quinta-feira, 9 de junho de 2011

Pret@gogia no quilombo: Pedagogia de preto para preto e branco.

Geranilde Costa e Silva
geleu@superig.com.br

O município é o espaço geográfico e político onde se inicia a promoção do desenvolvimento sustentável, tendo em vista que, obrigatoriamente estes elementos passam pela educação de qualidade, inovações tecnológicas e pertença do conhecimento. Para o município alcançar este estágio, cabe à Educação investir em um projeto político pedagógico que permita avançar para um projeto político popular que leve esse conhecimento até as populações mais vulneráveis para permiti-lhes a superação da pobreza. Neste sentido, a educação dos municípios de Caucaia, Novo Oriente, Pacajus, Fortaleza e o Projeto Mova Brasil (Pólo Ceará), saem na frente, avançando na área da Pret@gogia, que é um referencial teórico metodológico construído para o Ensino da História e Cultura Africana e Afro-brasileira. A Pret@gogia foi gestada pelas professoras Ms. Geranilde Costa e pela Dra. Sandra Petit, ambas pertencentes ao Núcleo das Africanidades Cearenses (NACE), grupo ligado à Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, para desenvolver o I Curso de Especialização Pós-Graduação Lato Sensu História e Cultura Africana e dos Afrodescendentes para Formação de Professores de Quilombos (financiado pelo MEC/SECAD).

Neste Curso, Caucaia destacou-se com 04 (quatro) trabalhos científicos. Desses trabalhos dois tiveram como interesse de pesquisa Identificar a presença das Africanidades nas Brincadeiras e Brinquedos, de ontem e de hoje, em áreas quilombolas. Sendo que estes foram desenvolvidos junto aos Quilombos do Cercadão e da Serra do Juá, ambos localizados no referido município. Sendo que a primeira pesquisa foi desenvolvida pelos Professores Leonardo Sampaio e Iran Gomes e a segunda pelas Professoras Antonia Nazídia Rodrigues, Maria Mesquita Silva e Marlúcia de Freitas. Já a pesquisa desenvolvida pelas educadoras Cláudia de Oliveira, Vera Lúcia Matos e Adriana Leite, buscaram conhecer o Ser Negro para quilombolas da Serra do Juá, e as educadoras Maria Eliene Magalhães e Raimunda Nonata Santos, trataram de evidenciar seus Aprendizados e as conseqüências destes para suas práticas pedagógicas (dentro e fora da sala de aula) e também na vida pessoal.

Foi fundamental o empenho do Governo Municipal de Caucaia, através da Secretaria de Educação, Secretaria de Governo e Articulação Política e o Projeto MOVA-Brasil para que esse Curso pudesse chegar ao Município e envolver professoras e professores. Docentes que se tornaram heróis, não medindo esforços para conseguirem se deslocar de Caucaia até os Quilombos de Minador e Bom Sucesso (ambos localizados em Novo Oriente) e também até a Serra da Rajada (Caucaia). Esses educadores e educadoras viajaram por estradas empoeiradas carros Pau de Arara durante os fins de semana, sacrificando o descanso, o lazer e a família até conseguirem concluir com êxito finalizar seus estudos e pesquisas. Não podemos aqui deixar de dizer e também agradecer o empenho de nossas orientadoras as professoras Geranilde Costa e Sandra Petit, que foram magníficas na condução das pesquisas e na elaboração dos produtos pedagógicos (material pedagógico produzido sobre as temáticas pesquisadas e que serão entregues às comunidades, bem como as escolas desses quilombos) .

Com a formação destes educadores e educadoras os referidos municípios conseguiram dar grandes e significativos passos no sentido de garantir a Formação de Professores para o cumprimento da Lei Federal nº. 10. 639/2003, que determina o Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana na Educação Básica, nas redes públicas e particulares, em nosso país.

