terça-feira, 25 de dezembro de 2007

DOM, TÁ VIVO NA TERRA E NA ETERNIDADE

Hei Dom, você tá vivo. lembra das nossas lutas e caminhadas de fé e esperança? Fé e libertação? Fé e política? Fé e opção pelos pobres? Lembras da tua visita pastoral as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs da Fumaça, Entrada da Lua e Inferninho? Da caminhada realizada na Favela? Foi tão libertadora que as famílias ainda hoje falam da sua humildade e simplicidade, do seu sorriso dando a mão, falando com cada pessoa pobre e abençoando. Eram pessoas que naquela época não conseguiam falar nem com o Vigário e ali conversavam com o Cardeal quase Papa. Quanta felicidade você trazia para aquelas famílias migrantes da seca, faminta de sonhos e esperança da qual você alimentava como pastor e profeta da Teologia da Libertação, resgatando o Cristo que veio em vida para nos libertar.
Dom, lembras as reuniões da Forania, dos confrontos acirrados entre leigos e padres que não aceitavam a orientação libertadora da Igreja, onde tinha padres que trazia seus discípulos pra nos chamar de comunistas e você ficava parecendo um arco-íris mudando de cor e falava sempre com muita firmeza em defesa da Igreja do Cristo Libertador, do Cristo que não dá o peixe, mas que ensina as pessoas a pescar.
Essas mesmas cenas se repetiam nas Assembléias Arquidiocesana de Fortaleza, na década de 80, onde camponeses/as, trabalhadores/as rurais e desempregados/as se encontravam na mesma fé cristã aprendida nas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, muitas vezes perseguidas pelos vigários e fortalecidas na palavra e força do Arcebispo Aloísio Lorscheider. Assembléias que não se conseguia o consenso, nem com a franqueza da sua palavra, era uma luta de poder disputada na votação.
Como era bom aqueles momentos acirrados entre a Igreja conservadora e a Igreja libertadora, lá todos estavam juntos no mesmo palanque, com o mesmo direito de voz e voto, ali, estávamos exercitando a democracia, a participação, a disputa de poder. Como aprendemos nessa escola da vida, administrada por você, sem o uso da hierarquia, buscando sempre o convencimento, a compreensão, o entendimento sobre os ideais cristãos libertadores.
Ainda era tempo de Ditadura Militar e não conhecíamos os instrumentos democráticos de participação e foi você que nos proporcionou esse espaço, abrindo as portas da Diocese para a participação dos pobres. Foi assim, no apoio a luta por reforma agrária e urbana defendendo as ocupações de terra, vendo a propriedade privada, não como direito, mas como uma hipoteca social. Foi assim, durante cinco anos de seca (1979 a 1984) quando os camponeses ocuparam Fortaleza em busca de alimento, moradia e trabalho, quando organizou-se a Jornada de Luta de Contra a Fome, quando foi necessário acampar em frente ao Cambeba e fazer greve de fome diante da intransigência do Governador Tasso Jereissat, reprimindo o movimento organizado com polícia, em vez de atender suas necessidades.
Dom, foi você que me fez deixar de ser ateu, encontrei na sua espiritualidade e nas suas ações, o Deus que acolhe, que liberta, que é amigo, o Deus do amor, da justiça e da fraternidade. Um dia conversamos sobre isso, eu, você e a Lúcia minha companheira, quando vínhamos juntos no carro de Pacajus a Fortaleza, pegamos uma carona e você era quem dirigia. São essas coisas que lhe torna imortal e eterno no céu e na terra. Que me permite essa intimidade de conversarmos de eu pra você. De saber que estais reunido com os companheiros e companheiras da mesma caminhada que seguiram antes pra eternidade.
Hoje é Natal de 2007, Deus esteja conosco. Amém, aleluia, axé.

Leonardo Sampaio
Educador Popular
25/12/2007

PÓLO CULTURAL RACHEL DE QUEIROZ



MEMÓRIA

Conheci a casa da escritora Rachel de Queiroz, na Cidade de Fortaleza, em 1966, era o Sítio Pici do Dr. Daniel de Queiroz pai da escritora, era lá que como adolescente continuava minha vida rural caçando, pescando e comendo frutas.
No final dos anos 70, foi feito o loteamento do Sítio Pici e a Imobiliária sensível ao patrimônio cultural da Cidade, deixou intacta aquela casa, porque foi lá onde a escritora Rachel de Queiroz iniciou os inscritos do Livro O Quinze.
Em 1983, as Comunidades Eclesiais de Base – CBEs, do Pici, na Paróquia do Henrique Jorge, levaram ao conhecimento do prefeito César Cal`s Neto através de documento, solicitando o tombamento da Casa e a construção de equipamentos culturais e esportivos nas áreas públicas e espaços vazios disponíveis ao redor da casa, que incluía a área institucional do loteamento.
Os anos passaram sem resposta e em 1986, novamente retomamos a discussão com a Administração Popular, da então Prefeita Maria Luiza Fontinele e essa em 1987, fez um decreto de desapropriação da Casa. No entanto lembro quando chegou às minhas mãos um ofício do Loiola, Superintendente da SUMOV, falando sobre o valor da desapropriação e solicitando que fizéssemos pleito junto à Prefeita sobre aqueles valores para a prefeitura pudesse efetivar o projeto de intervenção na área. As dificuldade eram tantas naquela gestão que o mandato terminou e o pagamento da indenização não foi efetivado, nem a gestão seguinte de Ciro Gomes prosperou na realização do projeto.
Em 1994, através da Associação de Organizadores Sociais e Serviços – AMORA levou o projeto para a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará – SECUT no mandato do Paulo Linhares e do Gov. Tasso Jereissate solicitando o tombamento da Casa Rachel de Queiroz, para ser usada como Biblioteca Pública, formação cultural e no entorno a construção do Pólo Cultural Rachel de Queiroz. A SECUT na época encaminhou uma equipe técnica do Patrimônio Histórico do Ceará, para analisar a possibilidade de tombamento e os técnicos avaliaram que devido algumas alterações na arquitetura original do prédio, não caberia mais tombamento e sim desapropriação por parte da Prefeitura.
Diante dessa orientação dada apenas oralmente pelos técnicos do Patrimônio Histórico do Ceará, em 1995 a AMORA continuou a luta e reformulou nova idéia para o projeto, que seria a construção do PÓLO CULTURAL RACHEL DE QUEIROZ em toda a extensão do Riacho Cachoeirinha, desde o João XXIII, Jóquei Clube, Henrique Jorge, Pici, Autran Nunes e Antônio Bezerra até o Rio Maranguapinho.
Desta vez, o pleito foi entregue à Prefeitura de Fortaleza, no mandato do Dr. Juraci Magalhães, que através do Secretário da Regional III, Dr. Petrônio, convocou a AMORA para ir in loco conhecer a área solicitada para intervenção desse projeto. Marcou-se a data e uma comissão formada pelo Presidente da AMORA Antônio Carlos Nascimento, Leonardo Sampaio, o arquiteto José Sales e Dr. Petrônio circulou toda a área, desde a Av. Parcifal Barroso, Campus do Pici-UFC, o Riacho Alagadiço, a Casa da Rachel de Queiroz, o Riacho Cachoeirinha e o encontro dos dois Riachos entre Antônio Bezerra e Autran Nunes. Na ocasião o arquiteto José Sales afirmava que estava elaborando o projeto Parque Ecológico no Riacho Alagadiço que vinha desde o Açude João Lopes até a Av. Perimetral entre a UFC - Campus do Pici e a Fábrica Cione no Antônio Bezerra. Aí o Secretário solicitou que o projeto fosse estendido para todo o percurso visitado. Após essa visita o Arquiteto José Sales ampliou o projeto e deu o nome de Parque Ecológico Rachel de Queiroz, absorvendo as idéias da AMORA de incluir espaços verdes, esporte, lazer e cultura. Mais o projeto gorou.
Em 2005, com o chamado da administração da Prefeita Luiziane Lins, para levarmos nossas propostas ao Orçamento Participativo e o Plano Diretor fomos lá, reanimar a idéia do projeto do POLO CULTURAL RACHEL DE QUEIROZ. A proposta do Pólo Cultural ficou entre as mais votadas no Orçamento Participativo (OP) de Fortaleza.
Em 2006, na assembléia do OP retomamos a proposta e posteriormente a AMORA e o Espaço Cultural Frei Tito de Alencar - ESCUTA formularam através de protocolo na SER III, documento delimitando os espaços e especificando os equipamentos que deveriam constar se caso fosse elaborado um novo projeto, que implica em: uma Biblioteca Pública na Casa Rachel de Queiroz e no entorno a construção de Anfiteatro, Quadras de Esporte, Cinema, Box para artesanato, Salão para exposições de artes, Auditório e um Quadrilhódomo (para realização de festivais de quadrilhas juninas da Cidade), podendo ser adaptado para outros eventos culturais em períodos além do junino.
Para tristeza nossa, na área do terreno público que fica no entorno da Casa, foram construídos por particulares nove lojas com duplex para alugar e ainda aterrando as margens do Riacho onde era o Açude do Sítio Pici, pertencente ao Daniel de Queiroz, lugar onde ela se inspirava para escrever a obra sobre a seca.
Essa história aqui relatada é pra justificar o quanto estas administrações tratam com desprezo, esse patrimônio histórico da Cidade que poderia ser de atração turística e de embelezamento, proporcionando qualidade de vida a seus habitantes. Uma intervenção urbanística desse porte seria o maior benefício feito nesta cidade, principalmente quando se trata de uma periferia onde tem a maior densidade populacional, sufocada sem espaço para manifestar suas potencialidades esportivas, culturais e de lazer.
Porém, nessa “administração bela” tem sido chocante o tratamento dado diante da agressividade de obras irregulares dentro desse patrimônio. As denúncias escritas levadas a SER III e ao próprio Gabinete da Prefeita, não impedem das obras irregulares avançarem como é o caso das lojas construídas em terreno do município que já estão até alugadas. Consideramos isso um fato grave, até porque precisamos saber como estas lojas são inauguradas se a Prefeitura tem que dar alvará e esse alvará exige o IPTU, além disso, como o terreno fica as margens do Riacho Cachoeirinha, precisaria de licença da Semam, Semace e até do CREA. Mas estas obras foram feitas sem nenhuma placa de licenciamento, mesmo ficando em uma Rua bem movimentada, a Mons. Hipólito Brasil, 980.
Chamamos atenção agora do Ministério Público para tomar alguma medida, inclusive fiscalizar os fiscais, porque o Secretário disse que isso acontece porque eles são corruptos.
Essa é uma história de antes e de agora um pouco de sistematização da memória da beleza dessa luta, pelo embelezamento dos nossos bairros da "Fortaleza Bela". É uma luta que nunca será abandonada por seus moradores, mesmo desprezada por seus administradores.
A nossa bandeira de hoje, em 2007, deverá ser de exigir que a Prefeita, os Senadores, Deputados e Vereadores negociem com o governo Lula colocando como prioridade de recursos para esta obra. Que ela seja inclusa no PAC para 2008.

Leonardo Sampaio
Educado Popular – Cel: 9111-8731
E-mail: leonardosampaio5@yahoo.com.br
Publicado no Site: www.inventarioambientalfortaleza.blogspot.com

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

O INVERNO E O VAQUEIRO

Os campos se alastram pelos os sertões,
As matas virgens desaparecem,
Ao longo das nossas vistas,
Já vemos pastagens pro gado.

Na extensão, de léguas e mais léguas,
Avistamos os campos livres,
Onde o gado no inverno é solto,
Para comer a rama nova que nasce.

E nas grandes fazendas,
Se reúnem a vaqueirama,
Para tangerem o gado,
Pra roça e para catinga,
Levando nos alfogens,
A boa fartura de queijo,
Farinha, carne assada e rapadura.

O clima é de alegria,
No meio da vaqueirama,
Onde rola muita união,
Esperança e solidariedade,
É riso e prosa pra todo lado.

