pedagogia, assistente social funções que quase não havia naquele órgão e gerava certa ociosidade. O desafio era abrir um diálogo com eles e criar espaços para que pudessem prestar serviços à comunidade e aí fizemos muitas coisas bonitas que contarei adiante.
Mas nem tudo foi maravilha, a luta nossa era regulamentar seus contratos de acordo com as funções de cada um, o que criou um impasse devido ao piso salarial das categorias rebaixarem os salários, que antes era de professor com 200 horas e mais pó de giz e aí faziam grandes protestos em nível de prefeitura, dizendo que era incoerência do PT e da Prefeita Maria Luiza em reduzir os salários.
Esse quadro se soma a outros, com a exigência de pagamento dos cinco meses de atraso dos salários deixado pelo Prefeito tampão Barros Pinho. Para completar a direita estava enfurecida, por tere perdido o poder para a esquerda identificada com o PT. Por outro lado havia um racha muito forte da esquerda comandada pelo PC do B, que não admitiam a existência do PT, já que historicamente eles representavam essa esquerda, enquanto isso, o grupo ligado a Maria Luiza e que estava comandando a prefeitura vinha de um racha com o PC do B e eram inimigos políticos. Dessa forma o PC do B se alia a direita e comandam greves em todos os setores da prefeitura. Partem pro ataque “O PT num manda fazer greve”? Pois agora vamos fazer. No CSU durante um ano de março de 1986 a março de 1987 em que fiquei na Direção, os funcionários só trabalharam quatro meses e ainda alternando entre uma paralisação e outra. Mas, como eles também não iam para as manifestações, fiz um convite para organizarem durante a greve um processo de formação sobre relações humana e outros temas e assim foi feito um trabalho de capacitação com ajuda de pessoas e instituições.
Foi nesse ambiente que o Centro Comunitário como era chamado popularmente, funcionou e foi devido à experiência administrativa, política e de trabalho comunitário junto às Comunidades Eclesiais de Base - CEBs, que permitiu exercermos uma administração direta, transparente, em que a própria comunidade com a participação de alguns funcionários assumiu os diversos setores de interesse da própria população, como: esporte, artes, cultura, piscina, etc. O povo organizado fazia mutirão e até lavava o prédio, se sentiam de fato integrados, sentiam-se Direção.
Os depoimentos de quem vivenciou as diversas fases do CSU, mostram que esse período foi o único em que os moradores participavam de fato daquele espaço, porque a gestão era construída com eles e não só para eles. Vários funcionários entraram nesse espírito participativo e se integraram no mutirão, nessa ação coletiva. Obviamente que uma grande parte de funcionários se negaram a participar.

O Setor de Esporte do CSU estava paralisado há alguns anos, antes de mim, o campo de futebol cheio de mato, lama, as traves enferrujadas, a quadra toda quebrada, as piscinas cheias de lodo e até sapo morto. Os funcionários se recusavam a limparem, aí convidei os times de futebol da comunidade para pensarmos soluções de funcionamento de tudo isso. Na primeira reunião vieram doze times e tiramos como encaminhamentos: mutirões para recuperar todos os equipamentos; criar um campeonato de futebol, criar uma liga esportiva. Com a criação da Liga Esportiva do Pici ela passou a gerenciar as piscinas, campo, quadra, criamos o primeiro campeonato de futebol do Pici, desmatamos a Base Velha e construímos 18 campos de futebol, acabando com o espaço de desova do esquadrão da morte, e transformando num grande espaço esportivo da Cidade onde reunia muita gente aos domingos com a movimentação do campeonato.

No Setor cultural convidamos os grupos culturais e recuperamos o auditório, passávamos filmes uma vez por semana e fazíamos festas dançantes, festival de calouros e festas juninas.

No Setor de saúde mesmo estando dentro do CSU, sempre quis caminhar independente porque se consideravam de outra Secretaria com outra gestão, mas sempre quando eram convidados davam sua contribuição.

O Casulo era um espaço das crianças e vinha bastante merenda que sobrava daí organizamos com as cozinheiras um lanche todos os dias para as crianças da comunidade, era alimento pra todo mundo.

O programa de suplementação alimentar – PSA vinha uma cesta básica todos os meses para 700 crianças e 300 mulheres gestantes, no inicio faltava alimento até que descobrimos um esquema de furto, por parte de funcionários. Então passamos a organizar de forma que dava pra todos e para não ficar muito tempo na fila esperando encher as sacolas, convidávamos essas pessoas para irem para uma sala e lá eram dadas palestras pelos técnicos de saúde e outros.

O grupo de produção estava muito reduzido devido o desestimulo na comercialização, aí convidei uma jovem conhecida como catequista na Paróquia de Antônio Bezerra, para fortalecer os trabalhos e quando foi um dia descobrimos que ela estava roubando os tecidos, linhas e etc.

Em meio a essas investigações descobrimos que tinha uma pessoa contratada como Assistente Social e que era falsa, nunca tinha passado por uma Faculdade.


Leonardo Sampaio
Educador, Pesquisador e Pedagogo.