Caucaia, 09/06/2011



Graduada em Pedagogia (UECE). Professora da rede municipal de Fortaleza. Mestre e doutoranda em Educação, estudando acerca da Inclusão da Cultura Afro-cearense no Currículo da Educação Infantil e Ens. Fundamental I. Professora colaboradora do curso de Pedagogia das Faculdades INTA.



Pedagogo. Assessor da Secretaria de Governo e Articulação Política do município de Caucaia (Ce), professor da rede municipal de ensino de Fortaleza, educador popular.


Dra. em Ciências da Educação (Paris VIII). Professora da Faculdade de Educação da UFC.

A pobreza e as etnias


Leonardo Sampaio
Educador e gestor público

A história da humanidade no Brasil, desde a invasão europeia, trás um cunho teológico definido com o ideológico que traduz a divisão de raças. Se não, vejamos: No império índio não tem alma, na escravidão, negro também não tem alma, portanto podem ser tratados como animais pelos aristocratas, nobres e senhores. Já no feudalismo índios e negros passam a ter alma, por decreto papal, no entanto, as igrejas cristãs falam para estas etnias que Deus os criou pobres por sua vontade, ou seja, como pessoas inferiores, que precisam se conformar com a vontade do pai. E ainda argumentam: “Assim como o rico precisa do pobre, o pobre também precisa do rico, um não pode viver sem o outro”. Dessa forma, o cristianismo prega que a criação divina já deixou determinada que a sociedade tem que ser dividida em classe por vontade do criador. Veja aí a intencionalidade ideológica e teológica patriarcal que cria um deus, um tanto perverso na distribuição de suas riquezas, ele admite a riqueza e a pobreza como uma coisa natural da criação divina. Esse discurso, vem do cristianismo pentecostal que afirma para os povos das etnias que a propriedade e o acumulo de bens fazem parte da sabedoria do homem e dos dons que Deus os deu e quem violar a lei divina será condenado ao purgatório ou ao inferno. Isso, pra dizer, que o acumulo de riquezas é intocável. No entanto, o filho de Deus, Jesus Cristo diz o contrario disso aí, quando fala: ”Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância (João 10-10)”.
Essa teologia discriminatória e excludente, é a que encontra o deus capitalista, onde os valores são a partir do Ter, do individualismo e do consumismo em que o indivíduo tem sua função na sociedade, relacionados com a contradição entre trabalho, capital e mais valia e que tudo vira mercadoria, até a mão de obra. Essa sociedade sempre assegurou aos ricos as tecnologias modernas e aos pobres trabalhos braçais e a reprodução para mão de obra. Dessa forma podemos dizer que a raiz da pobreza e miséria vem desses modelos teológicos, sócios, político, econômico excludentes. São modelos que agravam a desigualdade com as tecnologias modernas reduzindo mão de obra e produzindo Seres descartáveis, jogados ao relento ou recantos inabitáveis, como: beiras de mangues, morros, serras, pé de serras, com porteiras e cercados, parecendo depósitos de pessoas inúteis para o mercado consumista e de trabalho.
As principais vítimas destes modelos políticos e econômicos, desde o império à república, são os índios e negros onde as necessidades básicas são negadas pelo Estado, como: saúde, educação, tralho e renda, terra para plantar e morar com dignidade. Estes só passaram a ter direito do Estado na constituição de 1988, para assegurar as necessidades básicas da pessoa humana, até porque o Estado sempre foi governado pela elite detentora do capital e os impostos arrecadados utilizados conforme os interesses desta classe, em detrimento aos direitos da grande maioria da população.
Portanto, para erradicar a pobreza, necessita inverter essa lógica de concentração de capital a partir do município que é o lugar onde as pessoas vivem. É no município que está às contradições de classes em todos os níveis e é dele que deve partir as soluções para as desigualdades e exclusões sociais. “O autêntico cristão deve consolar os aflitos e afligir os consolados e acomodados”. Dom Tonino Bello, bispo da diocese do sul da Itália.
22/05/2011