Na hora de trabalhar,
Todos vão para o curral,
Pra conhecer a boiada,
Ferrar e por o chocalho.

Com o sussurro dos pássaros,
E a beleza verde da rama,
Saem pelos caminhos,
Em rumo a mata virgem.

Os chocalhos vão entoando,
Com o balanço dos badalos,
O canto do vaqueiro,
E o aboio que encanta,
A filha do fazendeiro.

Os cavalos e burros,
São todos enfeitados,
Com belos arreios de couro,
Feitos pelo o artesão,
Com todo capricho na mão,
Fazendo com que o animal,
Pouse de bonitão.

Chegando na grande mata,
O gado fazendo a festa,
Se alegra comendo a rama,
Urgindo e frigindo a testa.

Os vaqueiros se despedem,
Marcando a data da volta,
Pra quando o gado estiver gordo,
Folgoso e conhecendo a terra.

Aí é que a coisa pega,
Pois o boi não quer voltar,
Quando ver gente se assusta,
Partindo pra outro lugar.

O vaqueiro experiente,
Traz com ele um cachorrinho,
Para acompanhar o boi,
Enquanto ele segue o rastro,
Montado em cavalo ligeiro,
Vai encostando no bicho,
Colando no seu traseiro,
Enrolando o rabo na mão,
Até dominar no chão,
Ou no tronco do pau pereiro.

ÁRVORES QUE PERMANECEM VERDES DURANTE ÀS SECAS NO NORDESTE BRASILEIRO



Juazeiros e Mandacarus no mesmo Jardim da Praça Júlio Sampaio Sobrinho - na Vila São José, em Abaiara, Ceará - Brasil. Simbolizam a resistência nordesteina às secas.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Movimento popular: história de lutas populares

Leonardo Sampaio

A década de 70 o Brasil vivenciara o período mais violento da Ditadura Militar, foi também o tempo em que começava minha militância política na esquerda, conhecendo o processo revolucionário que vivia o mundo a aquele momento. Foi um tempo em que muitos brasileiros foram mortos, torturados e expulsos do País por defenderem a democracia e o socialismo.
No inicio da década de oitenta, o Brasil inaugurava uma nova história com o retorno dos patriotas de esquerda ao país, após vinte e quatro anos de exílio e repressão através da Lei da Anistia.
Os movimentos sociais se erguiam com energias, principalmente no sindicalismo e movimentos populares de bairros e favelas à busca de direitos perdidos. Estavam expostas em todo o país as seqüelas da Ditadura Militar que proporcionou maior acumulo de riqueza nas mãos de poucos e grande miséria para a maioria do povo brasileiro.
No Ceará a situação se agravava com um longo período de cinco anos de seca (1979 a 1984) que fazia com que a população desacistida no campo se deslocasse para as Cidades, aumentando as dificuldades de sobrevivência das pessoas nos espaços urbanos, já que não era seu habitat nem na área profissional e nem cultural, o que dificultava também o município à não assegurar políticas publicas de assistências, moradias e empregos. Estas pessoas ao chegarem na Cidade, quase sempre ficavam nas casas de parentes ou pagando aluguéis durante um tempo. Muitas sem conseguir nenhuma renda, saiam pelas ruas mendigando. Os programas de governos não eram suficientes para atendê-los e sem poderem pagar aluguel e continuar por muito tempo na casa dos parentes, começaram a ocupar terras ociosas na Cidade de Fortaleza, aumentando o número de moradias inadequadas e desordenadas sem saneamento básico, escola, unidade de saúde e ainda com grandes conflitos entre ocupantes, proprietários e o Estado. Em meio a esse conflito, o Estado se comporta numa situação de contradições entre garantir o direito à propriedade, assim como, o direito de moradia aos cidadãos(ãs), como o poder estatal estava nas mãos da classe dominante o estado de direito foi sempre assegurado aos proprietários e aos pobres a repressão.
Se contrapondo a esse processo conflituoso de ajuntamento de forças entre proprietários de terras e o Estado contra a população carente e desamparada entram as Comunidades Eclesiais de Base – CEBs e os partidos políticos de esquerdas, ainda na clandestinidade, disputando espaços de apoio à população oprimida e levantando as bandeiras de liberdade, melhorias de condições de vida, organização da sociedade civil em associações comunitárias como forma de construção de instrumentos legais para o enfrentamento com as forças opostas e exigência de direitos junto ao Estado e mudanças de leis através do poder Legislativo. Estas lutas proporcionaram um maior engajamento das pessoas na vida partidária e sindical pela construção do socialismo.
Ao lado dessa luta por justiça e transformações nas estruturas de poder, os setores da Igreja Católica, baseados na Teologia da Libertação se organizam nas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs e vão envolvendo Bispos, Padres, Freiras e leigos que, com a Bíblia na mão refletem a partir da fé e a palavra de Deus, os direitos de cidadania e assim, entram na periferia das Cidades pregando a dignidade humana, a organização dos oprimidos e a luta por liberdade.
Em Fortaleza, como militante dessa esquerda e das CBEs, participei da disputa pela hegemonia dos movimentos de mobilização das organizações sociais nos bairros e favelas da Cidade, hora como dirigente partidário, militante das CEBs, ou liderança popular. O movimento se divide entre os partidos de esquerda, e uma parcela funda a Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza - FBFF acreditando nas mudanças estruturais pela via institucional do Estado, e a outra força de esquerda apostava na via revolucionária através da luta armada, e para isso, era necessário que as massas estivessem nas ruas exigindo direitos e ao mesmo tempo politizando o processo de confronto com as contradições do estado burguês.
Nesse processo de disputa e organização, a FBFF se aliava a linhas políticas mais conservadoras e iam encaminhando ofícios para as instituições públicas com as reivindicações das comunidades a ela aliada, por outro lado, em meio as divergências as CEBs e as outras forças de esquerda encabeçam outro movimento indo até o povo carente e descontente com as políticas públicas, discutir estratégias para ocupar as ruas e sensibilizar a sociedade sobre as mazelas existentes na periferia e nesse processo de discussões e lutas é criada a Jornada de Luta Contra a Fome, organizando grandes assembléias pelos bairros e favelas, fazendo uma pauta de reivindicações e junto com as lideranças que iam se formando nessa luta, vão transformando as carências apontadas nas assembléias populares, em projetos propositivos que determinam o que cada comunidade indicou como melhoria de qualidade de vida no seu habitat. O objetivo era fazer com que o poder público transformasse estes projetos em políticas públicas.
Para fazer chegar estes projetos até ao Governador e ao Prefeito a estratégia utilizada era fazer grandes caminhadas, saindo da Praça José de Alencar indo até o Paço Municipal e Palácio da Abolição gritando palavras de ordem e chamando atenção da mídia e da população que estava alheia a esse movimento.
Essa mobilização da sociedade excluída fez surgir fortes lideranças na periferia como Inácio Arruda através da FBFF e sensibilizou a classe média e intelectual tendo como interlocutora a Deputada Estadual Maria Luiza Fontinele que foi eleita Prefeita de Fortaleza em 1985, com um mandato interino de três anos, de 86 a 88.
Naquele período eu estava presente, na organização das CEBs, fundação do PT, na mobilização da Jornada de Luta Contra a Fome, na construção clandestina do Partido da Revolução Comunista – PRC, na campanha para eleição da Maria Luiza à Prefeitura de Fortaleza e vivendo financeiramente por conta própria, como representação comercial.
Como militante revolucionário acreditava estar ali construindo a revolução socialista no Brasil, exercendo a praxis nas lutas populares e que era necessário e exigente a leitura, reflexão, ação, avaliação. A cada momento nesse processo participativo, exigia da militância, mais compromissos e foi isso o que me levou a essa seqüência de engajamentos que teve inicio em 1978, e que funcionava como uma escola de aprendizado da práxis e da formação política, da educação popular e administrativa das organizações sociais.
Nos anos de 86 a 88 já na Gestão da Prefeitura de Fortaleza, tive uma nova experiência que era por em prática o discurso de antes, para dentro da administração pública e um dos grandes desafios foi enfrentar a direita e parte da esquerda fazendo oposição à Administração Popular, principalmente por que direita e esquerda estavam juntas na Gestão do Governo do Estado do Ceará (Tasso Jereissat) e do Governo Federal (José Sarnei) e a postura era de destruir a força política de esquerda que estava no poder municipal de Fortaleza, em detrimento às carências da cidade e seus habitantes. Era uma fase difícil para as Prefeituras das Capitais porque funcionavam como uma Secretária dos poderes estadual e federal sem nenhuma autonomia financeira para gestão do município. A situação era de total dependência que os prefeitos das capitais durante o período da ditadura militar eram nomeados pelos dois poderes.
Um agravante nisso tudo, era a ausência da população no processo eleitoral como forma democrática de participação no processo político do País, haja visto que, somente aos 32 anos de idade foi a primeira vez que eu votei para Governador em 82, para Prefeitura em 85 e para Presidente da República em 86, isso, devido ao período da Ditadura Militar que durou 24 anos, onde o Presidente da Republica era nomeado por um colégio eleitoral formado por Generais, os Governadores dos Estados e um Senador eram nomeados pelo Presidente, os Prefeitos das Capitais eram nomeados pelos Governadores, vejam quanto tempo o povo passou sem votar.
Só na Constituição de 88 houve mudanças nas Leis e abertura política, por isso, estamos ainda hoje em um aprendizado do processo de participação popular, buscando democratizar e socializar o exercício do poder público, através dos instrumentos participativos.

Leonardo Sampaio é Educador Popular, Pesquisador e Pedagogo.
E-mail: leonardosampaio5@yahoo.com.br
09 / 06 / 2005

É POSSÍVEL ENXERGAR QUE OUTRO MUNDO É POSSÍVEL?

Por: Leonardo F. Sampaio

Nós vemos que, o que está sendo apresentado é tudo muito bonito, mas como é mesmo a realidade do dia-a-dia? Você que é trabalhador, observe o que você produziu durante o dia, ou durante o mês. É justo o que você ganha? E você que é patrão, vá fundo na sua consciência e faça um análise: é justo o que você paga? E a culpa é de quem?
Reflita se você está sendo solidário com o outro. Tente descobrir se de fato você é Cristão e se está construindo o Reino de Deus. Se está construindo o Reino do amor, da justiça, da igualdade e da fraternidade.
Ou será que você está construindo uma espécie de Deus próprio que só atende seus interesses, produzindo assim, a exploração do homem pelo homem?
Vamos refletir mais. Como posso ser feliz, vendo um mundo injusto, com tanta fome e miséria? Um mundo com tanta corrupção e violência?
Não será isso uma hipocrisia? Não será que estão fazendo de mim um robô do sistema capitalista, onde eu só consigo ver na minha frente lucro, dinheiro, individualismo, egoísmo, ambição, destruição, perseguição e mercado? Será que este sistema, está fazendo de mim um produto de consumo? Será que a minha força de trabalho e intelectual está sendo apenas uma mercadoria que não vale nem o que eu produzo? ( Veja o operário que constrói a mansão e mora em área de risco). Será por incompetência dele, ou devido a exploração capitalista?
Será que não é possível enxergar que um outro mundo é possível? A verdade é que só consigo encontrar a felicidade, quando faço o outro feliz. Portanto é na felicidade do outro, que está a minha.
Assim, é possível fortalecer a auto-estima no trabalho.
Jesus Cristo disse: "Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância".

22 / 04 /2002

UM PÁSSARO BALEADO

Não é a primeira vez que me sinto ferido na política como um pássaro baleado que às vezes perde uma asa ou uma perna e mesmo assim, com as deficiências continua a luta pela sobrevivência da vida e da espécie com princípios e valores humanos que não podem deixar de existir como forma transformadora permanente de um processo que constrói perspectivas e esperanças de que um outro mundo é possível ser construído com dignidade e ética.

