TEXTOS e POESIAS

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ensinamentos cristãos não servem para política no Brasil

Leonardo Sampaio

Já dizia Sócrates, “política é a arte de fazer o bem comum”, portanto fazer política deveria seguir essa filosofia, no entanto o fazer política exige lado, opção ideológica, compromisso, modelo econômico como diz a Campanha da Fraternidade de 2010, com os ensinamentos de Jesus, “É impossível servir a dois senhores”. Infelizmente os ensinamentos de Jesus não servem para a política no Brasil, haja visto o posicionamento nas alianças eleitorais em que neoliberais, socialistas, comunistas, desenvolvimentistas, conservadores se misturam e aí já não é mais servir a um ou dois, mas a uma constelação infinita de interesses pessoais e oligárquico familiares ou partidários em busca dos impostos do povo para se locupletarem. Neste caso mais uma vez Jesus é traído, já que sua atitude política ao identificar o desmando do estado “começou a expulsar os que vendiam e os que compravam no Templo. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos vendedores. Não está nas escrituras: Minha casa será chamada de casa de orações para todos os povos? No entanto vocês fizeram dela uma toca de ladrões (Marcos 11, 15-19)”. Foi aí o tempo onde ele “se fez homem e chamou doentes, mulheres que eram descriminadas, os trabalhadores pescadores, carpinteiros, pedreiros, agricultores e multiplicou os pães, os peixes e o vinho para alimentar os famintos”. Esse exemplo é muito interessante para o momento político atual das disputas eleitorais, quando os discursos começam a definir as classes sociais na cata ao voto, e a falácia mais sensível para comover a sociedade é direcionar aos pobres, por serem vulneráveis exatamente às políticas públicas do Estado, que teria o papel de distribuir os impostos arrecadados de forma igualitária como direitos de todos à felicidade. O Lula lançou o Programa Fome Zero e agora a Dilma diz que país desenvolvido é país sem pobreza. Como eliminar fome e pobreza sem tirar riqueza das fortunas? Dinheiro não se inventa, ele existe, a questão da pobreza é a concentração e o próprio estado é quem mais investe fortunas no agronegócio, em salvar Bancos, indústrias que são lugares por onde escorre o sangue do miserável e da pobreza com a corrupção generalizada em todas as instancias de poder do estado. Mais uma vez está à contradição cristã com a política “toda a riqueza produzida é distribuída de acordo com suas necessidades (Atos 14).

Os falatórios bonitos com cunho de defesa de classe social passam a confundir cada vez o eleitor que só entende de economia quando vai à bodega, a farmácia, paga o aluguel, a prestação e a barriga aperta. Esse eleitor é o que fica mais embananado, vulnerável e qualquer favor pode virar voto, até um caixão de defunto. E assim os corruptos chegam ao poder.

AS FOMES DA SOCIEDADE E A GESTÃO PÚBLICA

Leonardo Sampaio

A função do estado de direito é assegurar qualidade de vida a população que paga impostos, e o papel dos gestores públicos é retornar esse dinheiro em benefícios.

Para entender quais são estes benefícios, preciso primeiro compreender quais as fomes da sociedade, que os gestores têm a obrigação de saciar. Parto do princípio e da percepção que o gestor necessita escutar a sociedade para buscar perceber os níveis de fome que corroe a vida, para entender com mais precisão pra poder planejar. Por isso é justo interrogar as pessoas sobre: Qual é minha fome? Qual a fome da sociedade? O que o gestor público deve fazer para saciar a FOME DE PÃO E BELEZA? Como saciar a fome de saberes, de conhecimentos e informações? Como saciar a FOME DOS DIREITOS ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS como: saúde, educação de qualidade, lazer, esporte, transporte, moradia, saneamento, reforma agrária e agricultura familiar, preservação ambiental? Sabemos que agricultura familiar é quem garante 75% de abastecimento alimentar em nossas mesas, 30% para merenda escolar e 100% para o Programa de Aquisição de Alimento - PAA. Diante dos dados, o gestor público deve se questionar: O que estou fazendo para saciar estas fomes?

O governo Lula criou o Programa Fome Zero com o objetivo de saciar todas essas fomes. O programa se baseava em estudos, pesquisas e exercícios práticos realizados por: Josué de Castro, Betinho, Frei Beto, Leonardo Boff e outros. A finalidade do Programa era acabar a fome emergente e qualificar profissionalmente os pobres e famintos para saciarem a fome de pão e beleza a partir da geração de trabalho e renda, outro elemento do programa era a FOME DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL – SAN, haja visto que as crianças e adultos se alimentam de produtos industrializados, como por exemplo o xilito, sem nenhum teor nutricional, o que leva as pessoas a encher a barriga e permanecer desnutridas. Essa deva ser uma das razões da gestão pública proporcionar uma EDUCAÇÃO REEALIMENTAR, buscando conscientizar as pessoas sobre a importância da alimentação saudável e nutricional que são encontrados nos legumes, frutas, verduras e carne de animais.