Mas não é fácil, a luta é dura, já fui abalado diretamente quando amigos foram presos pela ditadura militar nos anos setenta e oitenta.
Outro golpe forte que me abalou foi na construção do Partido dos Trabalhadores que tinha como princípios a formação dos núcleos de base como espaço de formação e engajamento de jovens e lideranças forjadas nas bases para assumir os rumos políticos do país, com a finalidade de tirar do poder as classes dominantes.
Foi nessa empolgação que dediquei parte de minha vida acreditando que esse era o caminho para construir a revolução brasileira com a participação do povo no processo político, como sujeito da história.
O golpe ferino que senti, foi quando tivemos a notícia que a direção partidária havia extinguido os núcleos de base partidária e transformado o partido apenas no processo de políticas eleitoreiras, para garantir alguns militantes no parlamento. Desde aí inicia um processo de depuração do partido envolvendo-se no vicio da eleição burguesa e já em 86, vem a denuncia de recursos vindo dos coronéis para campanha do Pe. Haroldo com o objetivo de enfraquecer a eleição de Gonzaga Mota.
Ao reagirmos contra essa prática e insistir na existência dos núcleos de base como instrumento produtor de uma nova forma de fazer política e envolver a sociedade civil no processo político e participativo fomos expulsos do partido. O discurso é sempre de defender as classes subalternas, buscando recursos na classe dominante e média para garantir o processo eleitoral, que por sinal é muito caro e não permitindo que lideranças da base alcance o poder pelo método só do convencimento político ideológico.
Nesse governo Lula uma nova ferida foi aberta, envolvendo o Partido dos Trabalhadores nos esquemas de corrupção, igualando na taba rasa, as mesmas práticas das quais sempre combatemos. Mesmo assim, continua acreditando que isso não está na essência da política, mas sim, no poder do Estado do qual foi construído para tais práticas do exercício da classe empresarial e intelecto capitalista, que obriga o governante buscar o processo de representativo do legislativo para garantir a governabilidade com a participação de tais elementos do sistema capitalista.

Leonardo Sampaio

A ESCOLA E A INCULTURAÇÃO

A formação cultural na vida de uma criança, além da família, passa pela escola e a cultura de uma escola depende da formação cultural do professorado.
A sociedade brasileira é formada por índios, africanos e europeus. Ao longo dos seus 500 anos, o País vem sendo invadido por uma inculturação, imposta pela força da mídia e pelo consumismo capitalista dos Países industrializados, principalmente os Norte Americanos.
De lá exportam, modas, costumes, musicas, ideologia, exploração, globalização, neoliberalismo e aqui geram fome, desemprego, miséria, acumulação de riqueza, desigualdade social, violência, falta de saúde, moradia, educação, concentração de terra.
Diz-se que a educação, é o principal meio para o desenvolvimento. Mas que desenvolvimento?
A escola e os meios de comunicação do nosso País, são instrumentos utilizados para essa inculturação. Isso acontece, na medida em que reproduzem os valores da cultura importada de países que nada têm a ver com nosso povo, são totalmente diferentes do Brasil, tanto do ponto de vista do clima, como dos costumes, dos salários, do custo de vida, da musica, da arte e da moda.
A cultura popular brasileira é caracterizada na poesia, no romance, no cordel, na musica, na arte, no teatro, na dança, mas, como não são estimuladas nas escolas, nem na mídia, ela vai se distanciando da juventude, das gerações futuras.
Mas isso faz parte do mercado, do produto importado do mundo capitalista, e para obterem sucesso caracterizam nossa cultura como produto de terceira categoria, ou produto em extinção, sem valor para o mercado, assim, produzem novos valores culturais, conforme seus interesses.
Toda essa produção midiática em busca do lucro, como sendo um deus onipotente, vai formando uma crosta na mente do povo brasileiro contra os valores da nossa cultura popular. Professores mau formados, mau inofrmados e com pouca leitura, passam a transmitir às crianças nas escolas os ante valores culturais das nossas tradições.
Senti isto de perto, ao participar de uma festa da família, realizada por uma escola que ensina a crianças de jardim, me deparei com cenas que refletem o quanto a escola e os jovens professores estão despreparados para um ensino que traduza a nossa cultura, a regionalidade, a nossa música, nossa arte, nossa poesia, nossa literatura. Lá, em vez de samba, forró, MPB, bossa nova, maxixe, xaxado, torém, bumba-meu-boi, reisado, cordel, repente, poesia, capoeira, artesanato era apresentado o rock e uma mistura global, com universal, que até do ponto de vista da mística estava confuso.
Pude perceber o quanto os valores dessa inculturação penetra na juventude brasileira e na educação dos nossos filhos.
É preciso nestas escolas e ao professorado mais leitura, mais pesquisa, mais formação fora dos padrões impostos pela mídia capitalista, consumista, destruidora da vida e dos valores humanos.


Leonardo Furtado Sampaio
Educador e pesquisador popular

PARA REFLETIR SOBRE POLÍTICA

O ANALFABETO POLÍTICO

O Pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

Bertold Brecht

O homem é um animal político.
( Aristoteles )

· Tudo que fazemos ou deixamos de fazer é uma ação política, por tanto, não existe ninguém apolítico.

CARACTERÍSTICAS DO ELEITOR BRASILEIRO
1. O eleitor consciente - é aquele que se aprofunda na política, a analisa como ciência, vota com a razão, entende o papel do político, conhece a função do estado, sabe para que serve os três poderes, acompanha a vida dos políticos, seus compromissos, seus comportamentos, o que defendem, quais suas idéias, que modelo de sociedade econômica eles comungam. Esse eleitor vota no projeto que ele acredita e no político que se identifica com esse projeto.
2. O eleitor iludido – é aquele que vota pela aparência, pelo status social do candidato, pela promessa bem elaborada, pelo discurso bonito, pelo favor, porque um amigo pediu pra votar em alguém. Esse eleitor considera todo político igual, tanto faz votar em um como em outro. Ele diz que nunca precisou de político. Não consegue perceber que tudo em volta dele, depende da política.
3. O eleitor corrupto – é aquele que chega para o candidato vendendo o voto da família, dos amigos, dos moradores do bairro, da favela e em troca solicita dinheiro para si; ele quer se dar bem. Em troca ele quer que o candidato pague a conta da luz, do telefone, o aluguel, a prestação. Isto, quando este eleitor é pobre. O eleitor corrupto rico ou intelectual quer é uma casa, um apartamento, um carro, um caminhão, um cargo público em órgão que possa roubar.

PERFIL DO CABO ELEITORAL
· O cabo eleitoral profissional – é aquele indivíduo que não acredita nele mesmo, é sempre dependente de políticos, vive no seu ambiente fazendo promessas e oferecendo benécies, em nome do político. No processo eleitoral ele sai nos comitês ou gabinetes se oferecendo pra trabalhar, muitas vezes com uma lista de pessoas para negociar os votos delas, como se o voto pertencesse a ele. Quando fecha negócio com o político que compra votos, para assegurar esse voto prometido e negociado, ele leva as contas de luz, água, receitas e até pedido de caixão de defunto. Esse é o pior político. Porque além de tudo, ele é egoísta, inconsciente, iludido, corrupto, mentiroso e descarado.

SÓ EXISTEM DOIS MODELOS DE SOCIEDADE:
Socialista - que socializa as riquezas; onde não há ricos nem pobres, mas uma sociedade solidária.
Capitalista – que acumula capital e riqueza para poucos, enquanto que gera pobreza e miséria para muitos.

Leonardo Furtado Sampaio
Educador Popular

O PERFIL DOS LÍDERES COMUNITÁRIOS

O trabalho comunitário de bairros, favelas, sítios ou distritos, para ser melhor entendido é necessário se compreender os níveis de lideranças existentes no local.
No meu olhar, há dois tipos de lideranças comunitária, o Líder Cidadão e o Líder Coisa.

O Líder Cidadão, ele se destaca pela forma de organização que implementa na comunidade, buscando sempre criar um nível de consciência crítica junto a população, para que ela cobre seus direitos, dentro de um planejamento feito de forma coletiva, vendo os problemas, analisando e agindo com a população, junto à quem de direito para resolver o problema.
É uma pessoa que pensa, está mais informado que os demais da comunidade participa de grupos de estudos, pesquisas e se torna um comunicador e educador.
Ele faz questão que as pessoas participem e que nasçam novas lideranças, capazes de ampliar a ação da comunidade, no campo das reivindicações estruturais, das artes e da cultura.

O Líder Coisa, se destaca pelo individualismo, eu fiz, eu sou, eu faço ele não se adapta as organizações comunitárias, porque não acredita nele mesmo como indivíduo capaz e nem no povo.
Esse tipo de “líder” passa uma idéia para as pessoas que precisa se encostar nos “grandes”, para poder conseguir alguma coisa e com essa visão ele busca normalmente, políticos de carreira ou de familiares ricas que tenha dinheiro como: empresários, latifundiário ou alguém que está no poder mas que seja ligado aos esquemas. É uma pessoa que se vende a qualquer um, por qualquer preço, é um indivíduo corrupto que usa o eleitor como mercadoria, que ele negocia em beneficio próprio.
Se o poder público fizer alguma obra, ele mostra o candidato “dele” como o responsável e se não tem obras ele diz que só seu candidato será capaz de conseguir.
Muitas vezes ele não quer que as obras sejam feitas, para poder dizer que só será feito se seu candidato for eleito. Uma das práticas usadas para assegurar o voto dos e das inocentes é sair de casa em casa pegando documentos, títulos de eleitor para amedrontar o eleitor ou eleitora. Em algumas vezes negocia o voto com assistencialismo e dinheiro do candidato, corrompendo o eleitor ou prometendo, até o dia da eleição.
Esse é de fato, a figura do cabo eleitoral, ele perde sua dignidade de cidadão ou cidadã e se torna um objeto, que pode ser comprado por qualquer dinheiro ou por quem der mais.
Alguns se tornam dirigentes de entidades comunitárias, para receberem benefícios do poder público, através dos políticos. Essa estratégia, é uma farsa politiqueira de uso do Estado, para manter seus cabos eleitorais através do dinheiro público e transferir as obrigações do poder público para a sociedade civil.

Por tanto só há políticos corruptos, porque existe o cabo eleitoral corrupto e o eleitor que troca o voto por benefícios individuais, perdendo seus direitos de cidadania se tornando também coisa.

Leonardo Furtado Sampaio é Educador , Comunicador e Pesquisador Popular.
Fortaleza, 17 de Abril de 1998

A História do Pici

Leonardo Sampaio

Esta área fica localizada na Região Oeste da Cidade de Fortaleza, era constituída por Sítios, entre eles se destacavam o Sítio Pici, Sítio Ipanema, Sítio do Papai e o Terreno das Irmãs do Asilo de Parangaba e Base Aérea dos Americanos.
Na década dos anos 40, período da Segunda Guerra Mundial os Americanos escolheram esta área para instalarem um Posto de Comando e construíram um Aeroporto com toda estrutura preparada para guerra. Daqui saiam os aviões para bombardearem os Países não aliados, havia também uma torre para pouso dos Zepelim.
Na década de 50, foi feito o Loteamento das terras onde se localizavam os Sítios. Os americanos haviam se retirado e as terras da Base ficaram sobre a vigilância da Aeronáutica. Em 1958 algumas famílias ocuparam os “paióis” ou casamatas local onde eram camufladas as munições do Exercito Americano.
Surgem nessa época os Bairros Pan Americano, Pici, Ipanema, Antônio Bezerra e Casa Popular, que foi o primeiro conjunto habitacional construído em Fortaleza, hoje é o Bairro Henrique Jorge.
O único caminho que interligava esses bairros era a Estrada do Antônio Bezerra, devido a passagem de gado que vinha da Região Norte para o Matadouro de Gado de Fortaleza que ficava no Montese onde hoje se localizam os Colégio Paulo VI e Filgueiras Lima. Com o crescimento do Montese, o Matadouro passou para Parangaba e cria-se a Estrada do Pici.
Devido a essa ligação com os matadouros esta Região da cidade se tornou produtora de pequenos animais de corte e vacarias com produção de Leite. O gado era solto na Base Velha devido a pastagem.
No início dos anos 60, os lotes começam a ser ocupados pelos seus compradores, os galpões da Base dos Americanos, passaram a servir de residências dos funcionários civis da Aeronáutica, o DNOCS construiu uma oficina de manutenção e passou a administrar o Terreno da Base Velha. Surge nessa época a Vila do Dnocs, em galpões e terrenos da Base, ocupados por funcionários, forma-se a favela do Papoco, no Pan-Am,ericano, Constrói-se o Jóquei Clube, o Campo do Fortaleza e a Sede Social do Time.
Enquanto isso a Santa Casa de Misericórdia loteou as terras onde as Irmãs de Caridade do Asilo de Parangaba utilizavam como lugar de terapia para os doentes mentais que vinham do interior e suas famílias não mais os procuravam.
Esse terreno foi transformado em loteamento Parque São Vicente que fica estremando com a Base Aérea dos Americanos e a Estrada do Gado, que hoje correspondem às ruas Matos Dourado, Franco Rocha e Av. Carneiro de Mendonça.
Nesta época a família Tributino, chefiada por Seu Manoel, D. Branca e Beijinho, que vieram de Iguatu-Ce, se instalam num galpão da REFFSA no KM 8 (Couto Fernandes) e posteriormente alugaram casas no bairro Pan Americano e Parangaba, como não conseguiam trabalho para manter a família e o aluguel, buscaram ajuda das Irmãs de Caridade do Asilo de Parangaba e neste contato pediram um terreno para morar. A irmã Maria Teresa, indicou o terreno da Prefeitura no loteamento Parque São Vicente, que pertencia a Santa Casa de Misericórdia.
Esses dentro do loteamento. Começou terrenos eram exatamente os leitos das Ruas, assim, em 1962 a ocupação dessas terras por esta família que ficou popularmente conhecida como FAVELA DA FUMAÇA, esse nome surgiu devido a um dos ocupantesque fazia fogo de noite e reunia os amigos em torno da clarão, a fumaça do fogo se espalhava e o delegado identificava a localidade por Fumaça, hoje, é a Rua Noel Rosa, onde fica localizado o Espaço Cultural da Comunidade Frei Tito de Alencar.
Nessa época havia um Corretor de imóvel por nome Feijão, que vendia os lotes e criava conflitos com os ocupantes. Onde ele morava houve também uma ocupação e ficou conhecida como FAVELA DO FEIJÃO, hoje Rua Guimarães Passos.
Na década de 70, começa a construção do Centro Social Urbano César Cals no local onde as terras também já estavam ocupadas, era a FAVELA DO INFERNINHO, uma extensão da Fumaça separada apenas pelo Sítio do Seu Pedro. Durante a construção do CSU surgiram algumas barracas de pessoas que vendiam alimentos para os operários, esses barraqueiros despertaram para ocuparem um terreno próximo, onde ficava a área destinada a uma praça dentro do Loteamento Parque São Vicente.
Na entrada da Rua Principal da ocupação um morador colocou na parede da casa uma imagem de São Jorge e daí a ocupação passou a ser conhecida como FAVELA DA ENTRADA DA LUA.
Na década de 80 é ocupado mais um terreno, que logo foi dado o nome FAVELA TANCREDO NEVES por ter sido logo após a sua morte.
Na década de 90, todas as terras ainda ociosas foram ocupadas e as famílias retiradas com mandatos Judiciais. Uma dessas terras houve insistência com várias ocupações no mesmo terreno até conseguir permanecer nele, hoje é a FAVELA FUTURO MELHOR ao lado da Escola Júlia Giffone.
As terras da Base Velha do Pici, como ficou popularmente conhecida, teve varias fases de ocupação, além dos paióis e galpões ocupados, um deles ficou para a Igreja, as pistas de pouso na década de 60 serviam como Autodromo para corridas de Carros. Onde fica a rua dos Monarcas, tinha páreos de cavalos.
Com a saída das corridas de carros e de cavalos a área ficou servindo para “desova”, onde vários corpos de pessoas eram encontrados crivados de bala. Na década de 80, foi desmatada e transformada em campos de Futebol, por times suburbanos, que passaram a se organizar em Ligas Esportivas. Já a UFC cercou outra parte, onde fica localizado o Campus do Pici.
Em outubro de 1990, diante da grande crise habitacional em Fortaleza a população começou a ocupar essas terras dos Campos de Futebol e agora em 1998, já tem cerca de 6 mil casas com 30 mil habitantes. As organizações comunitárias da Região garantiram do Governo a urbanização.
Nesta mesma década o PRORENDA da início as atividades de Urbanização da Área denominada pelo projeto de Lua/Fumaça.
A principal atividade econômico e de geração de emprego, hoje no Grande Pici são as Industria de Confecções.

Leonardo F. Sampaio é Educador e Pesquisador Popular, Membro da Comunidades Eclesiais e Base – CEBs e articulador dos Movimentos Populares e Políticos.

Bolsa Família promove cidadania

Muito se tem falado sobre o fracasso do Programa Fome Zero, em especial da Bolsa Família como assistencialista e que só acomoda as pessoas, produz uma geração de preguiçosos(as), ou seja, estão todos virando vagabundo, ninguém mais quer trabalhar e o Governo é o culpado disso. Por outro lado tem o discurso da classe empresarial nacional que também é contra a Bolsa Família com o argumento de que esse dinheiro da Bolsa deveria ser entregue a eles para empregarem na produção e gerar emprego.
Em minha ação como educador popular engajado na Rede de Educação Cidadã – Talher, curiosamente comecei a acompanhar três famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família com o objetivo de constatar se de fato é tudo aquilo que estão dizendo. Surpreendi-me com o resultado oposto a tudo que dizem. Vejamos o que constatei.
Uma das famílias é uma Senhora com um jovem adolescente, ela não tinha tempo para nada, a não ser fazer biscate e botar o adolescente para trabalhar e trazer renda para a família. Assim, pouco tempo sobrava para a escola e o lazer. A partir da Bolsa Família, o jovem ficou liberado e se engajou na comunidade fazendo artes, cantando, dançando, participando de teatro e se apresentando em vários eventos na Cidade. O estudo e a leitura passaram a fazer parte do seu dia-a-dia como motivação profissional na área das artes.
A segunda família é uma jovem mulher solteira e dois filhos com aspectos raquíticos, onde se percebia nitidamente a subnutrição, eram pessoas que viviam pedindo esmolas nas casas para comerem. Após serem beneficiadas com a Bolsa Família vemos agora é a mãe passar com as crianças para a escola com sorrisos de felicidades. Portanto, é possível percebermos nessa família, mudanças na qualidade de vida proporcionada pelo Governo.
Uma terceira família é também uma jovem mulher com um casal de filhos e o marido que ganha um salário mínimo como carregador de caminhão. Essa mulher concluiu o terceiro ano do ensino médio e morava em casebre num beco, sofrendo humilhações e um clima de depressão e machismo do marido. Ao ser beneficiada pela Bolsa Família, criou uma certa autonomia e começou a enxergar outras coisas que estavam ao seu redor, como uma Biblioteca Comunitária de uma ONG, ao lado de sua casa, e começou a freqüentar com os filhos, daí foi se dedicando a comunidade, sendo acompanhada e orientada pela ONG, de repente estava coordenando a Biblioteca, cadastrando os livros, recepcionando as pessoas e logo criou um programa de leitura com as crianças da comunidade, passou a fazer parte da organização comunitária, a se inscrever no Enem, no vestibular, no Prouni, a fazer cursos e a não aceitar mais opressão do marido. É uma pessoa altamente comprometida com os movimentos comunitários, uma artesã nata, se apaixonou pela educação popular ao estudar Paulo Freire e está coordenando de forma voluntária um projeto de agricultura urbana, após ter feito um curso de um ano na UFC. Faz hoje um trabalho no Horto de Plantas Medicinais e Agricultura Urbana junto com a entidade local, envolvendo as crianças da comunidade e as famílias. Faz parte da Rede Solidária de Organizações Sociais do Pici e do Fórum Popular de Saúde.
São três exemplos de resgate da cidadania, que precisam ser trabalhados no rumo do processo de inclusão, que permita uma libertação solidária, segura e permanente.
Essas três realidades me permitem compreender que a Bolsa Família cumpre uma função social, política e econômica muito importante para o desenvolvimento da sociedade brasileira excluída do modelo capitalista neoliberal em curso no País. Permite-me também a dizer, que estou convencido que essa libertação anunciada, só se dará pela via de uma economia solidária onde o ser humano seja o elemento principal de inclusão na construção da felicidade e não sob a dominação do capital que exclui.

Leonardo Sampaio
Educador Popular, Pesquisador e Pedagogo.
05/06/05

A policia é despreparada?

A polícia está despreparada.
Essa frase ouvi de um militante social, no episódio que envolveu o Movimento dos Sem Terra (MST) e a Polícia Militar em frente ao DNOCS dia 2/10/2007. Na ocasião fiz uma observação, afirmando que a polícia está preparada sim, ela está preparada para aproveitar essas oportunidades e descarregar o ódio que tem do MST, dos direitos humanos, do estatuto da criança e do adolescente. Está preparada sim, porque esse tipo de tortura em via pública praticado por esses indivíduos fardados como aconteceu na manifestação do MST contra trabalhadores e trabalhadoras não é difícil de se ver nos bairros de Fortaleza. Lá nos bairros essa violência policial é carregada de discriminação e preconceito racista, estes mesmos policiais que estavam com essa violência apontando arma para cidadãos e cidadãs ao verem jovens negros na rua, já são suspeitos e partem pra cima com arrogância, mandando levantar os braços, dando busca de arma, chutando como se fossem cachorros, humilhando-os e chamando-os de vagabundos, como aconteceu com dois arte educadores do Espaço Cultural Frei Tito de Alencar (ESCUTA), que é uma entidade que trabalha bem na linha do MST, elevando a auto-estima, a formação cidadã, a educação popular, construindo consciência crítica, para que as pessoas passem a ser cidadãos e cidadãs protagonistas da sua história, exigindo dos poderes públicos, os direitos constituídos e assegurados nas leis, inclusive segurança.
Como Educador Popular, pedagogo e militante sócio-político-pedagógico que tem como missão uma ação dialógica para a libertação do ser humano, tirando-o da ignorância, da escravidão, da dependência, da submissão, da passividade e ampliando a consciência e a criatividade, estou sempre ouvindo os reclamos da população a cerca dessa violência policial. Recentemente foi presenciado uma jovem grávida sendo surrada no meio da rua por policiais da viatura, no dia seguinte um jovem estava com o braço na tipóia de levar porrada de cassetete, outro foi algemado por policial militar e posto na via pública para ser espancado pela população porque havia tentado assaltar um policial civil, uma educadora chega e diz: “foi chibata demais da policia nos meninos viciados”, depois vem mais uma notícia os policiais “pegaram o traficante levaram o dinheiro dele e soltaram logo em seguida, coitados, tão tudo lascado, endividados e os policiais cheio de dinheiro.
Terrível é o que se vê do comportamento de policial marginal, pois um desses da policial militar foi assassinado e tratado como herói pelo comando e a mídia, enquanto que ele tinha uma pratica de botar revolver na boca das pessoas, dar coronhada na cabeça, atirar no meio da rua, espancar a amante e fazer acerto com “bandidos”. São esses heróis que a população silenciosamente festeja o seu fim. São tantos os casos sabidos de crimes policiais nessa escuta, que vão desde assassinatos, a cobertura de assaltos, a abastecimento de boca de drogas, a apropriação dos produtos de roubo.
Será difícil conter a violência policial, porque estes policiais criminosos não aceitam serem monitorados e o governo hoje, tenta acertar em relação à segurança, mas a corporação policial é bichada de bandidos e é corporativista, basta olhar para o bairro onde eles também moram ou freqüentam, é fácil a população saber quem são os policiais envolvidos com traficantes, assaltantes, viciados, estelionatários, lanceiros, ao mesmo tempo, essa comunidade também conhece os excelentes policiais que moram no bairro e tem uma boa convivência com a vizinhança, mais estes também têm problemas, é que estes bons profissionais, também presenciam as arbitrariedades dos maus policiais e ficam calados, porque tem medo, sabem que é uma máfia organizada dentro da corporação e quem tentar denunciar, morre da mesma forma que morre o cidadão/ã civil.
Essa insegurança que a segurança deixa no bairro, é extremamente grave, porque o uso do craque por parte da juventude é tão exorbitante que parece que eles não têm mais miolos na cabeça, o juízo sumiu e estão se matando entre eles, já foram 20 em apenas 120 dias. O comentário é que, os crimes são por causa da divida com os traficantes maiores. É também grande a quantidade de cédulas falsas de R$ 50 reais circulando nestes bairros, só quem diz que não sabe quem distribui é a polícia e a população que sabiamente silencia.
Quero externar nossa solidariedade ao MST e as famílias vítimas desse desgoverno policial. Biblicamente quero dizer: “se eu me calar as pedras falarão” e minha fé é pra arremessar montanhas contra qualquer forma de injustiça.
O trabalho do educador popular é na verdade uma proposta mais humana, a de criar o poder do saber, um homem libertado e livre, é ser profético, denunciante e anunciante por tanto, o sujeito que incomoda a prepotência e a arrogância de quem não consegue conviver com a democracia participativa.
Medo, medo de que? Se for da morte, não seria cristão. Até porque, também já fui vítima de tiro. Tenho uma bala encravada no corpo porque defendi as famílias de 24 jovens assassinados por policiais e jogados os corpos na antiga Base Velha do Pici em 1986, quando fui Diretor do CSU César Cals.