Com base nestes elementos, é fundamental que a gestão pública desenvolva projetos e programas junto à agricultura familiar, etnias quilombolas, indígenas, ciganos, às famílias em situação de risco e beneficiárias dos programas emergenciais, pra avançar nos ideais da Presidenta Dilma de erradicar a pobreza.

Portanto, SACIAR A FOME DE PÃO E BELEZA (Frei Betto) deve ser a meta do gestor público.

Leonardo Sampaio é educador e Assessor da Secretaria de Governo e Articulação Política de Caucaia.

terça-feira, 8 de março de 2011

Meus caros radialistas

Vivemos em uma sociedade capitalista de consumo, nessa sociedade os valores humanos são descartáveis, o que lhes interessa é o que dá lucro e pra se buscar esse lucro industrializam e transformam em mercadoria. Para que o consumidor absorva esse produto é necessário tirar de mercado a concorrência. A indústria cultural conseguiu tirar de mercado tudo que é produzido pelo povo, desde a música ao artesanato. O principal instrumento utilizado para massacrar a cultura popular é a educação, o rádio e a televisão.
O movimento comunitário que curte a cultura popular e luta por sua manutenção, levantou a bandeira das rádios comunitárias como instrumento de mídia do povo para ter espaço próprio onde essa produção cultural popular seja ouvida e divulgada para que ela perpetue no meio do povo e nas sociedades futuras. O sentido maior da rádio comunitária é revitalizar e massificar a cultura popular junto ao nosso público, esse público que vai as ruas dançar o maracatu, que faz a roda da ciranda, que canta e dança côco, que curte o bumba meu boi, que dança forró pé de serra, que pisa miudinho no samba e pula frevo.
Acho muito estranho quando escuto gente do movimento popular dizer que não há público no rádio para a música popular nordestina afrobrasileira. Aí eu me pergunto. Quando tiramos reisado que o povo tanto gosta e canta com a gente, em que rádio ela escuta aquilo que aprecia? Quando cantamos e dançamos cirandas junto ao povo e ele tanto adora, em que rádio ele pode escutar, cantar e dançar na sala e na cozinha junto com a família? Quando cantamos e dançamos o côco em nossas comunidades e a juventude toda entra em circuito dançando, cantando e vibrando com a beleza do gingo do corpo, em que rádio esses jovens podem escutar o côco? Quando brincamos o bumba meu boi, cantando e fazendo teatro em que rádio podemos escutar as musicas do boi? Quando desfilamos no maracatu dançando, cantando e o público fica aplaudindo em que rádio esse público que aplaude, escuta a musica do maracatu?
Que produtores culturais e de mídia nós somos que não temos a capacidade de levar para o rádio nossa cultura e massificá-la? A mídia de consumo capitalista impregnou na cabeça de muitos que essa nossa cultura é como arroz de terceira, não presta. Mas como o povo canta, dança e curte tanto aonde a gente chega, como não tem ouvinte no rádio, principalmente com esse arranjo novo que embeleza nossa musica? Se não cantam mais, é porque não têm onde ouvir, por isso a Rádio Comunitária precisa ocupar esse espaço e massificar a cultura popular do norte e nordeste e a música afrobrasileira.

Saudações
Leonardo Sampaio
Produtor Cultural

segunda-feira, 7 de março de 2011

RÁDIO COMUNITÁRIA FREI TITO

ESPAÇO CULTURAL FREI TITO DE ALENCAR
ESCUTA

LINHA DO TEMPO
A LUTA PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO

... 1987
· O movimento popular utiliza a comunicação nos bairros e favelas por meio de panfletos e textos para um público analfabeto e ou sem prática de leitura.

· A comunicação oficial de rádio não abri espaço para os movimentos populares se manifestar em torno de suas reivindicações.

· Movimento popular reflete a dificuldade de se comunicar com a população e propõe criar rádios comunitárias móvel. Faz requisição dos equipamentos a Prefeitura de Fortaleza.

· A Prefeitura de Fortaleza na gestão Maria Luiza acata requisição e adquire carro com som.

· Curso de comunicação da UFC faz capacitação de comunicador popular para produzir programas de rádio na linguagem popular.

1988
· Movimento popular cria rádios comunitárias de auto falante e caixinhas de som.

· Com ajuda do Curso de Comunicação da UFC é criado a entidade CEPOCA – Centro de Estudo e Pesquisa e Comunicação alternativa.

· Prefeitura compra equipamentos para instalação de duas rádios comunitárias de auto falante.

· Movimento popular faz rodízio nas comunidades a cada três meses com estes equipamentos.

· As Comunidades Eclesiais de Base – CEBs passam a comprar seus próprios equipamentos e ampliam a quantidade rádios na cidade de Fortaleza.

· Gestão Maria Luiza perde eleição e a equipe de transição ameaça tomar equipamentos das comunidades.

· Prefeitura doa equipamentos de rádios para o CEPOCA.

1989
· É criada a Rádio Comunitária Frei Tito.