Leonardo Sampaio
Educador Popular

ARTE E CULTURA NO ESCUTA

Leonardo Sampaio

O Espaço Cultural Frei Tito de Alencar – ESCUTA realizou de 05 a 13 de agosto de 2006 a XVI Semana Cultural, foi uma verdadeira manifestação da cultura popular produzida por diversos grupos da cidade. Na verdade era a periferia em cena de forma organizada e solidária fazendo trocas de saberes, de vivencias comunitárias e práticas da arte e da cultura manifestada no seio do povo, principalmente o resgate dessa cultura pela juventude.
Essas amostras da arte e da cultura na Semana Cultural do ESCUTA revelam caminhos de como combater o trabalho infantil, o trafego de seres humanos, a prostituição e a violência. São amostras de coisas possíveis, porém, exige dos poderes públicos constituídos, políticas públicas em parceria com a sociedade civil organizada. Porque é ela que sabe o que quer e sabe fazer o que quer, portanto é com ela que precisa ser feito e não para ela.
Esse é um trabalho que precisa ser permanente e para dar certo, exige transparência com honestidade, ética, princípios e compromissos transformadores a partir de uma visão de gestão participativa, de co-gestão, que abra caminhos efetivos e concretos para a inclusão social no campo da geração de trabalho e renda nos próprios espaços comunitários e públicos valorizando e potencializando a produção do que já fazem em seu ambiente de moradia.
Digo isso porque, o Estado quase sempre atrai pessoas formadas pelas organizações comunitárias ou ONGs – Organizações Não Governamentais, que foram capacitadas para exercerem funções de arte educadores ou outras profissões dentro das próprias organizações e são afastadas desse espaço para dentro da máquina pública, enfraquecendo o potencial pedagógico, artístico, cultural do individuo e do coletivo comunitário solidário, já que na máquina pública ela vai exercer funções que não tem a ver com os saberes adquiridos na comunidade, além de serem reduzidos seus potenciais são afastadas das relações comunitárias construídas no dia-a-dia, onde elas se vêem úteis, servindo uns aos outros.
São dezenas de organizações da sociedade civil inseridas na periferia fazendo trabalhos preventivos com seriedade e é lá, onde se encontram as pessoas mais vulneráveis a essas categorias empobrecidas que se conflitam com a lei, por falta de oportunidades.
O ESCUTA como uma dessas organizações há 16 anos realiza a Semana Cultural promovendo exposições de coisas palpáveis à inclusão social. Mostrando pra sociedade, que outra economia é possível, trazendo para a passarela o desfile de produtos dos/as produtoras/es da socioeconomia solidária do Pici e mostra também, que uma outra cultura sem deploração da vida e do Ser é viável, como é o caso do Banquete Literário que motiva a leitura e a textualização incentivando os jovens a retomarem os estudos. Essa experiência já facilitou a entrada de mais de 10 jovens de baixa renda às universidades e outros tantos, estão trabalhando na área em que foram capacitados com arte educadores. Outro processo em andamento é a inclusão digital, que tem como finalidade formar adolescentes e jovens com metodologias da educação popular a partir da troca de saberes, da produção textual, da pesquisa e a capacitação para o trabalho no campo da comunicação informatizada, construindo site, design, jornais, matérias jornalísticas, folderes, programas, redes e outras modalidades que abram perspectivas de trabalho e renda.
A Cultural no ESCUTA se especializa na arte educação, na formação de educadores popular e tem seus momentos fortes abertos ao público, apresentando a arte através da musica, da dança, da poesia, do teatro, do mural com artes plásticas, do artesanato, da cadeia produtiva que vai desde a confecção, ao artesanato, a pintura, a comida típica, a produção de CD, na versão da socioeconomia solidária. Toda essa produção se fixa na cultura popular como meio da inserção de políticas públicas, mantendo a autonomia, para tornar todas estas manifestações cada vez mais prazerosas, geradoras de saúde e vida com dignidade.


Leonardo Sampaio - educador popular, pesquisador e pedagogo.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Não matarás

Não se pode matar,
O mandamento assim diz,
Nem tampouco roubar,
O que pertence a alguém,
Ou até mesmo cobiçar,
O direito do próximo,
Para assim o explorar.

No mundo, o capitalismo
Não respeita os mandamentos
Pregados pelo cristianismo,
Sua prática é matar o povo de fome,
Prevalecendo o egoísmo,
Tirando direitos humanos
E jogando os pobres no abismo.

Assim, é aqui em nosso país,
Onde há grande exploração,
Deste sistema pecaminoso
Que não quer repartição,
Dos direitos para todos,
Os filhos desta nação.

Leonardo Furtado Sampaio

O JOVEM FILHO DE POBRE

Jovens, vitimas da agressão social institucionalizada (generalizada ) no país, constantimente são jogados no mundo da marginalização, pobres e subnutridos, sem condição financeira de dar continuidade aos estudos, ainda de menor passam a trabalhar em subempregos, normalmente em oficinas, biscateiros, vendedor, servente da construção civil, etc. aprendem a ter um pouquinho de dinheiro nos finais de semana e de repente ficam desempregados, aí passam a perambular pelas ruas do bairro, sem dinheiro, sem escola e sem educação e ocupação.
Com a vaidade imposta pela propaganda, o modismo, em busca do consumismo, que envaidece as pessoas, estes jovens ficam na ansiedade, se juntam nas calçadas de manhã, de tarde e de noite, assistem os “desfiles” das vestes dos outros jovens de melhores condições, vêem os carros bonitos e motos que passam, olham a situação de miséria de miséria dos pais, se angustiam e não encontram saída. De repente aparece alguém que lhes oferecem bebida, depois a droga, entram no vicio, se tornam dominados, passam a serem repudiados pelas pessoas, e já não têm como sustentar o vício.
Esse quadro leva o jovem a ser violentado, marginalizado outra vez. O pior é que ninguém se aproxima dele para orientá-los, mas incriminá-los, violentá-los e entregarem à polícia. Após serem fichados, a revolta aumenta e entram no mundo do crime, do assalto, do roubo, da violência sem retorno.
A polícia totalmente despreparada passa a torturá-los. Os radialistas e jornalistas sem nenhuma formação humana, nem prática social, fazem dos programas de rádios e TVs, instrumentos de torturas psicológicas, a tortura que machuca por dentro, denegrindo os jovens e a honra das famílias, que muitas vezes vieram do campo com toda pureza da terra e da sua cultura.
São pessoas discriminadas da sociedade capitalista, consumista, egoísta, que, sem a contribuição do Estado, não tiveram as condições financeiras para mante-los e dar a formação necessária e orientá-los nas horas mais difíceis de suas vidas.
A gravidade maior desse quadro, é porque a sociedade, não vai à procura da condição social do endivido-o, o que levou-o ao crime. Só mostram os fatos praticados.
O que escrevo aqui, são fatos reais, que acompanho no dia-a-dia, vendo os jovens que moram no meu bairro se agrupando, num espaço ocioso, sem lazer, sem cultura, sem perspectiva de futuro. No ano de 1986, eu vi, 26 jovens do meu bairro serem desovados na base velha do pici, em um mês. Motivo. Vingança da polícia. Um jovem policial, também viciado, teria sido morto.
São poucos os que se preocupam com essa realidade, no entanto a CNBB cumpre um grande papel estimulando a criação da pastoral da juventude.
Espero que essa pastoral, seja um instrumento de estimular a fé, renascer a esperança, aprofundar a espiritualidade, de denunciar as mazelas do sistema capitalista, concentrador de terra, riqueza e gerador da fome, miséria, desemprego, falta de escola, de saúde, moradia, transporte e saneamento básico.
Tenho a certeza, que essa pastoral com estas medidas, contribuirá para a construção do Reino de Deus, da justiça, do amor, da fraternidade e irá evitar que muitos jovens se tornem marginais.

Leonardo Furtado Sampaio

HISTÓRIA DE FREI TITO em Poesia

Autor: Leonardo Sampaio

Recorro aos poderes divinos
Pra aqui me expressar
Sobre a história do cearense
Frei Tito de Alencar
Que viveu sua infância
E também adolescência
Nas terras do Ceará.

Fortaleza foi a Cidade
Lugar onde nasceu
Em 14 de setembro 1945
E entre amigos cresceu
Jogando futebol
Nessa cidade de sol
Onde brincou e viveu.

Filho de Idelfonso e Laura
Foi Congregado Mariano
Na Paróquia Cristo Rei
E aos doze anos
Estudando no Liceu do Ceará
Já começa a se engaja
Construindo o seu plano.

Ingressa em 1958
Na Juventude Estudantil Católica
Já sacudindo a velha postura da Igreja
E buscando a transformação histórica
De um mundo desigual
Encontrando na bíblia o visual
Dessa construção simbólica.

Em 1963 assume a direção da JEC
E pra cumprir o compromisso
Vai morar em Recife
Percebe o mundo omisso
Às desigualdades sociais
Resolve avançar mais
Não querendo ficar só nisso.

Em 1966 toma rumo radical
Por fé e política foi seduzido
Vai para Belo Horizonte
E lá foi conduzido
Pra o Convento Dominicano
Onde viveu durante um ano
E depois foi transferido.

Em 1967 chega em São Paulo
No Convento de Perdizes
Dos frades Dominicanos
Envolve-se com aprendizes
No movimento político
Um tanto quanto místico
De onde vêm suas raízes.

Era jovem muito alegre
Sempre bem humorado
Gostava de contar piadas
O estudo foi seu legado
E poesia apreciava
Violão também tocava
Canto lírico era seu agrado.

Seus engajamentos de fé e política
Feito em comunidade
Foi na Ação Católica,
Na JEC lutou por igualdade
Já na JOC outra missão apostólica
Era a Juventude Operária Católica
Onde lutou por justiça e liberdade.

Era contra a diabólica ditadura
Do golpe militar articulado
Em 31 de abril de 1964
Em que o presidente foi tirado
A democracia interrompida
As forças populares perseguidas
E opositores presos e torturados.

Marinha, Exército e Aeronáutica
O poder do Brasil assumiu
A juventude protestou
E o regime reprimiu
Operários e camponeses
Também foram pros xadrezes
Mas, a guerrinha resistiu.

Criaram leis arbitrárias
Proibiram reuniões
Cassaram mandatos políticos
Com o poder dos canhões
Transgrediram direitos humanos
Com torturadores tiranos
Nos quartéis e nos porões.

Nessa época Frei Tito
Consagrado Dominicano
Com fé e esperança
Saiu peregrinando
Contestando a ditadura
Numa luta ferrenha e dura
Defendendo o seu plano.

O sonho de um mundo justo
Que na bíblia se encontrava
Determinado por Deus
Como está na palavra
Que o Reino o povo constrói
E o amor ninguém destrói
Era nisso que Tito acreditava.

A cada dia crescia a fé
Com muita espiritualidade
O que fazia crescer a crença
Na justiça e na igualdade
E a construção do mundo novo
Com a força do povo
Pra viver em liberdade.

E assim empenhou sua vida
Em busca da construção
Do mundo justo e fraterno
Pregando pra toda nação
Esperança, amor e fé
Pra manter a luta de pé
E conquistar libertação.

Seus estudos lhes mostram
Que a partilha no socialismo
Pensado por Karl Marx
Precursor do comunismo
É à base da sociedade igualitária
Onde não tem, exploração proletária
E se vive o verdadeiro humanismo.

Um mundo assim é mostrado
Quando se faz a leitura
Nos atos dos apóstolos
Onde uma sociedade pura
Tudo que se planta
A todos alimenta
Com produção e fartura.

Nessa crença e engajamento
Frei Tito cria projeção
E enfrenta os poderosos
Crendo em Deus na proteção
E no Espírito Santo divino
Como luz, que ilumina o destino
Com coragem e determinação.

E assim, com compromisso e fé
Sempre presente na caminhada
Destacou-se como líder
Junto a UNE e a estudantada
Pra construir o Congresso
Com entusiasmo pra o sucesso
Enfrentando qualquer parada.

A ditadura proibiu
A UNE se organizar
E ficando clandestina
Sem ter onde ficar
Pra realizar o evento
Frei Tito ficou atento
Até encontrar o lugar.

 Foi um Sítio em Ibiúna
E lá começou o Congresso
Com 200 estudantes
E os milicos tiveram acesso
Invadiram o lugar
Pra prender e torturar
Em nome do progresso.

Em 1968 após prisões da UNE
Pela brigada militar
Os Dominicanos foi o alvo
E Frei Tito de Alencar
Aos 24 anos de idade
É preso como frade
Por desafiar o regime militar.

Em 1969 o Convento foi invadido
Mais uma vez frei Tito é preso
Arrancado lá de dentro
Tirado todo indefeso
Levado pra o Presídio Tiradentes
Por capitães e tenentes
Deixando o mundo surpreso.

Só em 17 de fevereiro de 1970
Do Presídio fora tirado
Pelo Capitão Mauricio Lopes Lima
Para que seja torturado
“Vai conhecer a sucursal do inferno”
Viverá sofrimento eterno
Pra nunca mais ser curado.

No Quartel viveu o calvário
Durante três dias de humilhação
Dependurado no pau-de-arara
Ou sentado, na cadeira-do-dragão
Feita de chapa metálica e fios
Com choques elétricos arredios
No corpo e palmatória nas mãos.

O ódio era tamanho
Que no âmbito da crueldade
Pauladas nas costas, no peito e pernas
Sem dó, nem piedade
Descargas elétricas na boca
Pra deixar a mente broca
E o celebro sem sanidade.

Vestiram-lhe de paramentos
Para dar a hóstia sagrada
Mandaram abrir a boca
Deram choque e porrada
E no corredor polonês
Pra lhes tirar a lucidez
Encheram-no de pancada.

Queimaram-no todo o corpo
Com ponta de cigarro
Tendões dos pés e ouvidos
Cuspe e escarro
Toda tortura valia
E com deboche sorria
Pra tira-lhes o sarro.

Capitão Beroni de Arruda Albernaz
Ordenou que: Se não falar
Será quebrado por dentro,
Sabemos como atuar,
Sem deixar marcas visíveis
Se sobreviver, aos sinais invisíveis
O preço da valentia, jamais esquecerá.

Pra completar a opressão
Três capitães revezavam
Maurício, Homero e Benoni
Eram eles que comandavam
Em nome do estado
Como animais adestrados
Matavam e torturavam.

Outro monstro que havia
Na Operação Bandeirante
Era o delegado Fleury
Torturador de estudante
Operários e pensadores
Carrasco a serviço dos opressores
Foi dele o martírio fulminante.

Com gilete cortou uma artéria
A viver e ceder
Na Bíblia ele escreveu
“É melhor morrer
Do que perder a vida”
Não via outra saída
Diante do maltrato e sofrer.

Quando Frei Tito cortou-se
Veio de cima uma ordem
“Esse padre não pode morrer”
Porque deve haver desordem
Se a Igreja se revoltar
E a resistência apoiar
E assim todos concordem.

Os estudantes saíram às ruas
Com passeatas em todo país
A UNE quem articulava
E ordenava a diretriz
Fora a ditadura
Abaixo a censura
Queremos o povo livre e feliz.

Era uma luta desigual
O capital se fortalece
Multinacionais invadem o país
E a ditadura endurece
Expulsa, prende e mata
A oposição não acata
E o regime enfurece

Os ricos ficam mais ricos
E o pobre é quem padece
Por isso precisa se unir
Com o fogo que aquece
E a força do Cristo
Assim dizia Frei Tito
Com fé ninguém esmorece.

Era guerra pra todo lado
O capitalismo crescendo
E o socialismo também
O mundo estava fervendo
Estados Unidos de um lado
E Soviéticos articulados
E as lutas sempre crescendo.

O mundo todo dominado
E o Brasil dividido
Entre estas duas forças
Soviéticos e Estados Unidos
De um lado a burguesia
Com mentira e heresia
E o povo confundido.

A busca do socialismo,
De estudantes e sindicalistas
Que acreditavam na revolução
Pra tirar os fascistas
Por meio da luta armada
Com a guerra decretada
Pra derrubar os capitalistas

Dessa forma se queria
A revolução brasileira
Com focos em todo canto
Da militância guerrilheira
E com fuzis enfrentar
O poder militar
Erguendo sua bandeira

Os Dominicanos eram próximos
Da guerrilha armada
Comandada por Marighela
Que cumpria uma jornada
Da Ação Libertadora Nacional
Confirmando seu ideal
Junto com os camaradas.

Frei Tito, na vida franciscana
Ao lado dos companheiros
Frei Betto, Oswaldo e Frei Fernando
Como grandes guerreiros
De luta e espiritualidade
Buscavam em Cristo a verdade
E a esperança no povo brasileiro.

Os três também foram presos
E sofreram a tortura
Do Capitão Benoni
Que servia à ditadura
Na caserna militar
E o DOPS era o lugar
De massacre a criatura.

Em dezembro de 1970
Frei Tito foi libertado
Trocado por embaixador suíço
Que foi sequestrado
Pela Vanguarda Popular Revolucionária
Saindo da penitenciária
Indo para o Chile exilado.

Em 1971 ainda do Chile
Assim escreveu nos anais
Para Wanderley Caixe
Reuniremos nossos ideais
De um socialismo de mão-cheia
Que no futuro o povo anseia
Pra viver dias florais.

Do Chile foi para Itália
Em busca de cuidado
Mas não foi bem recebido
Pois era considerado
Um frade terrorista
E o ato humanista
De apoio lhes foi negado.

Sentiu-se, apunhalado nas costas
Aí partiu, de Roma para Paris
E os Dominicanos o acolheram
Tornando-lhes feliz
E respirou aliviado
Mesmo com dor de ser exilado
Sem poder fazer o que sempre quis.

Voltar para o Brasil
Pra junto do povo amado
Essa era sua esperança
Que havia revelado
Para construir de verdade
Um país com equidade
Como havia traçado.

Em 1973 escreveu avaliando
Penso que a luta armada
Como luta principal
Já está abalada
E não é mais instrumento
Para a política do momento
E temo extermínio de camaradas.

Em 1974 das torturas não esquecia
E era o que lhe atormentava
Via a sombra do Fleury
O delegado que torturava
Como monstro perverso
Com valores reversos
Do que Tito acreditava.

O fantasma do DOI-CODI
Estava sempre presente
O DOPS e o Quartel
Não saia de sua mente
O Fleury aparecia
O tempo todo perseguia
Em torno do ambiente.

 Frei Xavier encontra Tito
Ele não deixa entrar
Porque o Fleury está aqui
E quer me capturar
Pra sucursal do inferno
Onde já foi preso interno
E pra lá não quer voltar.

Em 10 de agosto de 1974
Frei Tito foi encontrado
Em um galho pendurado
Achou melhor morrer
Do que a vida perder
E assim, foi suicidado.

Lyon foi à cidade da França
Onde o fato aconteceu
E também foi enterrado
Voltando pra onde nasceu
Quando houve o translado
De um pedido acordado
Pra retornar a terra onde viveu.

É no Cemitério São Batista
Que seu corpo descansa
Na cidade de Fortaleza
Onde se guarda a lembrança
Desse ilustre filho
Que na fé teve o brilho
E em Deus sua bonança.

Essa homenagem é preservada
Haja visto o dia de finado
Onde no Cemitério
É um dos túmulos mais visitado
Pelo povo fortalezense
E também cearense
E no mundo todo é lembrado.

Quem quiser conhecer mais
Essa história aqui contada
O Filme “Batismo de Sangue”
Traz toda ela filmada
Com poesia, canto e oração
Valores, resistência e opressão
Com tortura e uma vida barrada.

Essa é uma página da história
Que na escola não é contada
No Espaço Cultural Frei Tito de Alencar
Sempre será lembrada
Toda essa animalidade
Contra o princípio de liberdade
E de vida ameaçada.

À Frei Tito Mártir da Ditadura
Como caririense do Ceará
Que atravessou a ditadura
Lutando como carcará
Com garra e seriedade
No campo e na cidade

Minha homenagem aqui ficará.

Leonardo Furtado Sampaio é Coordenador Administrativo do Espaço Cultural Frei Tito de Alencar – ESCUTA e também educador popular, militante das lutas sociais, escritor e pesquisador da cultura popular e resgates de historias das lutas populares.

ASSARÉ O TEU LEITO

A vida se foi
E a poesia ficou
Circulando, o mundo inteiro,
Com o canto que encanta
O professor e o caboclo roceiro
Eras tu poeta brasileiro
Que de Assaré a Juazeiro,
Fazias a rima
Saindo da alma
Sangrando no peito
Mostrando a miséria
Cobrando o direito
E assim tu se foste,
De Assaré, o teu leito.

Leonardo Sampaio
23/05/06

POPORRI DE POESIAS






Deus ecológico

Foi Deus!
Blasfêmia da fome,
Miséria e morte,
Ser sem nome,
Asfixiado sem verde;
Queimado do sol
E o seco torrão.
Alagado com fome,
Deserdado do chão.

Migrante sem vez
No sul ou no norte,
Arrancado a raiz,
Do folclore, a cultura
Em busca de abrigo
E salário pro pão,
Inchando as cidades
Esvaziando o sertão.

Deus pai!
Filhos sem herança,
Tirado o sangue, da terra e fumaça.
Latifundio, industria,
Capital, lucro e opressão.
Criador do universo,
Proprietário de tudo,
Onde poucos com muito
E muitos sem nada.


Leonardo Furtado Sampaio
21-05-1985.


O mar

Sentado em suas areias
Contemplando a imensidão
Quero ver as sereias
Vivendo este clarão.

As suas ondas são bravas
Sustentam até tubarão
Nem é com gritos, ou palavras
Que irá nos dar atenção.

São verdes as suas águas,
São azuis, vermelha ou gelada,
E sobre elas vivem as águias,
Pescando a peixarada.