· CEPOCA intensifica cursos de capacitação de comunicadores populares.

· Comunicadores populares iniciam discussões sobre movimento pela democratização da comunicação.

1990 ...
· Inicia movimento pelas rádios difusoras FM.

· Acontece o encontro internacional de Rádios Comunitárias na Rádio Frei Tito e Rádio Santo Dias.

· Movimento faz encontro nacional pela democratização na comunicação.

· Rádio Frei Tito instala transmissores FM, somando com movimento popular em todo país como forma de pressionar a regulamentação das rádios comunitárias.

· É realizado primeiro encontro de rádios comunitárias do ceará.

· É criada a entidade estadual de rádio difusão comunitária – ARCOCE – Associação de Rádios Comunitária do Ceará.

· É criada a entidade em Fortaleza ARCO-CEPOCA – Associação de Rádios Comunitárias e Centro de Estudo e Pesquisa em Comunicação Alternativa.

· É criada a entidade nacional ABRAÇO – Associação Brasileira de Rádio Comunitária.

· É criada a Lei de regulamentação das rádios comunitárias.

· Entidades comunitárias solicitam ao Ministério das Comunicações liberação de rádios comunitária FM - Rádio Frei Tito, Mandacaru, Santo Dias, algumas delas. Ao todo 98 entidades enviaram solicitação.

· Rádios comunitárias precursoras do movimento perdem espaço das ondas para a politicagem eleitoreira.

· Ministério das Comunicações desenvolve política de distribuição de permissão de funcionamento de rádios aos correligionários partidários. Em Fortaleza é visível isso.

· Tem rádios comunitárias arrendadas a políticos, com programação sem nenhum critério dos princípios e diretrizes das Rádios Comunitárias.

· A péssima programação na sua maioria tem desqualificado a rádio comunitária. Esse era o grande medo que o movimento popular tinha.

Leonardo Sampaio
Precursor dessa história

O amor tem cor? E sentimento tem pigmento?


Leonardo Sampaio

31/12/2010

A vida eu sei que é feita de cores com raios solares do amanhecer, o clarão da lua cheia com céu estrelado, o por do sol entre lagos, montanhas, arco-íres e a escuridão da noite colhendo orvalho nas folhas verdes, umedecendo o ar e fertilizando a mãe terra. Diante de tanta poesia e cores será que o amor pode ser negro? Diria que todas as cores são dádivas do ser supremo, com os mesmos sentimentos nos corações e mentes para que o ser humano possa amar com plenitude a natureza e a própria espécie sem distinção pigmentar. Ao falar de amor e coração será que sentimento tem pigmento? Entendo que sentimento é desejo que parte da alma, da afetividade, do coração e da mente fertilizada com amor e todas as cores que embelezam a vida.

Toda essa poesia carregada de interrogações, parte de lembranças da época de criança quando ouvia histórias de amor proibido entre raças e classes sociais, que hoje fazendo um curso de especialização em educação para comunidades negras, acho interessante trazer estas perguntas para refletirmos a discriminação racial e até onde ela afeta o sentimento das pessoas. O fato aconteceu com um tio meu Julio Sampaio Sobrinho que se apaixonou por uma moça de cor preta e quis casar. Era uma negra trabalhadora doméstica e filha de trabalhador da roça, ele branco, fazendeiro e dono de engenho. Logo que a família do soube do romance tratou de proibir, utilizando questionamentos relacionados com valores, costumes, raças e heranças que segundo a família do seu Julinho (como era conhecido), estas quatro coisas eram incompatíveis entre as raças e as classes sociais, portanto o casamento seria a perpetuação de incompatibilidades raciais, que até pode ser visto pelo víeis cristão da família “branca” de Nazaré, já que a cristandade era muito influente e exercia a proibição aos moradores agregados de realizarem manifestações religiosas e culturais afrodescendente. Diante destes fatores, entre o amor e o sentimento prevaleceu a discriminação pigmentar da cor e a moça foi forçada a se retirar do município sobre ameaça de morte.

Mesmo assim, o amor negro, posteriormente renasce no rapaz, dessa vez com uma professora negra, meiga, cuidadosa e solidária que chegou no município para dar aula às crianças, já que a localidade era distante dos centros urbanos e não havia escola pública nem professores/as com nível escolar suficiente para ensinar o primário. Diante dessa carência as famílias de proprietários de terra bancaram uma professora vinda de Fortaleza para ensinar as crianças pobres e as mais abastardas. A professora foi morar na casa da mãe de seu Julinho que ainda era solteiro, foi aí que os dois começaram a paquerar e as relações ficaram mais intimas e a família do rapaz mais uma vez ficou de olho nesse amor negro e logo encontrou um jeitinho “discreto” para a professora voltar pra Fortaleza.

E assim, as cores da vida que conheci no infinito cósmico, pigmentaram corações e mentes com racismo e desagravo ao amor e ao sentimento humano das raças.

Leonardo Sampaio é educador popular e pedagogo.