Leonardo Furtado Sampaio


Minha mãe

Oh! mãe!
Quanto é belo falar esse nome.
Não resisto neste dia, oh mamãe!
Um minuto sem você.
Segundo Domingo de maio,
Sinto saudades quando distante,
Mas sinto alegria, por saber que você existe.
Minha alegria seria maior
Se não deixasse de existir.
Porém,
Você existe mamãe!
Você existe porque tiveste uma mãe,
E sem mãe, não seriamos ninguém.
Distante de você, pelo espaço geográfico que nos separa,
Sinto a falta dos seus carinhos,
Mas sei que você existe.
Porque sinto a sua presença,
Em meu peito, no fundo do coração,
E você é como um pomar,
Que muitos frutos e flores criastes.
E hoje,
Conservas nas suas orações.

Leonardo Furtado Sampaio



Menina ( Jucineide )

Tão meiga e tão pequena
É a própria natureza
Firme e com tanta beleza
É uma boneca menina.

A nada ela teme
O seu mundo é liberdade
Nunca soube o que é verdade
Só corre, pula e sente fome.

Leonardo Furtado Sampaio


Criança ( Maninha )

Sente dores e chora,
Sente fome e chora,
Se nada lhe acontece, dorme.
Mas não fala.
É tão pequena,
Um só punho é suficiente para lhes segurar
Deitada sobre ele.
Quero que cresças para falar comigo,
Sentir o meu abraço, correr, pular, sorrir,
Ser livre.
Eu quero ser livre como você,
Ser criança, cair na areia,
Me sujar de mel.
Ficar num jardim cheirando as flores.
Dar-lhes alegria, amor, prazer, carinho.
E tudo mais que há de belo na natureza.

Leonardo Furtado Sampaio

Destruição

Que imenso azul no alto!
Oh céu!
Que tantas belezas nos mostra,
Onde nuvens se agrupam, embelezando-te.
Oh nuvens!
Que tantas águas possui,
Derrama-as nos torrões secos do nosso sertão,
Fazei que os rios se encham,
Os lagos e açudes transbordem,
O verde se alastre,
Nestas terras de povo tão sofrido.
Oh céu!
Iluminai o nosso mundo,
Tu que possui tantas estrelas,,
Que possui um rei que ilumina nossos dias,
Que possui uma rainha das noites claras,
Iluminai oh céu!
As cabeças destes homens,
Que tanto os destroi,
Mostra-lhes os seus erros,
Castiga-os se preciso for,
Para que assim posemos apreciar-lhes
Até o infinito.

Leonardo Furtado Sampaio

Coração adubado

Nos jardins nascem as flores
Nas flores nasce o aroma
Também nasce o amor
Como o aroma e as flores.

Nos jardins está a beleza
Ela chama-se rosa
A rosa do meu jardim
É bonita bela e cheirosa.

Meu coração é um canteiro
Onde semeio sementes
Pra ver se assim
Nasce um belo jasmim.

O jasmim que nascer
É em um coração adubado
Água nele não falta
Conservarei com cuidado.

Muitas rosas que ter
A todas quero amar
Amo rosa vermelha
Assim, como todo pomar.

São irmãs por natureza
Do mesmo adubo vão se alimentar
Todas tem o aroma e a beleza
Que nelas necessitar.

Leonardo Furtado Sampaio


Mulher bonita

Com rima eu falo nela
Sem rima eu vou falar
A mulher quando é bonita
Faz o homem se encantar.

Quando a mulher é bonita
Não precisa se pintar
Ela já nasce perfeita
Dos pés até o olhar.

Leonardo Furtado Sampaio


Morena cor de canela

Morena cor de canela
Cintura de violão
Oh! que morena bela
Que reina em meu coração.

São lindos teus pretos olhos
Maravilhosos são os teus lábios
E os teus belos cabelos longos
Me entrelaçam entre os sábios.

A tua face é meiga
Sereno é o teu andar
A tua voz é mansa
Sincero é o teu olhar.

Esse teu corpo belo
Me acendo muito desejo
Um assedio, um fogo louco
Uma ânsia, de um grande beijo.

Isso me deixa feliz,
Com a esperança de um dia
Morar em teu coração,
Vivendo para sempre com alegria.

Leonardo Furtado Sampaio








Parabéns! Parabéns! ( á Rita )

Pelas frases deste cartão
Dedico a minha amizade
Elas saem do coração
Com bastante afinidade
São pobres em expressão
Não sei irás gostar
Mas te peço perdão
Se a brincadeira não agradar.
Este poema é um símbolo
Do teu aniversário
Com sabor de bolo
E um cantar de canário.
Lembrarás teus quinze anos
Onde deixas a adolescência
E passa a ser moça
Com beleza e elegância
E é com muita fidelidade
Que te dou meus parabéns
E desejo-lhe felicidade.


Leonardo Furtado Sampaio

Quinze anos

Guardas contigo
No fundo do coração
O que te dou como amigo
E com grande satisfação

É um pequeno presente
Mas te dou com alegria
E fico muito contente
Ao ver este belo dia.

Comemoras quinze anos
Esse é o nosso diário
Se prolongam por mais anos
O teu grande aniversário.

Deixaste de ser criança
Passaste à adolescência
Agora já eis uma moça
Com bastante eficiência.


Leonardo Furtado Sampaio


Mulher infiel

Mulher falsa ao marido
Que a ele não considera
Vai sofre na eternidade
Os horrores da miséria
Ficando escravizada
Pelos anjos da besta fera.

Leonardo Furtado Sampaio


Homem infiel

O homem depravado
Que deixa sua mulher
Com os filhos passando fome
E dá a outro qualquer
Sua escritura está feita
No livro de Lucifer.

Leonardo Furtado Sampaio

O Sertanejo

O homem do sertão
Que vive na agricultura
Anda sempre com atenção
Mas não tem uma leitura.

A sua vida é na roça
Plantando milho e feijão
Trabalhando com muita raça,
Pra sustentar a nação.

O seu milho com feijão
Na sua roça é sem valor
Não tem quem der atenção
A esse grande sofredor.

Sua cultura é matuta,
Mas tem grande aceitação,
Com ele ninguém disputa,
Porque só faz com perfeição.

O homem sertanejo
O sangue ferve nas veias
Com ele há muito desejo
De cultivar as areias.

O seu sangue é de caboclo
Homem bravo do sertão
Monta cavalo ainda poldro,
Pra pegar boi barbatão.

Logo sedo pega a enxada
A foice ou o machado
A roçadeira, ou facão
Segue em ruma ao roçado
Pra cuidar da plantação.

Mas com toda sua garra
Vê na pela a sua sina
Os filhos abandonados
Sem escola, nem medicina
Neste mundo são jogados.

Forçados fogem do campo
Indo para a cidade,
Levados para o abismo
Enfrentam toda maldade
Desse cruel capitalismo.

Leonardo Furtado Sampaio


O escravo e o operário

Jesus veio ao mundo
Aos pobres ele escolheu
Pregando paz e justiça
No reino que ainda é seu.

Aos pobres ele pregou
E o rico enfureceu
Assim revolucionou
O reino que ainda é seu.

De sua terra foi expulso
Peregrinando ele viveu
Perseguido pelos poderosos
No reino que ainda é seu.

Pelos pobres ele lutou
Crucificado até morreu
Prometestes que voltava
Pro reino que ainda é seu

Com a teologia da libertação
No meio dos filhos seus,
Sinto a sua volta
No reino que ainda é seu.

Agora enfrenta as classes
De ricos e fariseus
De pobres e miseráveis
No reino que ainda é seu.

Os ricos são os exploradores
Que chupam o sangue do filho teu
Faz pobre passar fome
No reino que ainda é seu.

Escravo tem nova patente,
Operário é o nome que deu,
Mas continua injustiçado,
No reino que ainda é seu.

O chicote que hoje surra operário,
São as leis, que o homem concedeu,
Tirando a dignidade humana,
No reino que ainda é seu.

As guerras não se acabam,
E nelas, o pobre sempre sofreu
Vivendo perseguidos por governo canalha
No reino que ainda é seu.

Os pobres ainda hoje,
Sofrem o que Jesus sofreu,
Vivem crucificados,
No reino que ainda é seu.

Leonardo Furtado Sampaio

Deserdados do chão

Somos bravos,
Somos fortes guerreiros,
Somos os galos,
Que cantam nos terreiros,
Somos rei,
Somos heróis,
Que a tudo constrói
Neste mundo de belezas
Assim como também destrói
A nossa rica natureza,
É o mundo em que o rico,
Passa como nobre,
E o pobre vivendo mais pobre,
Num mundo de pretos e brancos,
Em que o preto derrama os prantos,
E o capital é a lei mais forte,
Do sul ao norte,
Onde os guerreiros e heróis,
Viram bravos sem história,
Apenas o que é guardado na memória
Deserdados do chão,
Sem torrão, nem pão
Na terra passando fome
Sem cultura nem nome,
No campo e na cidade
Buscando a felicidade
Alimentando-se da fé
Em São Francisco de Canindé.

Leonardo Furtado Sampaio


A serra e o índio
Caminhando pela terra
Apreciando a beleza,
Das lindas montanhas de serra,
Formadas pelas rochas,
Com toda a natureza,
E partes verdejantes,
Em grandes extensões,
Ouvindo o cantar dos pássaros,
O uivo de animais,
Com pelos exuberantes
Acariciando-se, entre os sentimentos,
Que nem o homem possui mais,
Porém,
O índio retoma sua cultura,
Preserva a sua origem,
Morando nas selvas,
Cultivando a terra,
E produzindo artes,
Que são sinais de vida e esperança.

Leonardo Furtado Sampaio

De volta ao serrado

Com outro olhar crítico,
Voltei ao mesmo percurso,
Das serras e suas rochas,
Procuro o verde,
Só encontro crateras,
Formadas pela erosão,
Os pássaros já não cantam mais,
Procuro escutar os uivos dos animais,
Escuto um som, uma pancada,
Observo, é o machado e o serrote,
É um tiro de fuzil,
Um uivo agonizante.
Morreu!
Do outro lado um grito,
Era o índio fugindo.
Resistindo.
E o barulho das máquinas?
Devastando a natureza criminosamente,
Derrubando as matas, os mangues,
Por ambição de assassinos,
Do poder, do capital,
Que só pensam no seu momento,
Sem respeito a vida, a natureza
E a outras gerações.

Leonardo Furtado Sampaio
É Brasil

Estamos caminhando
Num mundo de angustia e de terror,
Os mais fortes explorando
E os mais fracos se curvando,
Não entendo mais nada.
É Brasil ...
Você que é da agricultura,
Que produz o milho e feijão,
Pra toda a nação
Infelizmente meu irmão,
Você não tem direito ao chão.
É Brasil ...
Aí você despreza o sertão
E vem para a cidade,
Procura emprego e não encontra,
E os dias passam correndo,
A fome vai crescendo,
O aluguel vai se vencendo,
O desespero toma conta,
E aos poucos você vai morrendo.
É Brasil ...
Agora, com essa situação,
Sem emprego, sem casa e sem pão,
E com esse regime de opressão,
Mesmo você não sendo homem mal,
O jeito é virar marginal.
Isso é capitalismo, ele é cruel.

Leonardo Furtado Sampaio

Pra livrar-se da opressão

Avante trabalhadores,
Na luta por seus direitos,
Pra livrar-se da exploração
Dos ricos mamando no peito,
Sem dó nem compaixão,
Deitados me seus leitos,
Com uma pedra no coração.

Uni-vos classe operária,
Com força, coragem e amor,
Pra sairmos dessa miséria,
Da fome e da dor,
Que passa o trabalhador.

No campo e na cidade,
Sem terra e sem emprego,
Sem consciência da realidade,
E o pobre em desespero,
Procurando uma verdade.

Descobrem que o culpado,
É o governo enrolam,
O capitalismo selvagem,
Que para o pobre não deixa um quinhão,
Mas quando toma consciência,
Não se vende por um tostão.

Leonardo Furtado Sampaio


O PT E OS OPRIMIDOS

O PT de norte a sul
Está ao lado do povo oprimido,
Que trabalha e passa fome,
Com o salário espremido.

Somos um povo oprimido
Na luta por liberdade,
Somos um povo unido
Que exigimos a verdade.

O PT esta aí,
É um partido organizado,
Luta contra os tiranos
E com o povo a seu lado.

O PT é dos pobres,
Está contra os opressores,
Por isso ele é de massa,
Com todos trabalhadores.

O PT quer uma mudança,
Que inclua todo brasileiro,
Com o fim do capitalismo,
E um Brasil dos brasileiros.

O PT é do operário,
E também do lavrador,
E exige reforma agraria,
E defende um bom salário.

Leonardo Furtado Sampaio





A natureza

O céu, o mar.
O sol, a lua,
As nuvens, as estrelas.
O vento, o infinito,
As aves, os animais,
As plantas, as flores,
As águas, os rios.
O homem, a mulher,
É reflexo da natureza,
Tão perfeita.
Que nos deu a vida,
Com olhos para apreciá-la,
Ouvidos para escutá-la,
Pernas para andarmos,
Em busca de alimentos.
Substâncias na terra,
Alimenta as plantas.
A boca para saborearmos,
O que ela cria.
O olfato para sentirmos,
O aroma de tudo que existe.
Portanto.
A natureza é isto,
E tudo mais que imaginarmos.

Leonardo Sampaio

Mamães

Oh, mães!
Concedem nos vossos ventres.
Os frutos que somos nós.
Seres humanos,
Que vivemos neste imenso planeta.
Planeta que muitas outras vidas tem,
Também concedidas de vidas maternas,
Que se reproduzem,
E nos trazem nosso alimento de cada dia.
Perdendo assim a vida,
Para sustentar outras vidas.
Oh mães!
Quantas neste dia estão alegres,
Recebendo a recompensa de carinho,
Que lhes foi cedida.
E quantas choram,
Ao recordar o embrião,
Que lhes foi tirado sangrentamente,
Assassinado.
Talvez por egoísmo, vaidade,
Ou mesmo por outras circunstâncias.
Assim deixando de ter o seu fruto,
De sangue vivo correndo nas veias,
Lhes homenageando no grande dia,
Em que é comemorada,
A sua coroa de rainha.
E vós sois rainha,
Porque só a vós lhes foi concedida,
Tanta resistência para sentir a dor
De ser mãe.
E vós não existisse,
Nada mais talvez pudesse existir.
Muitas são as gotas d’água que transbordam neste dia.
Dia em que é comemorada sua coroa.
Umas transbordam em momentos de alegria,
E outras de tristeza ao sentir a ausencia de sua rainha,
Que se foi rumo ao infinito.

Leonardo Sampaio



Viola do sertão

Não és matuto, nem mexicano,
Eis um grande poeta
Não cantas por engano
Nem a troco de moedas
Canta a tua terra
Tocando num violão
A umidade da serra
E o teu seco sertão.

Falas no mandacaru
No vaqueiro e no gibão
Na feira de caruaru
E no boi azulão
Pensa na pobreza
Na sua grande miséria
Sente grande tristeza
Mas não pode acabar com ela.

Quando chega a chuva
Canta com mais alegria
Planta arroz, feijão e uva
Pra amanhã ser outro dia
Mas quando a chuva não vem
Dos eus olhos saem lágrimas
E no sertão não fica ninguém
Acabam-se até as boiadas
Sua rima é só tristeza
O seu canto não fadas
Fala do homem e sua pobreza
E das terras desprezadas.

Leonardo Sampaio


Mãe liberta

Dedicado a amiga Sandra

Pensando peguei no papel
Lembrando peguei a caneta
Me inspirando comecei a escrever
O celebro me foi fiel
E troce-me a lembrança de você.
Recordei a pequenina
Andando com as pernas tortas
Nós sorrindo e ela ingênua
Entrando de porta em porta.
Olhei para o espaço
Apreciei a natureza
Caminhei poucos paços
Encontrei-me com a beleza,
Uma jovem muito bela
E nos seus braços uma flor
Sendo beijada por ela
Num beijo com muito amor.
Esta flor e como a semente
Que em seu ventre gerou
E eis uma mãe muito contente
Que em algo acreditou
E já provou pra humanidade
Que com amor se vai a luta
E conquista a liberdade
Formando grande disputa
Entre o tabu e a realidade.

Leonardo Sampaio


Pássaros da minha terra

Falando da minha terra,
Onde canta o sabiá,
Na lombada da serra
Ou nos galhos do trapiá.

No angico cheio de flor,
Ou mesmo no juazeiro,
Voa o beijaflor,
Bicando e dando um cheiro.

Nos galhos do cajueiro
Acompanhado dos camaradas
Canta o bigodeiro
Fazendo lindas toadas.

Nas pedras do tabuleiro,
Canta o galo-campina
Entoando o dia inteiro
Encantando a ave rapina.

Em grandes arvoredos,
Canta a casaca-de-couro,
Voando pelos chiqueiros
Comendo milho e besouro.

Enquanto em casa, reza o rosário
Evocando a padroeira.
No raiar da aurora, canta o canário,
No galho da aroeira.

Nos lagos ou minador,
Reúne-se todos os pássaros,
Na beirada do bebedor,
Andando de passa em passo.

Enquanto por cima das águas
Voam as andorinhas
Bebendo gotinhas d’água
Dando lindas bicoradas.

Procurando sua comida
Ficam as lavandeiras
Na terra umedecida
Pegando moscas e abelhas.

No orvalho das salsas,
Pousam as borboletas,
O bem-ti-vi com suas asas,
Voa pegando brancas e pretas.

Leonardo Sampaio





Onde vivem a passarada

Nas vargens tem o sabiá,
Nas flores o beija flor,
Nos galhos o galo-campina,
Nos coqueiros a graúna,
Nos arrozes o assum-preto,
Nas braúnas as rolinhas,
Nas capoeiras as corujas,
Nas gaiolas os canários,
Nos capins o pintassilgo,
Nos roçados a casaca-de-couro,
Nos seus ninhos o casacão,
Nas estacas os bem-ti-vis,
Nos arames os anuns,
Nas fruteiras os sanhaçus,
Nos cipós os cibitos,
Nas moitas as nambus,
Nos algodões as cordunizes,
Nas matas o jacu,
Nos lagos os marrecos,
Nas lagoas os mergulhões,
Nos riachos o socos,
Nos mares a peixaria,
Nas lamas o muçum,
Nos minadouros o cururu,
Nos açudes os jabutis,
Nos buracos o tatu.


Leonardo Sampaio

Oh meu irmão

Estrela crescente de justiça
Luz irradiante que alumia
Fermento na massa oprimida
Sedenta de paz e amor
Segues com a luz que irradia
Para junto de uma massa ferida
Que vê esposos e irmãos na cadeia
Por imposição de um regime opressor.

Regime que de nós merece vaia,
Por isso lutaremos com fé
Para que ele um dia caia
Junto com os que não reconhecem
O filho de José,
Nem mesmo o plano do Pai, criador,
Este que nos dá força e esperança
De um dia cantarmos vitória
Afastando assim nossa dor.

Araguaia, te espera.
Vais!
Com a esperança de logo voltar
Aqui, continuaremos erguidos
Na luta por libertação
De todo esse povo sofrido
Que passa por perseguições
Deste regime poluído
Que mata de fome e opressão
Com a força dos tubarões.

A saudade que fica é imensa
Mas temos a certeza da opção
Entendemos o chamado de Deus
Para junto desses nossos irmãos
Que vivem um clima de tenção
Na luta por um pedaço de chão.

Leonardo Furtado Sampaio
Novembro / 83.

Carro de boi

Cabeçote, mesa, torno,
Eixo, sebo, roda, arco,
Pia alto, carga e areia,
Canga, correia, chifre,
Cabeçote puxando,
Chibata, corrente,
Vara, ferrão.
Carreiro cutuca quatro,
Quatro tudo carrega.

Leonardo Sampaio













O carro de boi e modernidade

No sertão os fazendeiros
Que não tinha carro de boi,
É porque não tinha dinheiro,
Ou desse mundo já se foi,
Só que hoje tudo é moderno,
É caminhão ou caminhonete,
Petróleo virando fumaça,,
Cavalo virando chevete.

Tudo ficando mais caro,
Na roça do agricultor,
O povo passando fome,
E a fumaça sai do trator.

O facão cortando cana,
A enxada já encostou,
A barriga seca de fome,
A foice já aposentou,
O machado não corta mais,
O enxadeco também não arranca,
Da terra, o boi é dono,
E para o homem nada ficou.

Leonardo Sampaio

A galinha e a exportação

Quando lia istorinhas
Da galinha do ovo de ouro
Imaginava que era lenda
Mas agora percebi a venda
E só faltam venderem o couro.

Até mesmo a inflação
Faz galinha botar ovo
Pra essa tal de exportação
Parece até que galinha
Esta virando petróleo novo.

Dizem os economistas
Que para poder pagar os juros
Da nossa dívida externa
A galinha vai dar duro
E tem que abrir as pernas.

A situação está assim
É preciso virarmos galo
E descermos do poleiro
Porque assim eu não me calo,
Pra vigiar o poleiro.

Conhecemos o patrão
E a furna que fica
La granja do torto
Com a tal de classe rica
Pra botar no nosso lorto.

Leonardo Sampaio

A praia

Desfilando entre grãos
De pedrinhas brancas do mar
Apreciando a beleza
Do sol, do dia e da noite o luar,
Corpos bronzeados,
As noites casais a se amar,
É o encontro do ser com a natureza,
Onde ali procuram descansar,
Em meio aos movimentos das águas
Lábios encontram a se beijar
Como a espuma das águas na areia,
Que sobem e retornam de vagar
E o frio da brisa levanta
E a terra volta a esfriar
Com a brisa que o vento açoita
A terra passa a molhar,
E no orvalho o verde das plantas
E do mar a água evaporar,
Formando nuvens cheias
Que se purificam com a química do ar,
Assim, é o mar, é a praia, é a vida,
É a liberdade almejada do homem,
E na luta procuramos saídas.

Leonardo Sampaio

A chuva

A chuva é de extrema utilidade para os seres vivos.
Pois quase que todos corpos vivos, tem grande quantidade de água.
Essa água é absolvida pela terra,
Evaporada em gotas,
Até formar nuvens,
E as mesmas dissolverem e chuvas.
Voltando assim ao solo,
Enriquecendo novas vidas,
Enchendo rios, e barragens,
Criando novas paisagens,
Para a natureza,
Conservando o verde das plantas.

Leonardo Sampaio

Políticos

Os políticos deste país,
Não são flores nem botões,
Andam mesmo de fuzis,
Matam todas multidões.

Falando abrem veredas,
Quando estão em campanha
Fazem do povo uma seda
Como casa de aranha.

Neles eu sempre noto,
Que só vêem a pobreza
Quando precisam do voto
Pra viverem na nobreza.

Em discursos são sem defeitos
Dizem até que acabam a fome
Mas quando estão eleitos,
Não vemos mais os seus nomes.

Com seus verbos e pronomes,
A fome vai criar assas
Mas o povo que a fome,
Só voa das suas casas.

Leonardo Sampaio


O deus do egoísmo

É o deus do dinheiro
Que me leva e traz,
É o deus do egoísmo
Que me faz ter mais,
É o deus do poder,
Que me leva aos anais,
É com estes deuses juntos,
Que o homem vira satanás.

Leonardo Sampaio





O coração

O coração é uma casa
Onde reside o amor
Amor ardente em brasa.
A lá que mora a alegria e a dor,

No tic-tac da pulsão
O tic contrai liberdade,
O tac expulsa opressão,
O tic liberta o amor
O tac oprime na dor.

Fica no homem a vaidade,
E esquece o tic de Deus,
Expressa-se na vontade
Do poder e do egoísmo,
Deixando para traz o batismo,
E abraçando o tac dos fariseus.

Assim é os fariseus do nosso tempo,
O que levam no coração,
Citando como exemplo,
O prazer, o sexo e a sensação,
Do dinheiro e do poder,
Sem olhar quem vai sofrer.

Leonardo Sampaio